quinta-feira, 2 de julho de 2009

Missão em Espanha

José Relvas partiu para Espanha a 16 de Outubro de 1911. João Chagas, presidindo ao 1º Ministério constitucional da República, chamou, de Madrid, Augusto de Vasconcelos, a quem entregou a pasta dos Negócios Estrangeiros, nomeando em sua substituição José Relvas. O novo ministro plenipotenciário do Estado português começou a desempenhar funções 12 dias após a entrada em Portugal de uma coluna de cerca de 950 homens, comandada por Paiva Couceiro, a qual ocupou por algum tempo Vinhais.
A minha intervenção ontem na Casa Veva de Lima  centrou-se nesta missão: o lugar da Espanha na política externa republicana, as dificuldades da conjuntura, as diversas orientações sobre o modo como lidar com a Monarquia Espanhola (e em paralelo, com as forças republicanas espanholas), os condicionamentos ligados à percepção das opiniões públicas de um e outro lado da fronteira, e, enfim, a personalidade e capacidade de actuação do nosso embaixador.
Duas citações. 
De Hipólito de la Torre Gómez, professor de História Contemporânea da Universidade de Madrid: "As perseverantes diligências do ministro [plenipotenciário] de Lisboa, José Relvas, desempenharam papel essencialíssimo na decisão espanhola de afastar definitivamente os emigrados [monárquicos portugueses] da fronteira. A sua actuação prudente, realista e sempre fundada nos seus prognósticos sobre o evoluir dos acontecimentos, esteve a ponto de ruir perante a atitude do chefe do governo e do Ministro dos Estrangeiros, Augusto de Vasconcelos, simplesmente porque este estava disposto a levar a ruptura das relações com Espanha até ao limite, contando com a duvidosa suposição do apoio da Inglaterra, enquanto Relvas sabia que que este apoio não estava disposto a ser concedido" (Conspiração contra Portugal (1910-1912). As relações políticas entre Portugal e Espanha. Lisboa, Horizonte, 1978. p. 141).
De Manuel Teixeira Gomes, embaixador de Portugal em Inglaterra, em carta enviada de Londres a 21 de Janeiro de 1914 e dirigida a José Relvas, a propósito do seu afastamento da embaixada de Madrid: "A sua saída de Madrid impressionou-me imenso e constitui um caso de muita gravidade que demandaria largas considerações, se não fosse já facto consumado e irremediável. Os políticos em Portugal, no seu desconhecimento das conveniências e exigências internacionais, nem de longe lhe mediram o alcance. O José Relvas não põe ao serviço da República somente a sua inteligência, dedicação e trabalho, põe também o seu nome, o prestígio da sua origem fidalga, a experiência do trato social, a sua fortuna, e isso tudo de colaboração com uma Senhora que será sempre distinta entre as mais distintas" (João B. Serra (coord), José Relvas, o Conspirador Contemplativo. Lisboa, Assembleia da República, 2008. p. 98).

Relvas, embaixador em Madrid, retratado pelo pintor espanhol Asterio Mananoz

1 comentário:

João Ramos Franco disse...

Tudo aquilo que aprendo hoje em Historia contigo, leva-me a pensar no meu passado de jovem estudante, numa disciplina de que gosto e quanto gostaria de ter tido como Professor. Mas está descansado, porque atentamente vou aprendendo contigo.
Um abraço do sempre amigo
João Ramos Franco