terça-feira, 30 de dezembro de 2008

O musgo é lento como a sombra

Poema (I) para a noite invariável

Posso estar aqui
eu posso estar aqui perfeitamente pobre
um círio me acendi espora aguda
o vento ritmo negro assassinou-o

posso estar aqui
- o musgo é lento como a sombra - 
e sei de cor a voz cega das canções
(viola de silêncio acorda-me)

que eu posso estar aqui perfeitamente pedra
insone
e um longo segredo impessoal
bordando a minha solidão

Luiza Neto Jorge

Quinze Poetas Portugueses do Século XX. Selecção e prefácio de Gastão Cruz. Lisboa, Assirio & Alvim, 2004. p. 439.

3 comentários:

Anónimo disse...

A Curva dos Teus Olhos

A curva dos teus olhos dá a volta ao meu peito
É uma dança de roda e de doçura.
Berço nocturno e auréola do tempo,
Se já não sei tudo o que vivi
É que os teus olhos não me viram sempre.

Folhas do dia e musgos do orvalho,
Hastes de brisas, sorrisos de perfume,
Asas de luz cobrindo o mundo inteiro,
Barcos de céu e barcos do mar,
Caçadores dos sons e nascentes das cores.

Perfume esparso de um manancial de auroras
Abandonado sobre a palha dos astros,
Como o dia depende da inocência
O mundo inteiro depende dos teus olhos
E todo o meu sangue corre no teu olhar.

Paul Eluard, in "Algumas das Palavras"
Tradução de António Ramos Rosa

Anónimo disse...

Verdadeira música este poema! Não é por acaso, com certeza, que logo a seguir alguém toca ocarina!
-Isabel X -

Anónimo disse...

O tempo é rápido
como a luz....
JG