domingo, 30 de maio de 2010

O século XX de Henri Cartier-Bresson

No Moma, até 28 de Junho. Aqui, uma breve visita virtual a esta exposição de um dos fotógrafos mais importantes do século que passou.
Abril de 1945, Dessau (Germany)

sábado, 29 de maio de 2010

À janela de Lise Sarfati








Sobre Lise Sarfati, ver biografia aqui.

sexta-feira, 28 de maio de 2010

O PS e os presidenciáveis

Se há partido que sempre teve dificuldades com as candidaturas presidenciais foi o PS. Eanes,  Otelo, ou Pinheiro de Azevedo, em 1976? Eanes ou Soares Carneiro, em 1981? Soares, Zenha ou Pintasilgo, em 1986? Sampaio ou Fernando Gomes, em 1996? Alegre ou Soares em 2006?

quinta-feira, 27 de maio de 2010

O verdadeiro desafio

Para Mourinho é jogar (bom)  futebol ou ganhar o campeonato?

quarta-feira, 26 de maio de 2010

De todas as ilusões contemporâneas...

Mas de todas as ilusões contemporâneas, a mais perigosa é a que sustenta e explica todas as outras. E essa ideia é a de que vivemos numa época sem precedentes: que o que nos está a acontecer é novo e irreversível e que o passado nada tem a ensinar-nos... excepto quando se trata de o pilhar em busca de precedentes convenientes.
[...] Esta temeridade talvez seja mais fácil de vender num país como os Estado Unidos - que venera o seu próprio passado mas presta insuficiente atenção à história do resto da humanidade - do que na Europa, onde era difícil, até há pouco tempo, passar ao lado do preço dos erros passados e da manifesta evidência das suas consequências. Mas mesmo na Europa, uma nova geração de cidadãos e políticos está cada vez mais esquecida da história.


Tony Judt, O Século XX Esquecido. Lugares e Memórias. Lisboa. Edições 70, 2009. p. 30.

terça-feira, 25 de maio de 2010

Curiosa escolha

A escolha da selecção de Cabo Verde para realizar um jogo de preparação para um campeonato mundial que se realiza na África do Sul é o resultado certamente de um elaborado plano dos responsáveis pelo futebol português.

De hoje a uma semana, no CCC

Mais informações sobre esta iniciativa da ESAD, aqui.

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Forum internacional de Gestão Artística e Cultural, de 28 a 31 de Maio, em Viana do Castelo

Mais informação sobre este Forum que vai ter lugar em Viana do Castelo, aqui.

António Borges Coelho e Álvaro Siza Vieira no Forte de Peniche





De novo, o destino da Fortaleza de Peniche

Primeiro é preciso que se reconheça: o comportamento que, desde 25 de Setembro de 2008, têm tido a Enatur e o Turismo de Portugal, não tem sido claro nem responsável. A Enatur não tomou nenhuma medida conducente à concretização do protocolo adicional que foi celebrado nesse dia, pelo qual o Estado autorizava a concessionária a elevar o número de quartos do projecto hoteleiro a instalar na Fortaleza. Repito, nenhuma medida: não encetou audições com a Câmara, não solicitou elementos, não indicou equipa de projectistas. Não disse nem que sim, que ia a avançar para dar cumprimento ao que tinha assinado, nem que não, que estava a ponderar desistir dessa intenção. O Estado, que é proprietário do monumento, que tem responsabilidade política e ética na sua preservação, também não fez mais nada que não seja oferecer à Enatur a possibilidade de fazer uma Pousada de 34 quartos e mais tarde de elevar esse número para um quantitativo não determinado. Não cuidou de saber sequer se o protocolo estava a ter execução e em que condições, não respondeu às solicitações do município para que o ajudasse a intervir positivamente no processo. Não deu sinais de entender a magna sensibilidade e delicadeza de um lugar de memória único no País e sem dúvida dos mais significativos do século XX português. Nem mesmo quando, em Outubro de 2008, o destino da Fortaleza foi palco de alguma mediatização, por via de uma polémica lançada com menos rigor. Nessa altra tentou escapar entre os pingos da chuva. Procurou endossar o assunto para a autarquia. Demitiu-se.
Julgo que interpreto bem o estado de espírito do Presidente e autarcas de Peniche e da equipa que com eles tem debatido este tema: não é possível prolongar mais esta situação pantanosa. Ontem começou de novo o debate, oportuno e responsável. Não podemos continuar a assistir, de braços cruzados, à degradação do monumento, à indefinição do seu destino, ao bloqueio dos projectos que sobre ele possam ser erguidos.

domingo, 23 de maio de 2010

Vencer em Madrid



Bordalo, Relvas e as Jarras

Nicolau Borges fez no seu blogue um resumo-comentário da minha apresentação. A Gazeta das Caldas publicou uma reportagem sobre o mesmo acontecimento assinada por José Luis Almeida e Silva. Grato a ambos.

sábado, 22 de maio de 2010

Para a Isabel Castanheira

Não consigo imaginar a vida sem livros, as Caldas sem a Livraria Loja 107 e sem a Isabel. Agora que ela celebra 34 anos de partilha de leituras, de iniciativas inovadoras e generosas, de mobilização de amizades e saberes, de distribuição de afectos (com algumas criticas à mistura) e presença permanente na cidade, aqui fica a minha gratidão, os meus parabéns. A prenda simbólica é esta assinatura em forma de gata que se encontra na base da jarra Beethoven, nos Patudos.

