quarta-feira, 31 de outubro de 2012

À janela de Georges Bracque

Georges Braque (1882-1963), Le salon ou Interieur. 1944

domingo, 21 de outubro de 2012

Memórias das Caldas da Rainha

Reedição facsimilada do livro de Augusto da Silva Carvalho, Memórias das Caldas da Rainha, 1484-1884, Lisboa, Férin, 1939 ontem apresentada no Centro Cultural e de Congressos, Caldas da Rainha.
Fotos cedidas por Blogue dos Antigos Alunos do Externato Ramalho Ortigão, e pelo editor, Eng.º Carlos Fernandes







sábado, 20 de outubro de 2012

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Manuel António Pina

Café do Molhe
Perguntavas-me
(ou talvez não tenhas sido
tu, mas só a ti naquele tempo eu ouvia)

porquê a poesia,
e não outra coisa qualquer:
a filosofia, o futebol, alguma mulher?
Eu não sabia

que a resposta estava
numa certa estrofe de
um certo poema de Frei Luis de Léon que Poe

(acho que era Poe)
conhecia de cor,
em castelhano e tudo.
Porém se o soubesse

de pouco me teria
então servido, ou de nada.
Porque estavas inclinada
de um modo tão perfeito

sobre a mesa
e o meu coração batia
tão infundadamente no teu peito
sob a tua blusa acesa

que tudo o que soubesse não saberia.
Hoje sei: escrevo
contra aquilo de que me lembro,
essa tarde parada, por exemplo.

Manuel António Pina, Poesia Reunida, Lisboa, Assirio & Alvim, 2001

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

terça-feira, 16 de outubro de 2012

Janelas fotográficas da colecção Life

10/1948 - Postwar Vienna (Vienna, Austria)
Viennese window shoppers looking longingly at pastries displayed in window of a bakery which they can not yet afford to buy in their postwar economy. 

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Janelas fotográficas da colecção Life

9/1945 - Jimmy Stewart Comes Home  (Indiana, PA, USA)
Uniformed actor Jimmy Stewart with his father, Alex, standing outside the family hardware store upon his return from World War II.

domingo, 14 de outubro de 2012

Janelas fotográficas da colecção Life

1/24/1943, Marrakesh, Morocco
US President Franklin Roosevelt sitting on wicker chair and looking out window as British PM Winston Churchill stands to his side facing camera, following Casablanca Conference during World War II.

sábado, 13 de outubro de 2012

A cidade, Guimarães, Europa, 2012

Apesar dos vestígios, dos sinais do tempo, a experiência de todos os dias parece contrariar tudo o que o conhecimento indica. A cidade surge-nos como se sempre tivesse sido assim, quando a sua dimensão, como o de todas as criações humanas, é a da história. É como se, quais operadores de “Photoshop”, sempre começássemos por ordenar “flatten image” (espalmar, aglomerar a imagem), ocultando os “layers” (planos, estratos) de que ela se compõe.
“Guimarães 2012” parte desta contradição, que enfrenta declinando os distintos modos e formas em que ela se desenrola. Se o papel da criação artística é, sumariamente, o de acrescentar novos elementos ao plano (“layer”) da contemporaneidade, ela também intervém na desocultação que possamos hoje fazer dos planos que o tempo comprimiu.
Os atenienses forjaram uma cidade de deuses para melhor pensar a cidade dos homens. De facto a sua cidade de deuses era uma cidade de filósofos, onde se discutia a dimensão, o governo e o destino da cidade. Mas os templos magníficos da Acrópole dispersaram referencias líticas pela cidade dos homens, como se, de cada ponto de observação da cidade alcandorada, os pensadores tivessem de dispor, em todos os quadrantes. de réplicas, ainda que incompletas ou menores, dos templos onde buscavam e exerciam a inspiração.
Ser capital europeia da cultural é para Guimarães uma oportunidade para actualizar o discurso “multi-layer” sobre a cidade, proporcionando um conjunto de conectores que permitem a todos, habitantes e visitantes, produtores e consumidores, descobrir ou redescobrir as temporalidades e as espacialidades, as construções e as descontruções de que se faz uma cidade.
Péricles, no famoso discurso de elogio fúnebre reelaborado por Tucídides, passa em revista todos os “layers” que faziam a singularidade de Atenas, metáfora da cidade ideal.
“Começo pelos nossos antepassados” – disse o orador. “É justo e adequado que, numa ocasião como esta, lhes seja dedicada a primeira menção. Foram eles que viveram neste país, sem interrupção, de geração em geração, e, graças ao seu valor, legaram-no livre aos que aqui vivem presentemente”.
Mas não esquece a geração precedente. “E se os nossos mais remotos antepassados são dignos de louvor, muito mais são os nossos pais, que acrescentaram à herança recebida o império que agora possuímos, não poupando sacrifícios para serem capazes de deixar as suas conquistas aos que, como nós, constituímos a presente geração”. E enumera em seguida as componentes essenciais da República de que justamente se orgulha a sua geração e pelos quais merece panegírico: a decisão pelo método democrático, a justiça igualitária, o livre acesso aos cargos públicos, a não profissionalização da actividade politica, a inviolabilidade da vida privada, a tolerância para com a diferença, o império da lei e a protecção dos oprimidos, o direito à educação, ao lazer e à cultura, o gosto pelo requinte sem extravagâncias, a abertura ao comércio externo e a aceitação do estrangeiro na respectiva diversidade cultural, o respeito pelos vencidos,
Péricles sabe que desta visão, desta grandeza, há testemunhos. A memória ficou corporizada na literatura e nas artes. “A admiração dos tempos presente e futuro ser-nos-á devida, uma vez que não deixámos o nosso poder sem testemunhos, antes os recordamos em grandiosos monumentos”. A eles acrescem todavia “uma memória não escrita que (...) permanece nos corações das suas gentes”.
Como não ver aqui, neste patriotismo da cidade, os traços da modernidade politica anunciada da Europa? Este é o desafio das gerações actuais. Honrar o passado, os passados, avaliar o futuro. É alias nessa capacidade de avaliação colectiva que reside para Péricles o segredo do modelo de governo ateniense.
“Nós atenienses, somos capazes de ajuizar todos os acontecimentos públicos e, em vez de considerarmos a discussão dos mesmos como um obstáculo para a acção, pensamos que ela constitui um passo preliminar indispensável a qualquer acção prudente”.

