domingo, 8 de fevereiro de 2009

Sampaio revisto por Saramago


Gostei de o ver. É o mesmo homem, sóbrio, inteligente, sensível. Há vinte anos estivemos juntos na campanha para as eleições autárquicas que então se iam celebrar e que ganhámos, ele para o exercício inovador e competente da sua função de presidente da Câmara Municipal de Lisboa, eu para o desempenho pouco afortunado do cargo de presidente de uma Assembleia Municipal de má memória. Calcorreámos corajosamente ruas, praças e mercados de Lisboa pedindo votos, mesmo quando, creio que por pudor, não o fazíamos explicitamente. Como já ficou dito, ganhámos, mas quem ganhou realmente foi a cidade de Lisboa que pôde rever-se com orgulho no seu máximo representante na Câmara. Tivemo-lo depois como presidente da República durante dois mandatos em que deixou a marca de uma personalidade nascida para o diálogo civilizado, para a procura livre de consensos, sem nunca esquecer que a política, ou é serviço da comunidade, serviço leal e coerente, ou acaba por tornar-se em mero instrumento de interesses pessoais e partidários nem sempre limpos. Ficámos de ver-nos com tempo e vagar, promessa mútua que espero ver cabalmente cumprida no futuro, apesar da intensa actividade no projecto da Aliança de Civilizações, de que é Alto Representante. Com Jorge Sampaio não há palavras falsas, podemos fiar-nos no que diz porque é o retrato do que pensa.

4 comentários:

João Ramos Franco disse...

E que bom ver escrever assim de alguém com quem cruzamos a vida…
João Ramos Franco

Paulo G. Trilho Prudêncio disse...

Um texto muito significativo. É bom ler escritos assim, pode crer meu caro João Serra.

Abraço.

Anónimo disse...

Que saudades me deixou o Dr. Jorge Sampaio! O Presidente da República que mais admirei, precisamente pelas raras qualidades que detém, em simultâneo: sobriedade, inteligência, sensibilidade, humildade, lealdade, coerência, enfim, uma referência, para políticos e cidadãos.
MV

Anónimo disse...

"(...) sem nunca esquecer que a política, ou é serviço da comunidade, serviço leal e coerente, ou acaba por tornar-se em mero instrumento de interesses pessoais e partidários nem sempre limpos(...)."
Continuo a recordar o abraço do "nosso Presidente ao Dr. António Costa".Quem diz que não há emotividade na vida portuguesa?
NB