sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Futurismo

20 de Fevereiro de 1909: primeiro Manifesto do Futurismo, publicado no Figaro, pelo escritor Filippo Tommaso Marinetti. Para enquadramento do tema, consultar este texto do El Pais.

1. Queremos cantar o amor do perigo, o hábito da energia e da temeridade.
2. A coragem, a audácia e a rebelião serão elementos essenciais da nossa poesia.
3. Até hoje a literatura tem exaltado a imobilidade pensativa, o êxtase e o sono. Queremos exaltar o movimento agressivo, a insónia febril, a velocidade, o salto mortal, a bofetada e o murro.
4. Afirmamos que a magnificência do mundo se enriqueceu com uma beleza nova: a beleza da velocidade. Um carro de corrida adornado de grossos tubos semelhantes a serpentes de hálito explosivo... um automóvel que ruge, que parece correr sobre a metralha, é mais belo que a Vitória de Samotrácia.
5. Queremos celebrar o homem que segura o volante, cuja haste ideal atravessa a Terra, lançada a toda velocidade no circuito de sua própria órbita.
6. O poeta deve prodigalizar-se com ardor, fausto e munificência, a fim de aumentar o entusiástico fervor dos elementos primordiais.
7. Já não há beleza senão na luta. Nenhuma obra que não disponha de um caráter agressivo pode ser uma obra-prima. A poesia deve ser concebida como um violento assalto contra as forças ignotas para obrigá-las a prostrar-se diante do homem.
8. Estamos no promontório extremo dos séculos!... Por que havemos de olhar para trás, se queremos arrombar as misteriosas portas do Impossível? O Tempo e o Espaço morreram ontem. Vivemos já o absoluto, pois criamos a eterna velocidade omnipresente.
9. Queremos glorificar a guerra - única higiene do mundo -, o militarismo, o patriotismo, o gesto destruidor dos anarquistas, as belas idéias pelas quais se morre e o desprezo da mulher.
10. Queremos destruir os museus, as bibliotecas, as academias de todo tipo, e combater o moralismo, o feminismo e toda vileza oportunista e utilitária.
11. Cantaremos as grandes multidões agitadas pelo trabalho, pelo prazer ou pela sublevação; cantaremos a maré multicor e polifónica das revoluções nas capitais modernas; cantaremos o vibrante fervor noturno dos arsenais e dos estaleiros incendiados por violentas luas elétricas: as estações insaciáveis, devoradoras de serpentes fumegantes; as fábricas suspensas das nuvens pelos contorcidos fios de suas fumaças; as pontes semelhantes a ginastas gigantes que transpõem as fumaças, cintilantes ao sol com um fulgor de facas; os navios a vapor aventurosos que farejam o horizonte, as locomotivas de amplo peito que se empertigam sobre os trilhos como enormes cavalos de aço refreados por tubos e o vôo deslizante dos aeroplanos, cujas hélices se agitam ao vento como bandeiras e parecem aplaudir como uma multidão entusiasta.
É da Itália que lançamos ao mundo este manifesto de violência arrebatadora e incendiária com o qual fundamos o nosso Futurismo, porque queremos libertar este país de sua fétida gangrena de professores, arqueólogos, cicerones e antiquários. [...]

4 comentários:

J J disse...

Esta não é a minha área, deixo o Futurismo para os especialistas.
Mas sei que o manifesto foi publicado no Figaro apenas por influência pessoal de um amigo do pai de Marinetti, que era, ao que sei (e leio no El Pais), muito melhor manipulador dos media que poeta. Nada de diferente cem anos depois, quando Jeff Koons, por exemplo, é frequentemente designado (sem ironia) como "um escultor"....
Muitos aplaudiram e publicitaram o amontoado de disparates que constituía o Manifesto e só quando viram o autor ao lado do seu amigo Benito perceberam o que tinham apoiado. Estejam atentos, os mesmos idiotas voltaram e voltarão a fazer o mesmo.

Anónimo disse...

Devo reconhecer que, apesar de todos os seus perigos e riscos, ou por eles mesmos, aprecio este texto! Acho graça ser o João a colocá-lo aqui!
- Isabel X -

Anónimo disse...

Se cada blogue tem o seu próprio submarino, o deste anda evidentemente perdido. não só no tempo. como no espaço. Disparando sobre tudo o que mexe, só por mero acaso acertará num alvo em movimento, e foi o que agora se passou.
MT

J J disse...

Aspirará M T a ser uma especialista em comentar os meus comentários?Por muito lisonjeiro que isso me pareça,melhor faria em se concentrar nos posts e não no que os outros escrevem sobre eles.