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Conselho

Viaje segundo um seu projecto próprio, dê mínimos ouvidos à facilidade dos itinerários cómodos e de rasto pisado, aceite enganar-se na estrada e voltar atrás, ou pelo contrário, persevere até inventar saídas desacostumadas para o mundo.

José Saramago,
Viagem a Portugal [Apresentação]


quinta-feira, 11 de outubro de 2012

À janela de Ikko Narahara

Ikko (Ikko Narahara, n. 1931), Window Number 2. 1956

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

À janela de Eric Randmark

Eric Randmark, Window Blinds. 1963

terça-feira, 9 de outubro de 2012

À janela de Thomas Bayrle

Thomas Bayrle (n. 1937) Window (Fenster). 1969

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

À janela de Christopher Knowles

Christopher Knowles (n. 1959), Untitled (Green Window), 1988

domingo, 7 de outubro de 2012

À janela de James Siena

James Siena (n. 1957), Constant Window, 1999

sábado, 6 de outubro de 2012

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

A japoneira do "meu" jardim

Hoje, pelas 15,30 horas.

Valparaíso

De Valparaiso, numa passagem de poucas horas, ficou-me a imagem de um porto ocupado por velhos cargueiros, uma avenida veloz ritmada por edifícios que ainda respiram o passado colonial, a montanha magnificente que desce em anfiteatro até ao mar ordenada como uma paisagem de socalcos, as ruas e escadas íngremes que ligam as plataformas urbanizadas, a singularidade das habitações que trepam os montes (cada casa é de facto um caso), a profusão incrível de cabos que amarram paredes pelas esquinas, o colorido de mil cores com que as sobras de tinta dos barcos permitiram vestir cada uma das casas, fachadas, portões, janelas, alpendres.
A voz arrastada de Neruda ainda se ouvia por ali.

Viajar

Viajar no mundo é também viajar no passado do mundo. É descobrirmos traços visíveis do passado, em presença de sítios os mais diversos, tanto monumentais como assinalados por humildes pedras. A cada etapa, o viajante é convidado a fazer-se historiador.

Jean Chesneaux, L'Art du Voyage. Paris, Bayard, 1999. p 101

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Ontem, Isla Negra e Valparaíso

Ontem acordei com a lembrança da Isla Negra e Valparaíso. Na Isla Negra, a casa de Neruda, vale, não pela presença do homem, pelo qual não consigo sentir simpatia, mas do poeta que cantou o amor de forma tão impressiva. A casa, preenchida pelo gosto duvidoso do diplomata, é intragável, mas o lugar possui uma beleza agreste que me envolveu.
Ao almoço daquele dia ensolarado em que visitei a região, fiquei ao lado de uma poetisa que na juventude bebeu do cálice do autor de Vinte poemas de amor e uma canção desesperada. Fiquei com a sensação de que aquela guardiã do templo dos amores nerudianos se tinha contemplado a si própria com o encargo de velar pela memória do poeta até ao fim da vida. Teria cumprido já pelo menos trinta anos dessa penitencia auto-imposta.
Aparentemente suscitei, sem merecimento (meu) de maior, a sua generosidade. E recebi das suas mãos pequenas um CD de capa artesanal onde guardava as gravações de alguns poemas de Neruda. "Pablo disse-os para mim", confidenciou-me, e eu nem por um momento duvidei. Aquela voz arrastada como uma lamúria era de facto do poeta.
Quanto a Valparaiso, fica para amanhã.


quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Desfeita a ficção do tempo

Publiquei aqui, há cerca de 3 anos, um poema de Idea Vilariño onde a descontinuação do amor é assimilada à interrupção da própria vida. Não te verei morrer, diz a autora: não serei tua companheira.

Ya no

Ya no será,
ya no viviremos juntos, no criaré a tu hijo
no coseré tu ropa, no te tendré de noche
no te besaré al irme, nunca sabrás quien fui
por qué me amaron otros.