Busca do sentido

A convite da Presidente da ADLEI, ontem em Leiria, li este pequeno texto sobre o conferencista convidado, o Professor José Mattoso:
“Raramente começo uma palestra, grande ou pequena, sem perguntar que direito tenho a falar do assunto que me foi atribuído. Hoje, mais do que nunca”.
Assim iniciou o Professor José Mattoso a sua conferência inaugural do Colóquio “A Intimidade na Arte”, no Conservatório de Lisboa, em Outubro de 1987 (A Escrita da História. Teoria e Métodos, Lisboa, Estampa, 1997, p. 209). Eu poderia agora continuar, parafraseando o que em seguida ele então disse: “Realmente sinto-me com algum direito a falar de história, e de alguns historiadores, sobretudo de história contemporânea, mas não me ocorreria apresentar, por minha própria iniciativa, o Professor José Mattoso, por me faltar saber e arte e, sobretudo, escala para esse efeito.
Aceitei no entanto o convite que me foi endereçado pela Senhora Presidente da ADLEI, Dr.ª Anabela Graça, porque permitiu associar-me a uma homenagem que sinto como um dever, a uma oportunidade de prestar reconhecimento público a alguém que marcou profundamente a minha geração, na sua relação com a historiografia, nomeadamente a historiografia da Idade Média, e até com a história.
Passo portanto ao sumaríssimo enunciado das razões que aqui me trouxeram.
1.
Não fui aluno do Professor José Mattoso que iniciou a sua carreira académica na Universidade portuguesa em 1971, já com o seu doutoramento realizado (Lovaina, 1966), como professor auxiliar na Faculdade de Letras. Sucede que, tendo eu concluído o meu bacharelato em História no ano anterior, iniciei de imediato a actividade docente no ensino secundário, em Castelo Branco. Mas no ano de 1971, regressado a Lisboa, retomei os estudos para conclusão da licenciatura (então de 5 anos) e comecei a ouvir falar do novo professor de Idade Média, alguém que deixara recentemente a vida monástica (motivo de natural curiosidade na época) e que impressionava os seus alunos pela novidade dos temas e das abordagens que propunha. Nos anos seguintes, professor de história no Liceu do Padre António Vieira, acompanhei de perto a entrada na Faculdade de jovens estudantes que vieram a ser alunos do Professor Mattoso e alguns mesmo, mais tarde, seus colaboradores próximos, como o Doutor Bernardo Vasconcelos e Sousa. Fui desta forma tendo noticia da renovação que as aulas e as investigações do Professor José Mattoso introduziam na História Medieval e no ensino e metodologia da História.
Conhecera bem o ambiente em que decorrera o fim da longa hegemonia que sobre os estudos medievais exercera a Professora Virgínia Rau na Faculdade de Letras de Lisboa e os primeiros sinais de mudança de perspectiva que se podiam adivinhar nas suas jovens assistentes à época, as Dr.as Maria José Ferro e Iria Gonçalves.
As notícias indirectas que me chegaram enquadravam o Professor Mattoso no campo da “Nova História”, uma corrente que, vincando as exigências do rigor abonadas pelo método científico, não as reduzia nem à problemática, nem aos cânones da história económica dos anos 60 e da história demográfica dos anos 70. Ampliava os temas, integrando áreas até então vedadas aos historiadores, e sobretudo convocava aquilo a que o próprio José Mattoso designou por “um sentido da totalidade e uma espécie de capacidade de comunhão com a matéria histórica no seu conjunto”. Era esse sentido, ou a busca dele, que permitiria ao historiador ultrapassar os limites da capacidade analítica e avançar na “descoberta dos indícios significativos e das estruturas profundas” (A Escrita... p. 49).
No final da década de 1970, entretanto, eu próprio ingressei no corpo docente da Faculdade de Letras, mas já não encontrei aí nem o Professor Mattoso, nem aquelas antigas assistentes da Professora Virgínia Rau. Tinham todos migrado para a Universidade Nova de Lisboa, onde o Professor José Mattoso porventura encontrou ambiente intelectual mais estimulante e mais propício ao seu magistério. Durou exactamente 4 anos esta minha segunda passagem pela escola onde me formei. Nenhum dos meus amigos, assistentes como eu, nessa transição academicamente tumultuosa dos anos 70 para 80 resistiu ali. Recordo aqui alguns nomes: o saudoso Rui Rocha, Fernando António Baptista Pereira, Hamilton Costa, José Manuel Sobral, Arnaldo Pereira, José Baginha, Cláudio Torres, que se viram forçados a retomar carreiras profissionais, académicas ou não, noutras paragens.
Foi nessa década de 80 que o Professor José Mattoso iniciou a publicação sistemática dos seus estudos e ensaios históricos. O papel da Estampa foi decisivo, graças a esse editor singular chamado António Carlos Manso Pinheiro – casado com uma Professora de História da Universidade Nova, a saudosa Ana Maria Alves – que na colecção “Histórias de Portugal”da ediora se encarregou de divulgar junto do grande público a obra de José Mattoso.
Pude então tomar contacto mais directo com o trabalho aturado do medievalista, assente numa investigação proficiente e dedicada, e aperceber-me melhor da sua originalidade.
José Mattoso não se escusava a submeter a reanálise nenhuma das grandes problemáticas que a historiografia pensava ter resolvido ou simplesmente arrumado: a nacionalidade, o feudalismo, a passagem de uma sociedade de ordens a uma sociedade de classes. Sem ignorar o marxismo e o contributo dos historiadores marxistas, ele trazia à nossa História uma liberdade intelectual e uma imaginação conceptual sem paralelo. A sua abordagem à história era fundada numa experiência pessoal, onde a consciência do sagrado jogara um papel fundamental, e numa cultura científica, literária e artística invulgares. O abandono da clausura, se não representou uma ruptura com a necessidade pessoal de uma reflexão interior em ambiente protegido e de recolhimento, teve um efeito de abertura a outras experiências do mundo e da sociedade, que enriqueceu certamente a visão humana do historiador.
Historiador do tempo longo, ele mostrava ser também tributário dos “tempos interessantes” (para usar uma expressão do historiador Hobsbawm) em que o seu autor se formara. A obra de José Mattoso falava também do seu tempo, pelo menos num duplo registo.
O primeiro é o do cruzamento de saberes, práticas e inspiração de origens diversas – as ciências sociais, a viagem e o território, a alteridade. O segundo é o do papel da história que preenche não apenas o espaço íntimo da procura da verdade, como o espaço público da compreensão da nossa identidade histórica e da passagem de testemunho para os quem vêm a seguir a nós.
