quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Fotografia em pensamento

Conversa com a Dr.ª Helena Araújo, Directora do MuseuPhotographia "Vicentes" do Funchal. Como em relação ao tema - a fotografia -, o meu fascínio por ele só tem equivalente na minha ignorância, fiz perguntas e atrevi-me a apresentar sugestões, confiante na tolerância dos que muito sabem para com os que muito desconhecem.
Contei-lhe que uma aluna, natural da Calheta, um dia me dissera que os pais tinham vindo pela primeira vez ao Funchal, depois de casarem, para tirar uma fotografia. "Sim - retorquiu-me a Dr.ª Helena Araújo - vinham por terra e por barco. Habitualmente uns meses depois do casamento. Chegavam ao Funchal, vestiam outra vez cada um as suas vestes de noivo, e iam ao atelier fotográfico fazer fotografias. É comum existir uma diferença de 5 a 6 meses entre a data do casamento e a data da fotografia dos noivos".
Mais à frente refere um outro impulso que marca a relação dos madeirenses com a fotografia, a "fotografia em pensamento". Como a expressão é absolutamente extraordinária e me era desconhecida, aqui fica o que dela entendi. Com os maridos imigrados, as mulheres dirigem-se ao fotógrafo com os seus filhos. A fotografia dará conta ao ausente de como a sua família se encontra. Se a mulher se veste de negro e os filhos de branco, isso significa que o marido faleceu. A fotografia em pensamento é a testemunha dessa perda.

6 comentários:

Anónimo disse...

A denominação é de facto sugestiva. Ilustra o conceito de Deleuze: a fotografia é um acontecimento, regista o real e interfere com ele, na medida em que exprime uma emoção.
MT

Margarida Araújo disse...

Por aqui o Penim, fotógrafo, anunciava em jornais locais "fotografia de parcença inteira, meias-parecenças e parecenças com ar de família"(informação do Hermínio de Oliveira e depois constactada em pesquisas).
Sei desse atelier, mas nunca o visitei.
A aluna é quem penso?
Bj

Teresap disse...

Quando a vida é montada em quadros fotográficos, o mais importante é o que fotografia diz.
Penso que a Madeira desenvolveu uma relação com a fotografia bem mais precoce do que no continente. Influência dos ingleses e, consequentemente, dos Estúdios Vicente.

Margarida Araújo disse...

Por exemplo o Camacho, a que Bordalo dedica um enorme prato que se encontra no Museu de Cerâmica, era um excelente fotógrafo madeirense.

Anónimo disse...

Meu Caro Professor:
Permita-me a sugestão e actualizemos o nome do Blogue:
"O que eu ando"
ou,
" O que me falta andar"
ou o que, porque não, " O que gosto de Andar".
É um prazer raro, poder ouvi-lo, e lê-lo é sem dúvida, um exercício diáro de que não prescindo...

A Fotografia é uma técnica de captura de momentos de imagens, luz e emoções, que hoje felizmente se encontra massificado, mas arte, Arte mesmo é quando se ultrapassa o superlativo da Técnica e se captam outras coisas...

Obrigado

PSimões

João B. Serra disse...

Obrigado, Paulo, restantes amigos, pelo vosso gosto em partilhar andanças e confrontar saberes e visões. Que estímulo extraordinário!