terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Obama visto por José Medeiros Ferreira

Confessando-se "viúvo de Hillary Clinton", Medeiros Ferreira desvaloriza os méritos do candidato Barack Obama, cuja campanha pouco mais foi do que o entoar de "Yes, we can". Ele foi levado em ombros pelo mito do "melting pot", o mito da sociedade multi-racial. JMF recorda outros mitos americanos que se afirmaram em momentos críticos: o mito das "novas fronteiras", com John Kennedy (perante o avanço da União Soviética na conquista do espaço), o mito da "liberdade de imprensa"(contra Nixon, perante a retirada do Vietname). O mito do "melting pot" firmou-se num altura em que os EUA enfrentavam um crescente isolamento internacional.
Mas o mais (do pouco mais do que "Yes we can") não é irrelevante. A campanha interna de Obama apoiou-se na crítica ao processo de tomada de decisões de Washington, retomando uma velha questão da política americana, das relações entre a União e os Estados Federados.
JMF não tem dúvidas em elogiar o grande profissional que Obama se mostrou em campanha e os méritos das escolhas que fez para o seu governo, sem dúvidas gente muito competente e do mais alto gabarito académico. As duas tarefas que tem pela frente: sair do Iraque e impedir a efectivação de uma coligação antagónica de grande potências, na frente externa; na frente interna, relançar a economia e recuperar o emprego. A segunda está certamente ligada também à primeira, uma vez que para JMF o que está na origem da crise financeira americana é fundamentalmente a guerra do Iraque. Mas quanto à estratégia para recuperar a economia e reduzir o desemprego, o caminho está traçado - o Presidente que tem estado a falar bem podia chamar-se Roosevelt. De qualquer forma, não o esqueçamos, Obama tem de recriar uma unidade interna, hoje abalada, e o êxito desse esforço depende muito da capacidade de forjar uma nova plataforma política entre os Estados e a União.
Esta a muito breve síntese da conferência que José Medeiros Ferreira proferiu ontem na Casa dos Patudos, integrada na 3ª edição dos Serões Culturais da Casa dos Patudos. Com a ironia, a riqueza informativa e a modulação analítica a que nos habituou.
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Casa dos Patudos-Museu José Relvas cheia ontem à noite nos seus III Encontros de Música. Para ouvir Boccherini e Schubert. Antes palestrei sobre a eleição de Barack Obama para presidente dos EUA e as suas previsíveis implicações na política internacional. Creio não ter desafinado naquele ambiente tão inesperado e infelizmente raro. É por coisas destas que acho injustas muitas das críticas que se fazem ao poder local. Está de parabéns a Drª Vanda Nunes, Presidente da Câmara Municipal de Alpiarça.
José Medeiros Ferreira (Bicho Carpinteiro)

6 comentários:

J J disse...

Como sabe, de trocas soltas de emaisl há seis meses, também me sinto mais próximo de JMF do que de si na análise das qualidades dos dois candidatos democratas (não se esqueça de responder à provocação...).
Mas a escolha está feita e só podemos esperar que a aparente falta de rodagem e substância política de Obama constituam, quem sabe, uma vantagem. Alguns analistas vêem traduzidas nas suas nomeações um resultado, positivo, disso mesmo. Veremos.

Anónimo disse...

Também "votei" Hillary. Lamento que se tenha deixado agora "engolir" pela máquina muito profissional de Obama.
MT

João Ramos Franco disse...

Qoe se pode acrescentar mais ás palavras de João Serra, "Com a ironia, a riqueza informativa e a modulação analítica a que nos habituou", a subtileza de um Ex Ministro dos Negócios Estrangeiros e o saber do diplomata.
João Ramos Franco

Anónimo disse...

Falta de substância política? Os profissionais, como B.O. não são avaliáveis assim, mas pela capacidade de fazerem o que tem de ser feito. B. O. fez bem tudo o que tinha de ser feito. E no que respeita à formação do Governo, até bem de mais. Se o seu objectivo fosse contar com a experiência e os projectos da senadora Hillary deveria ter-lhe "oferecido" outra pasta. Os analistas não vêem o óbvio: o lugar de Ministro dos Negócios Estrangeiros dá menos influência interna do que o de senadora pelo Estado de Nova Iorque.
MT

J J disse...

Um homem que faz tudo o que é preciso fazer para ser eleito Presidente dos Estados Unidos devia ser proibido de exercer o cargo! Esta é uma velha piada da política americana, mas que encerra uma enorme verdade.
A questão aqui é que Obama terá tido necessidade de fazer ainda mais e as facturas para pagar vão começar a aparecer.
Talvez eu não tenha razão, seria bom não ter.

João Ramos Franco disse...

Meus caros colegas comentadores,as palavras que escrevi no meu comentário são sobre José Medeiros Ferreira e não se concordo com as atitudes de Obama. Referi apenas que o no modo de como assunto foi abordado na Conferência por Medeiros Ferreira, continha nas suas palavras a experiência de um diplomata quando fala politica externa.
João Ramos Franco