A sua obra enuncia a intenção de corresponder ao “propósito dos leitores das obras de história” que “buscam instintivamente uma resposta para as interrogações do Homem acerca de si mesmo”. Perseguia a “impossível exigência que o historiador tenta, em última análise, impor-se a si próprio”, a de “associar a atitude existencial perante o passado da Humanidade com a descoberta do peso da História na sua própria vida e na sociedade de que faz parte, com a habilidade possível na busca de indícios significativos impresso na matéria, e ainda com o recurso à disciplina científica para os associar e interpretar” (A Escrita...p.42).
O marco fundamental da inscrição da nova história de José Mattoso no nosso tempo foi a publicação em 1985, dos dois volumes de Identificação de um País. Ensaio sobre as Origens de Portugal. Passados 25 anos sobre a edição desta obra, podemos dizer que ela é não apenas uma referência cimeira da nossa grande historiografia, como uma das peças mais proeminentes da criação intelectual portuguesa do século XX. O espaço e o tempo, as categorias sociais, as hierarquias e funções sociais, os modos de produção e as actividades económicas, o poder, o Estado, as ideologias, os corpos institucionais, a tecnologia, a demografia, a cultura: temas e problemas tratados de forma sólida e inovadora que permitiu ao nosso tempo tentar perceber o que o antecedeu. Oposição, composição, identidade, conceitos nunca antes usados para redescobrir as raízes de um espaço habitado que os homens convictamente tomam como seu e onde jogam o seu destino colectivo. O Ensaio sobre as Origens de José Mattoso devolvia-nos um “património próprio” partilhável por todos nós, cidadãos.
2.
Aproximo-me agora de uma outra dimensão da actividade do Professor José Mattoso, exercida num contexto que, aliás, me facultou o seu contacto pessoal.
Conheci-o em 1981, em reuniões preparatórias do que veio a ser a Associação de Professores de História, uma organização que trouxe aos professores, sobretudo os do ensino básico e secundário, instrumentos fundamentais de reflexão e de afirmação do lugar específico e insubstituível da história no sistema escolar. José Mattoso acompanhou com particular – e para mim inesperado – empenho a constituição da nova associação e os seus primeiros passos.
Também lembro, a propósito, que a figura de José Mattoso está na origem do CEPAE, na altura designado Centro do Património da Alta Estremadura, em 1993. Coube-lhe apresentar, em reunião convocada pela ADLEI, a justificação deste projecto que visava, em última análise, o estudo e promoão do património material e imaterial da região que tem por centro a cidade onde nasceu: Leiria.
Na mesma ordem de preocupações está o papel institucional que aceitou desempenhar à frente dos Arquivos Nacionais entre 1988-1990 e 1996-1998. Com intuito similar não hesitou em rumar a Timor Leste em 2002, onde tentou ajudar na preservação do património documental daquele novo pais.
O cidadão também esteve presente em momentos politicamente relevantes, como quando o Presidente Mário Soares patrocinou o Congresso “Portugal Que Futuro” (1994) ou quando tomou posição pública sobre o referendo relativo à interrupção voluntária da gravidez (2007).
Mas a intervenção cívica do Professor José Mattoso que mais gostaria aqui de destacar é a que respeita ao apoio e colaboração que tem prestado a Cláudio Torres e ao Campo Arqueológico de Mértola. Não se trata apenas do reconhecimento do valor intelectual de Cláudio Torres (um dos da minha geração que não teve condições para fazer carreira na Faculdade de Letras de Lisboa) – que José Mattoso lembrou no acto de atribuição do doutoramento honoris causa pela Universidade de Évora em finais de 2001 - mas da percepção da importância cultural do trabalho de preservação patrimonial e do seu papel na vida das comunidades.
3.
A história está hoje perante novos desafios. A hipermodernidade, para usar uma palavra do sociólogo François Ascher, instaurou o desconforto face ao futuro. Mas a tirania do presente também arrasta dificuldades em lidar com o passado.
Como referiu na semana passada em Serralves, Daniel Inerarity, as sociedades tradicionais não tinham dúvidas em antecipar o futuro: o futuro seria sempre em larga medida uma continuação do passado. Ora foi exactamente essa convicção que se degradou, avolumando a insegurança e a incerteza.
Mas a nossa relação com o passado também sofreu transformações. Se o presente cavalga o tempo, numa passada quase vertiginosa, temos cada vez mais dificuldade em reivindicar um passado comum e partihar uma identidade colectiva.
Tony Judt fala disso mesmo, relativamente do século passado, neste seu admirável livro O século XX Esquecido. Mas o mesmo pode ser dito do passado mais longínquo. A fragmentação das memórias, a sua ultrapassagem rápida, criou a ideia que aquele historiador considera a mais nefasta, a de que vivemos uma era sem precedentes, a de que a história perdeu a última – a única? – razão de ser, a de nos proporcionar um fio de continuidade com o passado. Os esforços de recuperar uma historia narrativa, que é hoje aliás feita de uma multiplicidade de narrativas, aí está para o demonstrar.
Marc Augé, num livro significativamente intitulado Le Temps entre Ruines, mostrou que a nossa obsessão com o património é a consequência do fim do tempo que originava ruínas. Já não fazemos ruínas (e por isso musealizamos tudo), produzimos destruição (estaleiros, vazios, espaços desconstruídos), numa espécie de antevisão sinistra do futuro.
À história é um elemento fundamental da procura das interrogações sobre o homem. O que “o passado pode realmente ajudar-nos a compreender” é “a complexidade perene das perguntas”, escreveu Judt (O Século XX Esquecido. Lugares e Memórias. Lisboa, Edições 70, 2009 p. 33). José Mattoso designou, como vimos a busca do passado, como uma “busca do sentido”.
A sua obra cumpre com brilho, elegância, profundidade e pertinência únicas o desejo que enuncia no Prefácio de “Naquele tempo”:
“Desejaria que as minhas explorações do passado não fossem viagens a um reino de sombras, nem mitificação de factos pretensamente privilegiados, mas revelação do que sempre de novo existe no passado, do que sempre de novo o traz até nós, do que sempre de novo nos impulsiona no presente. Do que sempre de novo deveríamos transmitir a quem vier depois” (Naquele Tempo. Ensaios de História Medieval, Lisboa,Temas e Debates, 2009, p.8).

