quarta-feira, 8 de julho de 2009

Requalificação da Casa dos Patudos (2)

Seja-me permitido, em primeiro lugar, sublinhar, em nome da Comissão Nacional para as Comemorações da República, o facto de a obra que hoje é lançada surgir também como uma homenagem à República - e a primeira -, de que agora se celebra o centenário. O programa das comemorações procura valorizar a cultura histórica, enquanto componente importantíssima da vida cultural e da projecção identitária de Portugal, e, nesse sentido, este gesto da Câmara Municipal é particularmente significativo.
Para a implantação do novo regime republicano, há um século, José Relvas foi decisivo. Pelo que fez, como principal dirigente do Partido Republicano Português eleito no Congresso de 1909, em Setúbal, e pelo prestígio nacional da sua figura de empresário e dirigente associativo de agricultores e viticultores.
As obras de requalificação da Casa dos Patudos que agora se vão iniciar vêm no momento certo e permitirão potenciar a experiência de gestão patrimonial e científica acumulada nos últimos anos.
É sobre estes últimos aspectos, que tenho podido acompanhar há uma década, desde que o Presidente Joaquim Rosa do Céu me convidou para aqui realizar uma conferencia em 1998, que gostaria de deixar três breves notas.
A primeira respeita à necessidade de abrir nesta Casa novos espaços para que o visitante possa conviver mais directamente com o seu fundador. José Relvas legou uma colecção valiosíssima para ser musealizada. Esse desejo foi cumprido. Mas hoje, 100 anos decorridos sobre outro dos seus legados, um legado político e ético, a República, é justo que aqui estejam também à disposição dos visitantes, os elementos de interpretação sobre a sua própria história. Isto implica naturalmente uma redefinição do projecto museológico e um actualização das suas estruturas de base.
Um contributo fundamental para essa redefinição vem, creio, do arquivo de José Relvas, um acervo documental muito rico que abarca a diversidade de interesses e de actividades do seu instituidor, desde o sector agrícola e comercial à intervenção politica, desde a área do coleccionador ao domínio das relações com o mundo das artes. Na salvaguarda desse espólio me empenhei, contando, a partir de 2007, com o apoio institucional e pessoal da Dr.ª Vanda Nunes, primeiro como vereadora da Cultura e depois como Presidente da Câmara Municipal de Alpiarça, e a colaboração empenhada, diligente e informada da Dr.ª Laurinda Santos Paz. Creio que estamos hoje em condições de avançar para a criação de um Centro de Documentação e Investigação José Relvas na Casa dos Patudos, o qual, aliás, acaba de receber um forte estímulo da Fundação Calouste Gulbenkian, que ontem nos comunicou ter aprovado um subsídio ao projecto que lhe apresentámos este ano. Esse projecto pretende valorizar o arquivo em tudo o que respeita ao estudo da formação de uma colecção de arte entre os anos 90 do século XIX e as primeiras 3 décadas do século XX.
A terceira nota respeita ao modelo de governação da Casa dos Patudos. Também aqui a experiência registada e a comparação com outras instituições aconselha a dar passos no sentido de conferir a esta instituição condições para um maior dinamismo e uma maior solidez. No respeito pela vontade expressa em testamento pelo fundador, a responsabilidade da Casa dos Patudos é municipal. Mas seria desejável que a essa responsabilidade inalienável se pudessem associar instituições com afinidades e interesses comuns, entidades privadas e, naturalmente, o Estado. Isso aponta para um modelo fundacional público que não só congregue um vasto número de organizações, como permita uma estrutura de financiamento menos frágil e casuística do que a actual.
Este modelo teria ainda a possibilidade de integrar a gestão da Casa dos Patudos, com o seu Centro de Documentação e de Investigação e com o seu Museu de Colecção, num conceito de gestão cultural que abarcasse outros equipamentos de acção cultural municipal, no quadro da prossecução das politicas culturais do Município. Se esta Casa tem uma dimensão que em muito ultrapassa as fronteiras do município e até do Pais, pois aqui temos testemunhos qualificados do património oriundo de vários pontos da Europa e do Mundo, ela não poderá deixar de exercer, em Alpiarça, uma justificada centralidade estratégica.
Nesta perspectiva, creio também que o novo modelo de governação não deverá descurar o plano regional. A Casa dos Patudos deverá dinamizar relações com outros museus e colecções museológicas regionais como o atelier Carlos Relvas ou a colecção Anselmo Braancamp, na Golegã e em Santarém, respectivamente, com as quais tem óbvias afinidades - que se acrescentarão ao serem aprofundadas.
Quero, a terminar, manifestar o meu mais sincero agradecimento à Senhora Presidente da Câmara de Alpiarça. Sem a Dr.ª Vanda Nunes, a sua determinação e o seu discernimento e sensibilidade, a Casa dos Patudos não teria obtido a projecção e o reconhecimento de que hoje goza, nem teria merecido a requalificação já em curso e que agora vai receber um novo impulso.
A Drª Vanda Nunes tem sido desde sempre uma intérprete autorizada e esclarecida do legado de José Relvas. Antes de ser a Presidente da Câmara de Alpiarça, e, portanto de todos os alpiarcenses, ela tem sido a Presidente e Embaixadora dos Patudos.
Intervenção na sessão de lançamento da obra de requalificação da Casa dos Patudos. Alpiarça, 7 de Julho de 2009.

2 comentários:

Isabel X disse...

É interessante saber que é essa a obra primeira da homenagem à República, na comemoração do seu centenário. E está certo que assim seja, já que foi José Relvas quem proclamou a república da varanda do município de Lisboa. Muitas felicidades para a Casa dos Patudos! Que o futuro lhe seja sorridente, como merece!
- Isabel X -

Anónimo disse...

É inquestionável a importância do Poder Local na preservação,valorização,e estudo do seu património.A C.M. de Alpiarça e seus colaboradores, designadamente o Conselho Consultivo da Casa dos Patudos,coordenado pelo Professor Dr. João Serra, estão de parabéns.O impulso notável que têm sabido imprimir ao legado da família Relvas,levando-o ao conhecimento do País e além fronteiras.Não poderia deixar de referir a projecção da Exposição que esteve patente na Assembleia da República, sábiamente intitulada- "José Relvas - O Conspirador Contemplativo".
A República está de parabéns!
MV