sábado, 14 de fevereiro de 2009

Dia de S. Valentim

[...] Hoje é dia de São Valentim e não é por acaso que há só um dia por ano para lembrar os aspectos positivos (e decorativos) do amor. O resto do ano é a selvajaria que se sabe. Sofrer por amor é uma constante e uma banalidade. Para mais, sofre-se em silêncio porque o sofrimento afugenta a pessoa amada e aborrece de morte os amigos. 
O amor transforma-nos numa pilha de nervos e de medos; de hesitações e incertezas. O amor faz ódio; faz ciúmes; faz fazer e dizer as maiores barbaridades. Os peritos dizem que os instintos de posse têm de ser controlados e até negociados, muitas vezes com a ajuda de pessoal especializado. Balelas. O mais que conseguem é fazer-nos aceitar que o amor, como o futebol, é mesmo assim. O amor é caríssimo - não por ser raro e valioso mas porque não temos voto na matéria. O preço que se paga em ansiedades e sofrimentos e saudades e remorsos não vale os poucos momentos de puro paraíso nem a relativa raridade de mera calma e harmonia [...]

Miguel Esteves Cardoso, "Raio de amor". Público, 14 de Fevereiro de 2009

Zé d'Almeida, Vidé Blogue Pitecos.

3 comentários:

Margarida Araújo disse...

"Raio de Amor"!
Que ele não nos fulmine, só ilumine e aqueça.

Anónimo disse...

E o Amor...

E o amor é então todo o longínquo
ardor? O à espera eterno e a solidão
que nele nasce e dele vai até
mais não ser que o relembrar anterior?

Ah, mas se o amor fosse tudo em si...
A lágrima e o riso, o verbo e a carne,
se o amor sonhasse na claridade
e sem ela não fosse um maior sonho...

Aí vem a névoa, aí vem o sopro
da vida a levantar o dolorido
princípio sem fim do talvez, do quase...

E o amor é então todo o longínquo
ardor, o eterno à espera e a solidão
que nele nasce e morre, nasce e morre.

António Salvado, in "Recôndito"

MV

Teresap disse...

O Amor,
cada um vive-o como deseja e como pode. Às vezes é brutal e encarcerador, outras apaziguador. Mas o dia não tem nada a ver com o Amor. O dia é uma criação que serve muita gente mas que, por outro lado ateia a fogueira, pelo menos, por algumas horas. E isso já dá dinâmica à vida daqueles que, muito em breve, virão para a rua ao som das contradanças carnavalescas.