sexta-feira, 21 de maio de 2010

Molduras



Fotos de Margarida Araújo (22 Abril 2010)

quinta-feira, 20 de maio de 2010

A lâmpada

Uma lâmpada cheia de azeite vangloriava-se,
uma noite, perante os que passavam ao pé de si,
que era superior à estrela da manhã,
pois projectava uma luz mais forte que todas.
De repente, sacudida por um sopro de vento
que se levantou, apagou-se. Alguém, que a reacendeu,
disse-lhe: "Brilha, mas deixa-te estar calada, ó lâmpada;
a luz dos astros, essa, não morre".
Bábrio

Antologia da Poesia Grega Clássica. Tradução e notas de Albano Martins.
Lisboa, Portugália Editora, 2009. p. 465.

quarta-feira, 19 de maio de 2010

25 fotógrafos

Editado pelo Centro do Património da Estremadura (CEPAE), o livro Sensibilidades 25: Fotografia agrupa 3 ou 4 imagens de 25 autores que têm em comum terem nascido ou vivido no distrito de Leiria. O critério territorial - o único que se consegue descortinar - não se mostra pertinente. Se o objectivo era evidenciar a existência de um património comum - de geração, de referência estética, de temática, de reflexão teórica - não foi atingido. Sem consistência de projecto, o livro resultante da iniciativa é de um amadorismo inaceitável. Os trabalhos surgem sem qualquer ficha de acompanhamento, sem data, sem local, sem título e as próprias fichas de autor não obedecem a critérios comuns, mais parecendo que se adoptou o expediente de publicar o que cada um escreveu sobre si próprio. Os ensaios introdutórios são pobres na explicação e nada adiantam sobre o fio que supostamente juntou estes fotógrafos.
Restam as fotografias, algumas boas surpresas, salvas do naufrágio do livro. Espero que o Cepae pondere estas questões em novos projectos deste tipo e que aos autores sejam proporcionadas condições para o desenvolvimento de projectos individuais ou colectivos com articulação consistente.
Margarida Araujo, Sensibilidades 25: Fotografia. p. 61

terça-feira, 18 de maio de 2010

Hotel Lisbonense em 1908

O Hotel Lisbonense (recordado por Isabel Xavier a 15 de Maio passado) em fotografia do Verão de 1908, no momento dos preparativos para uma burricada. Ilustração Portuguesa, edição de 12 de Outubro de 1908.

O problema principal

Daniel Innerarity, ontem em Serralves, no primeiro Mota-Engil Meeting (tema: Cidades PreVisiveis, com moderação de Carlos Magno e intervenção de Tom Fleming): "O futuro é o maior problema da sociedade contemporânea".
Para D. Innerarity estamos tão centrados no presente que nos distraimos do futuro, deixamos de saber lidar com ele, vivemos à custa do poder sobre o agora. Parasitamos o futuro, expropriamo-lo. Os interesses do futuro estão de tal modo fragilizados e tão debilmente representados na sociedade contemporânea que perderam toda a influencia na agenda política.

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Gestão de crise

Se a gestão da crise é cada sobretudo uma gestão da decepção, o Primeiro Ministro tem tido dificuldade em encontrar o registo certo. O seu evidente voluntarismo não esconde um défice de discurso, ou aquilo a que chamei um discurso que remeta para um mínimo de reflexividade que permita a todos perceber o que correu mal e o que podemos ainda fazer pelos nossos próprios meios. Parece incongruente, no mínimo, impor aos portugueses sacrifícios por erros e males que vem exclusivamente de fora e cujos resultados são envolvidos numa retórica gasta e duvidosa.
Francisco Sarsfield Cabral, um comentador político moderado e com uma longa carreira de observação e conselho perspicazes, é demolidor hoje no Público.
O comportamento errático do primeiro-ministro, reagindo com atraso e a reboque dos acontecimentos, em vez de os antecipar, tem desde há muito um efeito nefasto na opinião pública. Não lhe transmitindo uma ideia realista da gravidade da situação, não a prepara para os inevitáveis sacrifícios. Falta explicar às pessoas os problemas do país, com verdade e sem cenários cor-de-rosa, ou seja, as autênticas razões da austeridade.
Os mercados também reparam no optimismo de Sócrates. Eles vêm os gregos reagirem violentamente contra a austeridade, em parte porque o seu anterior governo não apenas manipulou as estatísticas enviadas a Bruxelas como enganou o próprio povo, fazendo-o crer que podia viver como se fosse rico, ao mesmo tempo que as exportações gregas perdiam competitividade, estando já excluída a desvalorização da moeda. Tal como cá.
O Governo escondeu a crise estrutural portuguesa, em particular o défice externo (assunto para ele tabu), com a crise internacional, culpa dos outros. Depois, atribuiu as responsabilidades pelo actual aperto aos especuladores, como se não se soubesse que Portugal gasta mais de 10% acima do que produz, pedindo emprestado para cobrir a diferença. Assim, em todo o mundo houve quem apostasse em que não pagaríamos a crescente dívida externa; outros investidores simplesmente tiveram medo e livraram-se dela. Por isso encareceu tanto o crédito a Portugal.
Francisco Sarsfield Cabral, "O défice de liderança política". O Público, 17 de Maio de 2010.