No llegaré a saber por qué ni cómo, nunca
ni si era de verdad lo que dijiste que era,
ni quién fuiste, ni qué fui para ti
ni cómo hubiera sido vivir juntos,
querernos, esperarnos, estar.

Ya no soy más que yo para siempre y tú
Ya no serás para mí más que tú.
Ya no estás en un día futuro
no sabré dónde vives, con quién
ni si te acuerdas.

No me abrazarás nunca como esa noche, nunca.
No volveré a tocarte. No te veré morir.

Idea Vilariño



Num poema de juventude, Jorge Luís Borges, toca, de outra forma, o mesmo tema.

Amorosa antecipación

Ni la intimidad de tu frente clara como una fiesta 
ni la costumbre de tu cuerpo, aún misterioso y tácito y de niña, 
ni la sucesión de tu vida asumiendo palabras o silencios 
serán favor tan misterioso 
como el mirar tu sueño implicado 
en la vigilia de mis brazos. 
Virgen milagrosamente otra vez por la virtud absolutoria del sueño, 
quieta y resplandeciente como una dicha que la memoria elige, 
me darás esa orilla de tu vida que tú misma no tienes, 
Arrojado a quietud 
divisaré esa playa última de tu ser 
y te veré por vez primera, quizá, 
como Dios ha de verte, 
desbaratada la ficción del Tiempo 
sin el amor, sin mí.

Jorge Luís Borges

terça-feira, 2 de outubro de 2012

Pura dor

Não há choro mais desesperado que o de uma mãe. É o choro de uma alma quebrada.

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Registo

Comunicado

A notícia de que o Governo tenciona proceder à extinção da Fundação Cidade de Guimarães (FCG), a entidade sob cuja coordenação decorre neste momento a execução da Capital Europeia da Cultura, gerou dúvidas e inquietações a que importa dar imediata e clarificadora resposta.

O programa da Capital Europeia da Cultura (CEC), delineado e aprovado em 2010 e 2011, respectivamente, encontra-se em plena execução neste ano de 2012, o que significa que existirão projectos que só se encontrarão completamente executados e encerrados em 2013. Só em 2013 estará concluído o respectivo processo de monitorização e avaliação de resultados.

Recorde-se que a Fundação Cidade de Guimarães – a entidade criada pelo Governo português e pela Câmara Municipal de Guimarães para coordenar aquele programa – foi instituída por Decreto-Lei em Setembro de 2009, com um horizonte de vida máximo de seis anos, e que foi o actual Conselho de Administração, empossado há um ano, que propôs então publicamente a cessão de funções no ano de 2013, assim que estivesse cumprida a missão da elaboração dos relatórios e a aprovação das contas da CEC. Neste sentido, não se entende o juízo de oportunidade que justifica que, neste momento, seja anunciada uma decisão que só em 2013 poderá ser posta em prática.

Esta intenção, de facto, não pode efectivar-se de imediato, pois a responsabilidade internacional assumida pelo Estado Português não está concluída e o programa da CEC, aprovado pelas instâncias nacionais e internacionais competentes, não foi ainda realizado na totalidade. À Fundação Cidade de Guimarães compete pois, responsavelmente, zelar pelo cumprimento desse compromisso que todos devemos honrar.

Refira-se ainda que o financiamento do programa artístico e cultural da CEC é assegurado em 70 por cento por fundos comunitários, de acordo com uma contratualização há muito aprovada, pelo que neste momento ele se encontra em plena e normal execução.

A antecipação dessa decisão parece ter sido baseada nos resultados de um inquérito às Fundações. Mas como, em devido tempo, referimos, o resultado do inquérito à FCG não pode ser validado, pois incidiu sobre a composição e actividade da instituição nos anos de 2009 e de 2010, quando o essencial da acção da mesma Fundação ocorre em 2012.

Finalmente, também não colhe o possível argumento do corte de despesas, pois em 2013 a actividade da Fundação não obriga à assunção de novos compromissos que envolvam o Orçamento do Estado.

A Fundação Cidade de Guimarães tem dois fundadores: o Estado, representado pela Secretaria de Estado da Cultura, e a Câmara Municipal de Guimarães. Ambos subscreveram o respectivo capital fundacional, na proporção concertada. Qualquer decisão sobre o destino desta Fundação não se compreende que não seja partilhado entre ambos os fundadores. O anúncio da decisão de extinção da Fundação Cidade de Guimarães é por isso extemporâneo, carece de fundamento e não produz neste momento nenhum resultado útil.

A FCG, como lhe compete, continuará a assegurar a efectivação do programa da Capital Europeia da Cultura e o diálogo institucional que lhe permitirá atingir os fins que o Estado português subscreveu no quadro de um compromisso com a Comissão Europeia. Cumpridos estes objectivos, o futuro da Fundação Cidade de Guimarães será, em 2013, decidido por quem tem legitimidade para o fazer, avaliado o seu desempenho e absorvido o legado resultante do cumprimento da sua missão.

O Conselho de Administração
da Fundação Cidade de Guimarães

Guimarães, 26 de Setembro de 2012