terça-feira, 30 de dezembro de 2008

A hora da política (VI)

O Presidente não se limitou a criticar o novo dispositivo jurídico-constitucional agora adoptado para o estatuto dos Açores. O Presidente não se limitou a discordar da solução política que a Assembleia da República impôs no diferendo entre os dois órgãos da República.
O Presidente considerou afectados o relacionamento entre os órgãos, o que se compreende, e discordou do novo texto legal, o que se justifica. Mas foi muito mais longe.
Considerou o incidente um sério revés para a qualidade da democracia e afirmou que estava em causa o interesse nacional.
Ora estes são exactamente os critérios políticos decisivos da acção presidencial: a qualidade da democracia e o interesse nacional. Ao Presidente cabe interpretar e garantir uma e outro.
O Presidente afastou-se desta República.
A declaração política do Presidente não poderá deixar de ter mais consequências do que a generalidade dos comentadores admitiu ontem.
A começar pelas consequências sobre opções do Professor Cavaco e Silva.

2 comentários:

João Ramos Franco disse...

Concordo com a visão que apresentas do discurso do Presidente. Se a realidade fosse outra, e não estivesse também em causa a gestão da crise nacional perante o contexto internacional, penso que as “consequências sobre opções do Professor Cavaco e Silva” poderiam ser maiores. O assunto dos Açores é coma uma corda com um nó cego e creio que cortar a corda neste momento, não seja opção, as consequências para o País seriam ainda piores.
João Ramos Franco

J J disse...

Concordo com a generalidade das observações que o autor faz no artigo, excepto uma: "O Presidente afastou-se desta República."
Não sou, nunca fui, um apoiante ou votante de Cavaco Silva. Mas não posso deixar de estar de acordo com ele nesta circunstância porque, como bem disse o Dr. Jorge Miranda, tem que terminar a subserviência do poder central perante as regiões autónomas. Os complexos coloniais são um fantasma ultrapassado (ou não?).
Não fosse a incompreensível trapalhada que foi a actuação do PSD e poderia estar aqui um escolho para Sócrates. Assim, com Cavaco sozinho, tudo será, talvez, mais fácil.
Mas Cavaco não está mais longe desta República, esta República é que está cada vez mais perto de uma (má) opereta bufa. Onde abundam as bananas.