Eduardo Constantino

É amanhã leiloada esta peça de cerâmica de Eduardo Constantino por uma das casas mais conhecidas de Paris, a Druout. Do catálogo, fazem também parte nomes consagrados da cerâmica europeia, como Dejonghe, Astoul, Ben Lisa, Champy, Chapallaz, De Vinck, Girel, Kjaersgaard, Montmollin, Uzan.
Escultura cerâmica em grés em forma de vaso, decoração abstracta numa das faces, figurativa na outra, vidrados polícromos. Assinatura do artista. Dimensões: 53x144 cm.

Professor José Mattoso em Leiria

domingo, 16 de maio de 2010

Diário de um hipermoderno

Em Novembro de 2006, foi-lhe diagnosticado um cancro. A notícia foi para Francois Ascher um grande choque. Acabava de, como explicou no livro que dedicou à reflexão e registo do tempo de vida que lhe restava, "encontrar aquilo que não procurava".
Examen Clinique, Journal d'un Hypermodern, livro que publicou em Setembro de 2007 (veio a falecer em Junho de 2009), é um documento único. Escrito sob a forma de cartas endereçadas aos familiares e amigos próximos, é obra de sociólogo, na qual a experiência limite do eu ilustra e desafia a teoria social. Adquiri-o na última semana, depois que soube (vide o que aqui escrevi a 2 de Maio) do sucedido com o seu autor.

Extracto da carta a sua filha Judite, datada de 21 de Julho de 2007.

Minha Querida,
Fiz-te parte da evolução do meu projecto de livro. Não fiz outra coisa que tentar, uma vez mais, pôr em prática este princípio de vida que, modestamente, julgo ter-te conseguido transmitir: fazer de maneira que, sempre que possível, "alguma coisa má seja boa". Ocorreu-me um dia que a frase constituiria um belo epitáfio para a minha sepultura. Nunca pensei que este tema viesse a entrar tão cedo na ordem do dia...
Diversos componentes estão na origem da minha atitude, entre os quais, decerto, o prazer da vida. Tive muita alegria de viver e, além disso, tive muitas oportunidades para tal, agora que tenho poucas. Há igualmente uma atitude face ao futuro que leva a não deixar que o passado me pese, mas antes me proporcione um material para o futuro, para novos projectos. Isto implica nomeadamente a exclusão de qualquer remorso que não serve para nada. Tento sempre dizer a mim próprio: "É assim", ou então: "É um facto". O único interesse em nos debruçarmos sobre um passado desagradável é o de dele tirar eventualmente alguns ensinamento para o que vem a seguir. Tento não reter do passado senão aquilo que foi agradável para conservar o mais duradouramente possivel as sensações que o acompanharam.
Esta atitude hedonista, epicuriana, assume provavelmente em mim uma dimensão especificamente hipermoderna, na medida em que implica uma certa dose de reflexividade. A reflexividade não é sinónimo de razão: é uma razão que constantemente regressa a si própria para analisar as suas próprias consequências. Antony Giddens e Ulrich Beck desenvolveram neste sentido análises muito ricas.
A reflexividade é assim uma forma "avançada" de racionalização que se situa no coração do processo de modernização no qual o Ocidente europeu entrou alguns séculos atrás. A reflexividade é o acto do pensamento que retorna a si próprio para tomar conhecimento das suas próprias operações. É também a atenção prestada pelo sujeito à sua experiência, à natureza das suas percepções e representações. A reflexividade é distanciar-se do hábito, descolar do homem e do mundo, acto de uma consciência que se destaca dos objectos, movimento da inteligência debruçando-se sobre os seus próprios passos. A reflexividade da vida social moderna pode então ser definida como o exame e a constante revisão das práticas sociais, à luz de informações que respeitam a essas mesmas práticas.
A noção de "modernização reflexiva" introduz duas dimensões suplementares relativamente ao uso corrente da noção de racionalização: implica uma mobilização do conhecimento generalizada a todas as esferas da vida social (incluindo tradições e religiões) e permanente, isto e que efectua um retorno em contínuo à análise dos efeitos da acção, com o objectivo de fundar as acções seguintes. Ao nível individual, produz uma selfconfontation, uma atenção a si que modifica com certeza as relações sociais e a relação com o outro.Para Gilles Lipovetsky, daria igualmente origem a uma forma nova de consumo, que ele qualifica de hiperconsumo, e que visaria mais uma "felicidade" pessoal (reflectida e "paradoxal") e menos a afirmação de um estatuto mais ou menos ostentatório. Ao nível social, a reflexividade é um dos factores que contribuem para a emergência da economia da informação e do conhecimento, pois a informação e o saber são simultaneamente matérias primas e produtos da reflexão.
A reflexividade cria deste modo uma espécie de processo em contínuo que impede a distinção nítida das fases de análise e passagem à acção. Não cessamos de raciocinar! A reflexividade pode assim tornar-se, de um certo modo, naquilo em que eu a aplico, uma espécie de instrumento de saber-viver. Ela apresenta virtudes múltiplas, permitindo nomeadamente criar uma relação positiva com o passado, dado que este serve para construir o futuro. O que tem ainda como consequência deixar um espaço muito reduzido para um sentimento como o remorso. Isto é preciso. Mas apesar de sublinhar esta dimensão da reflexividade... arrependo-me de me não ter interessado mais pelo estoicismo, e, de forma mais geral, pela filosofia.

Francois Ascher, Examen Clinique. Journal d'un Hypermoderne. Paris, L'aube, 2007, p. 39-41.

