quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Na árvore do Natal (2)

Aos comentadores mais assíduos deste blog, uma lembrança de Natal. Esta é para João Jales.
Thomas Paine foi um escritor político norte americano que viveu entre 1737 e 1809.

Nenhuma geração é proprietária das que se seguirão
O Parlamento Inglês de 1688 fez uma determinada coisa que, para ele próprio e para os seus constituintes, tinha o direito de fazer, e que pareceu ser a coisa certa a fazer; mas, para além deste direito, que possuía por delegação, o Parlamento estabeleceu outro direito por usurpação, o de comprometer e controlar a posteridade até ao fim dos tempos. Assim, o caso divide-se em duas partes: o direito que possuía por delegação e o direito que estabeleceu por usurpação. O primeiro é admitido; mas em relação ao segundo, eu replico...
Nunca existiu, nunca existirá, e nunca poderá existir um Parlamento, ou qualquer classe de homens, ou qualquer geração de homens, em qualquer país, que possua o direito ou o poder de comprometer e controlar a posteridade até "ao fim dos tempos", ou de comandar para sempre a forma como o mundo será governado, ou quem o governará: e, consequentemente, todas as cláusulas , actos ou declarações através dos quais os seus criadores tentam fazer aquilo que não têm o direito nem o poder de fazer, nem o poder de executar, são por si mesmos destituídos de validade. Todas as eras e gerações têm de ser livres para agirem por si mesmas em todos os casos, tal como as eras e gerações que as precederam. A vaidade e presunção de governar para além da sepultura é a mais ridícula e insolente de todas as tiranias. O homem não é proprietário do homem: e nenhuma geração é proprietária das gerações que se seguirão. O Parlamento ou o povo de 1688, ou de qualquer outro período, não tinham mais direito de dispor do povo dos dias de hoje, ou de o comprometer ou controlar de qualquer forma, do que o Parlamento ou o povo dos dias de hoje tem de dispor, de comprometer ou controlar os que viverão daqui a cem ou mil anos. Todas as gerações são, e têm de ser, competentes para todos os desígnios que as ocasiões determinarem. São os vivos, não os mortos, que têm de ser ajustados. Quando o homem deixa de existir, o seu poder e as suas vontades morrem com ele; e como já não tem qualquer participação nos problemas deste mundo, deixa de ter autoridade para decidir quem serão os governantes, ou como o Governo será organizado ou administrado.

Thomas Paine, Direitos do Homem. Mem Martins, Publicações Europa-América, 1998. p. 14-15.

2 comentários:

João Ramos Franco disse...

Transcrevo este pequeno texto sobre a vida de Thomas Paine apenas porque me leva pensar no cidadão e a sociedade. "Thomas Paine cidadão francês em 26 de Agosto de 1792, é eleito para a Convenção e, depois, para membro da comissão de redacção da nova constituição. Pronuncia-se contra a condenação à morte de Luís XVI.
-Preso depois da queda dos girondinos em 1794, chega a ser condenado à morte por Robespierre, mas consegue escapar da acção daqueles que qualifica como sanguinários."
João Ramos Franco

J J disse...

Cheguei atrasado para ser o primeiro a agradecer a "prenda". Mas não posso deixar de dizer que li com atenção um texto que tem a ver, não com as minha ambições pessoais, mas com uma conversa que prolongou um excelente jantar, uma noite destas no Pachá. Pelo jantar, a conversa e a prenda, obrigado, João.
Boas Festas.