sábado, 22 de outubro de 2011

À janela de Eça

Jazer, jazer em casa, na segurança das portas bem cerradas e bem defendidas contra toda a intrusão do mundo, seria uma doçura para o meu Príncipe se o seu próprio 202, com todo aquele tremendo recheio de Civilização, não lhe desse uma sensação dolorosa de abafamento, de atulhamento!
Julho escaldava: e os brocados, as alcatifas, tantos móveis roliços e fofos, todos os seus metais e todos os seus livros, tão espessamente o oprimiam, que escancarava sem cessar as janelas para prolongar o espaço, a claridade, a frescura.
Mas era então a poeira, suja e acre, rolada em bafos mornos, que o enfurecia:
 - Oh, este pó da Cidade! 

Eça de Queirós, A Cidade e as Serras. Porto, Livraria Chardron, 1901.

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