domingo, 14 de dezembro de 2008

Quem paga a crise?

O sinal que veio da Aula Magna e de Manuel Alegre terá mais efeito mediático, mas é um erro tentar circunscrevê-lo àquele forum e a este protagonista. O diagnóstico da crise feito para Comissão Europeia e pelos governos europeus só aparentemente é consensual. Como escreveu ontem Manuel Maria Carrilho, baseia-se num conjunto de dogmas que a globalização consagrou que podem vir a tornar-se fortemente questionados. Por enquanto, a divergência parece ter sido assumida apenas por alguns cientistas sociais, mas não é crível que não se amplie e mobilize mais profundamente o sector intelectual. É por outro lado evidente que o caminho escolhido pelo establishment, de abertura do sector público aos privados e de garantia pública à finança privada, terá um impacte porventura insuportável sobre o futuro. A dívida que garante a dívida que garante a dívida é um mecanismo corrosivo, não apenas do salário e da produção, mas da ética em que assentámos a legitimidade do Estado e fundámos a democracia. Em suma: a agenda política mediática pode entrar em colisão com uma agenda política cidadã. Provavelmente o eco das palavras de Manuel Alegre é um sintoma disso mesmo. Malgré lui.

7 comentários:

Anónimo disse...

Apetecia-me ter esperança, mas algo me diz que que tem razão. O que nos resta? Um grande vazio a preencher.
-Isabel X -

João Ramos Franco disse...

O efeito mediático torna-se muitas vezes perigoso porque dá ás palavras um sentido que na maioria casos não é aquele com que foram ditas.
João Ramos Franco

Anónimo disse...

Não sei como você ainda tem paciência para Manuel Alegre com aquela troupe de bloquistas atrás, pendurada na aba do casaco. Está muito inquieto porque o Eng.º Sócrates, depois de lhe ter oferecido a cabeça do Correia de Campos, tem resistido a entregar-lhe agora a da Maria de Lurdes Rodrigues. Tirando isso, diz sempre as mesmas coisas. Não creio que dali venha nenhuma ideia realmente nova, nenhum contributo útil para renovar o PS, sequer a Democracia, muito menos o País.
MT

Anónimo disse...

Entre sessões de tiro-aos-pratos e pescarias de robalos na Foz do Arelho, a escrita de boa poesia e a ênfase de dono da resistência ao fascismo Manuel Alegre vai sendo utilizado como ameaça à Democracia made by Sócrates.
Contributos para o aprofundamento da Democracia nada.....vãs ameaças de passadismo de resistência...
Manuel Alegre rendeu-se à esquerda caviar, o Património que representa cinge-se à esquerda poética de intervenção.Só poeira, só poesia....nada mais....
JG

Anónimo disse...

Não sei o que se espera mais de Alegre neste momento,ele é já uma voz incómoda num partido amordaçado. Foi recentemente um combatente corajoso, e com um resultado digno, numa luta desigual.O homem é um (bom) poeta e publicou há pouco um (bom) livro. Aos 72 anos ainda tem que salvar esta esquerda,esta democracia e este país?
Não conheço os "Contributos para o aprofundamento da Democracia" de JG, mas aguardo com curiosidade a edição. Talvez com prefácio de MT, quem sabe? AA

Anónimo disse...

Respeitável poeta, excelente voz (não incomoda nada, antes pelo contrário) sem dúvida. Salvador? Da esquerda? Que disparate. Que me lembre nem "O "Século salvou quando esteve no Governo...
MT

Anónimo disse...

Apenas um pequeníssimo reparo a JG: "só poeira", tudo bem, mas "só poesia" é algo que me soa mal. A poesia, para mim, claro, é muito mais importante do que isto tudo!
- Isabel X -