Primeira edição de "Conferências do Forte"

Em Peniche, na Fortaleza, no próximo Domingo, às 18h30.
Esta iniciativa, do Pelouro da Cultura da Câmara de Peniche, valoriza o lugar da Fortaleza na história de Peniche e do país. Monumento nacional, testemunhou época muito distintas e foi cenário de acções as mais díspares. Defendeu populações e protegeu actividades marítimas, foi palco de confrontos nacionais e internacionais, assistiu a vitórias e derrotas, momentos trágicos, epopeias de sucesso. Foi cárcere de tempos negros onde a luta pela liberdade se pagava com a tortura e a perseguição, foi peça da luta pela democracia. Hoje é um instrumento de afirmação cultural de uma comunidade que não pode deixar de ser trazido à primeira linha da afirmação dos projectos de desenvolvimento da cidade e da região.
Este ano, as "Conferências do Forte" abordarão três temas, cada um com um comissário próprio. O primeiro, tendo por comissário o jornalista Carlos Magno, é dedicado à memória do local dos tempos da prisão politica do fascismo. São convidados o arquitecto Siza Vieira, autor de uma maqueta onde se projecta a edificação de uma pousada na Fortaleza e o historiador Prof. Borges Coelho, escritor e filósofo, militante do Partido Comunista, que se encontrava detido em Peniche aquando da célebre fuga que incluiu o secretário-geral Álvaro Cunhal, em Janeiro de 1960. No mês de Junho, caberá ao Professor Joaquim Borges Gouveia trazer a Peniche convidados para debater o tema "Mar e inovação". Finalmente em Setembro, eu próprio moderarei um encontro relativo ao tema "República moderna".

sábado, 15 de maio de 2010

15 de Maio

Sessão solene municipal assinalando o dia da Cidade e do Concelho das Caldas da Rainha. O formato aproxima-se agora mais de uma jornada celebratória, ou por via do local onde se realiza - o Centro Cultural e de Congressos - ou por via, enfim da concordância dos "eternos" protagonistas com a ideia de que as arestas do discurso político investem contra o consenso próprio do dia e da cerimónia de exaltação cívica. O salão nobre da Câmara pequeno, atarracado, pejado de colunas que interrompem a visão, com uma apresentação amadorística e descuidada, foi substituído pelo Auditório principal do CCC: conforto, apresentação profissional e cuidada, antecedida de apontamento musical, em suma, ritmo e conforto. Se os protagonistas do dia são os homenageados, personalidades, instituições, empresas distinguidas com as medalhas de mérito municipal, os dirigentes políticos devem compreender que estão ali para sublinhar e não para disputar o palco e as palmas com os condecorados. Foi bom que todos eles tivessem hoje aceite essa condição de representantes da comunidade que homenageia, o que, aliás, só os honra.
Este ritual de atribuir no dia da cidade um galardão cívico simbólico não é um ritual vazio. Tem um efeito pedagógico e mobilizador, cuida do exemplo e manifesta reconhecimento e gratidão públicos. Exalta a virtude cívica, a dádiva generosa à res publica. Por isso não tem justificação distinguir as longas carreiras apenas pelo facto de se terem cumprido, e os seus actores terem assegurado as funções e tarefas a que estavam obrigados. A medalha municipal deve apontar o exemplo do cidadão que acrescentou alguma coisa, na sua vida pública, ao que lhe era exigido, somando-lhe uma disponibilidade para servir a comunidade, para intervir enquanto cidadão.
Uma última nota para me congratular com os condecorados, abraçar aqueles que tem dado a sua colaboração inexcedível em projectos em que eu também tenho estado envolvido (Drs. Nicolau Borges e Isabel Xavier) e felicitar a Dr.ª Isabel Xavier, Presidente da associação "Património Histórico" pela sua excelente lição histórica sobre o Hotel Lisbonense e os desafios do turismo caldense no último século.

Le fils sous la neige

Les Colporteurs, com o seu novo circo de funambulismo, são as vedetas do momento em Barcelona, no Mercado das Flores (vide reportagem do El País). Equacionámos a possibilidade de os trazer a Portugal recentemente no quadro de um projecto comemorativo em curso.
A metáfora dos planos em que se desdobra o jogo da instabilidade e do equilíbrio, e do risco, tema do seu belíssimo espectáculo, está inscrita na cultura contemporânea.

sexta-feira, 14 de maio de 2010

Saldanha Sanches

Do último texto que José Luis Saldanha Sanches assinou no Expresso de 10 de Abril de 2010:

A principal razão dos ataques de João Cravinho à corrupção é a percepção que este tem há muito de que, com este nível de esbulho de dinheiros, a corrupção no sector público torna totalmente insustentável qualquer ideia de que este possa ter um papel na economia, se não determinante, pelo menos complementar.


Este foi o tema central da sua intervenção política nos últimos anos.
Quando cheguei à Universidade, em 1966,  ouvi pela primeira vez pronunciar o seu nome com a admiração um pouco mitificada pela aura de entrega e coragem que rodeava aqueles que se tinham oferecido ao combate contra a Ditadura. Contavam-se os episódios da sua prisão e do seu julgamento. Só o conheci porém já depois de 1974. Nos trinta anos do 25 de Abril dirigi-lhe um convite, que aceitou, para celebrar em Peniche, no local onde cumpriu a pena política imposta pelo Regime Autoritário, a liberdade pela qual generosamente lutara.

quinta-feira, 13 de maio de 2010

Quem comanda o quê?

Sob pressão dos "mercados" (seja o que for que isso significa), do euro (outro nome que não se sabe bem a que coisa hoje corresponde), ou dos ex-ministros das finanças, lá tivemos um plano de austeridade (nome antigo), um pacote de medidas para reduzir o défice em 2010, tecnicamente medidas adicionais a um outro eufemismo chamado Plano de Estabilidade e Crescimento. Para além das declarações cada vez mais frustes, sem imaginação nem convicção, não ficou realmente a suspeita de um plano, estudado e decidido por um centro de racionalidade. O que se ouviu foi um conjunto de medidas avulsas, deliberadas porque sim. Em contrapartida, cuidada foi a escolha do momento do anúncio. O Conselho de Ministros esperou pacientemente que a RTP1 terminasse a reportagem da visita papal e ocupou o intervalo. Muito oportuno: a 13 de Maio, por entre as deslocações de Bento XVI em território nacional!

quarta-feira, 12 de maio de 2010

No próximo Domingo, em Alpiarça

Viva a República!

Situada na história, a Igreja está aberta a colaborar com quem não marginaliza nem privatiza a essencial consideração do sentido humano da vida. Não se trata de um confronto ético entre um sistema laico e um sistema religioso, mas de uma questão de sentido à qual se entrega a própria liberdade. O que divide é o valor dado à problemática do sentido e a sua implicação na vida pública. A viragem republicana, operada há cem anos em Portugal, abriu, na distinção entre Igreja e Estado, um espaço novo de liberdade para a Igreja, que as duas Concordatas de 1940 e 2004 formalizariam, em contextos culturais e perspectivas eclesiais bem demarcados por rápida mudança. Os sofrimentos causados pelas mutações foram enfrentados geralmente com coragem. Viver na pluralidade de sistemas de valores e de quadros éticos exige uma viagem ao centro de si mesmo e ao cerne do cristianismo para reforçar a qualidade do testemunho até à santidade, inventar caminhos de missão até à radicalidade do martírio.

Bento XVI, ontem, à chegada a Lisboa.

terça-feira, 11 de maio de 2010

À janela do Airbus A320 da Alitália

Pesquisar "Window" no Flickr

Foto de Majid Rafieian, aqui. A imagem é de Kandovan (ou Candovan) uma povoação turística perto de Osku, no Irão.

Foto de Shutter Bugl (aqui). Com as suas 900 janelas, este edifício de Singapura foi originalmente construído em 1934. Desde 1998 que está classificado como monumento nacional, ali estando instalado o Ministério da Informação, Comunicação e Artes.

Foto de Daniela Nob (aqui) intitulada "Condomínio veneziano".

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Ferreira da Silva

Ferreira da Silva, "nosso comendador". Fotos de Margarida Araújo. Óbidos, 8 de Maio de 2010.

Com Rui Ferreira da Silva


De encarnado

D. Leonor "convidada" a celebrar a vitória do glorioso.
Foto de Pedro Serra

domingo, 9 de maio de 2010

No dia da Europa

Uma proposta de Frank Ghery para a Praga moderna que celebra a liberdade.


sábado, 8 de maio de 2010

Até tu, Constâncio!?

Têm todos a mesma percepção desconfiada de um país que persiste em ser pobre, quando lhe apontam o caminhos dos ricos, e aspira a ser rico exactamente quando o condenam a ser pobre. Têm a mesma conduta resignada face a um país que sempre lhes parece ficar aquém  do módico de produto que entendem por ideal. Têm os mesmos tiques autoritários colhidos na longa sementeira do comando político ditado pelo Senhor Ministro das Finanças. Sempre olharam de esguelha para Keynes, se interrogaram sobre Roosevelt, e recusaram aquele poema de Pessoa intitulado "Liberdade". Encontrar-se-ão dentro de dias todos em Belém em amena cavaqueira. Para esta tribo não há mesmo vida para lá do défice.

quinta-feira, 6 de maio de 2010

Laicidade

Convite para assinar petição que protesta nos seguintes termos:
"O carácter oficial da visita papal, o seu financiamento público e a tolerância de ponto concedida pelo Governo, são agressões perpetradas contra os princípios de laicidade do poder político que a própria Constituição da República Portuguesa institui. Esta infracção da laicidade a que estão constitucionalmente vinculadas as autoridades republicanas torna-se ainda mais gritante e deletéria quando consideramos que se celebra este ano o Centenário da Implantação da República, de cujo legado faz parte o princípio de clara separação entre Estado e Igreja, contra o qual atentará qualquer confusão entre homenagens a um chefe de Estado e participação oficial dos titulares dos órgãos de soberania em cerimoniais religiosos".
Não assinei. Ao principio da laicidade antepus o da tolerância.

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Nu, folhas verdes e busto

Marie-Thérèse Walter conheceu Picasso aos 17 anos, foi seu modelo e amante. Tiveram uma filha. Um quadro de 1932, representando Marie-Thérèse, foi ontem vendido em Nova Iorque, na sede da Christie's, por cerca de 82 milhões de Euros (106.4 milhões de dólares).
Indiferente à crise, ou talvez por causa dela, Picasso continua a ser um valor seguro.

terça-feira, 4 de maio de 2010

Obras no património contemporâneo

Em Setembro do ano passado foi posta a correr uma petição dirigida a titulares de órgãos de soberania e ao Presidente do Instituto Politécnico de Leiria, questionando a decisão de submeter a concurso obras de requalificação do edifício pedagógico da Escola Superior de Artes e Design das Caldas da Rainha. A petição contou com a assinatura de prestigiados arquitectos portugueses, alguns dos quais membros proeminentes da Ordem dos Arquitectos. No essencial, a petição (pode ser lida aqui) considerava que estava em risco a integridade de uma obra premiada de um arquitecto que teve um percurso excepcional e exigia que a obra fosse acompanhada por um equipa indicada pela Ordem dos Arquitectos. Os jornais deram publicidade a esta petição, conforme aliás os seus autores pretendiam. Questionada, a Ordem fez saber que recomendava igualmente o acompanhamento da obra por um técnico do Instituto de Gestão do Património Arquitectónico e Arqueológico.
Este edifício singular, da autoria do arquitecto Victor Figueiredo (1929-2004) teve um processo de construção atribulado. Sempre ouvi dizer que o projecto original tinha sofrido alterações e amputações graves arbitrariamente decididas pelo dono da obra, sem o acordo do projectista. Sei que a obra esteve parada muito tempo, aparentemente por falência do empreiteiro, motivo invocado aliás para proceder a alterações quando o curso dos trabalhos pode ser retomado. O certo é que o próprio Victor Figueiredo, descontente com o rumo da edificação, ter-se-á, segundo me referiram, recusado a participar na cerimónia em que o prémio de arquitectura atribuído em 1998 pela Secil à sede da ESAD das Caldas da Rainha seria entregue. Em 2002, participando num colóquio na cidade, o arquitecto apontou o dedo ao empreiteiro sem escrúpulos, à fiscalização que não funcionara e ao dono da obra que se deixara influenciar pelo primeiro.
Ao longo do seu tempo de utilização, pouco mais de uma década, o edifício tem sido alvo de críticas por parte de professores e alunos. Recentemente (2007), uma auditoria de higiene e segurança no trabalho produziu um relatório demolidor. Os professores e alunos sempre se queixaram das péssimas condições acústicas das salas de aulas e das falhas graves de conforto térmico. A auditoria apontou o dedo à ventilação ineficiente, à estrutura térmica também ineficiente e gerando desconforto, à iluminação insuficiente, ao desrespeito das normas de segurança. Apesar de relativamente recente, o edifício apresenta sinais internos e externos de degradação: fissuras nas paredes, falhas na pintura, ferrugem na caixilharia. Algumas intervenções entretanto ocorridas, por exemplo nas condutas de ar, produziram resultados com impacte na coerência estética dos alçados.
Não vou usar o argumento demagógico de que a estas queixas e motivos de reparo nunca a Ordem dos Arquitectos deu eco e que não consta que tenha chamado a atenção do Instituto Politécnico de Leiria, até Setembro do ano passado, para a necessidade de evitar a degradação do edifício e promover a sua reabilitação. Mas não devo deixar de sublinhar que a Ordem só levantou a sua voz porque tomou conhecimento de que estava a concurso uma obra e nele não estava previsto o seu acompanhamento por uma equipa de arquitectos. O seu alerta tem pois uma obvia motivação corporativa, muito embora ela seja acondicionada por uma justa menção à importância do edifício no panorama da arquitectura contemporânea portuguesa. Deve dizer-se que a empreitada a que esta polémica se reporta resulta de uma candidatura do Instituto Politécnico de Leiria ao Programa Operacional de Valorização do Território, cumprindo naturalmente as suas clausulas, nomeadamente quanto à qualificação das equipas de projecto e de acompanhamento, cuja tramitação obteve o visto do Tribunal de Contas.
Mas a questão de fundo que aqui se deve equacionar é simples: não podem os edifícios excepcionais contemporâneos sofrer obras de adaptação e modernização? O respeito pela singularidade de um edifício do século XX impede-nos de substituir os vidros simples por duplos e implantar tectos falsos para melhorar a acústica? Mais: a caixilharia em ferro não pode ser substituída pelos materiais actuais, menos sujeitos à oxidação e corrosão? O processo normal de adaptação de espaços interiores, conversão de salas e ocupação ou reconversão de salões e corredores está vedado aos edifícios premiados?
E nesta matéria, do que pode e não pode legitimamente ser feito, é a Ordem dos Arquitectos a entidade à qual devemos confiar a definição do conceito e dos critérios de intervenção?
Quantas alterações não foram assinadas por Victor Figueiredo ao edifício original do Hospital de Santo Isidoro (1893) cuja recuperação projectou para o adaptar aos Serviços Sociais e Galeria da ESAD?
Uma escola não é um museu. Mas até os museus sofrem modificações e adaptações ditadas pelas exigências de segurança e conforto e possibilitadas pela tecnologia. Velar pela singularidade de uma obra não é fixá-la no tempo. Nunca foi assim, nunca será assim. Nenhuma das Catedrais que nos maravilham ficou incólume desde a sua fundação. O património é sempre cumulativo.
Foto Diana Vieira (aqui)

segunda-feira, 3 de maio de 2010

domingo, 2 de maio de 2010

Francois Ascher

Soube ontem, ocasionalmente, que Francois Ascher morreu. Conheci-o pessoalmente, estive com ele duas vezes, uma num seminário organizado pelo Engº Fonseca Ferreira na CCRLVT, outra na Universidade de Aveiro, numa conferência sobre Cidades patrocinada pelo Presidente Jorge Sampaio e comissariada pelo Prof. Arquitecto Nuno Portas. Obras suas fazem parte da bibliografia essencial das cadeiras que lecciono.
Sociólogo e urbanista, Ascher é autor de uma das mais estimulantes e originais reflexões sobre a mudança urbana actual, num contexto de modernização caracterizada pela emergência do que chamou "sociedade hipertexto". Ou seja uma sociedade caracterizada por laços sociais muito numerosos, muito variados, directos e mediatizados, frágeis e especializados; implicando relações sociais abertas, múltiplas, mutáveis, de escalas variáveis (do local ao global), reais e virtuais; onde os paradigmas dominantes são marcados pela complexidade, incerteza, auto-regulação, flexibilidade e governança; na qual o motor da actividade económica passou a ser de natureza cognitiva; em que a cultura é diversificada e híbrida, tendo em conta uma multipertença social e cultural.
Estão traduzidas em português duas obras de Ascher:

Metapolis. Acerca do Futuro da Cidade. Oeiras, Celta, 1998.
Novos Princípios do Urbanismo Seguido de Novos Compromissos Urbanos. Prefácio de Nuno Portas. Lisboa, Livros Horizonte, 2010.

Sobre outros trabalhos F. A., pode visitar este site e os links para que ele remete, e ler o texto com que o Le Monde assinalou a sua morte.

sábado, 1 de maio de 2010

Frase de ontem

Álvaro Domingues: "Uma agência de rating tem mais poder que um Ministro das Finanças".

Maias



É Maio.
As memórias do Maio da minha infância cheiram a giestas, sabem a cerejas e são servidas numa paleta de cores deslumbrantes sob o imenso céu azul e um sol prometedor. E abrem com as "Maias".

Câmara Municipal de Guimarães, Agenda Cultural, Maio de 2010. Editorial. Francisca Abreu.