terça-feira, 8 de setembro de 2009

Mudanças

A pandemia gripal vai interromper o caminho que na sociedade portuguesa estavam a fazer os contactos físicos entre pessoas: o aperto de mão, o abraço, o beijo, o toque, o afago. 
Numa sociedade marcada pela ruralidade e pela rigidez da estratificação social, os sinais de proximidade física entre pessoas surgiram como uma novidade recente. Ganharam dimensão e informalidade nas últimas duas décadas, percorrendo toda a escala social. Uma fisicalidade afectiva ganhou expressão nova nas relações inter-pessoais dos portugueses.
Os riscos de contágio vão obrigar cada um de nós a policiar esses gestos quotidianos, reduzindo-os ou eliminando-os. Vamos acentuar a nossa insularidade, criando uma espécie de cordões sanitários em volta dos nossos próprios corpos. 
Ficaremos irremediavelmente mais afastados uns dos outros?
Voltaremos a recuperá-las um dia, as afabilidades que começáramos a cultivar? 

3 comentários:

Paulo G. Trilho Prudêncio disse...

Viva João Serra.

Talvez fosse uma boa ideia instituir o dia do aperto de mão (cinco apertos obrigatórios a pessoas desconhecidas).

Sem brincadeiras, a questão que levanta já está a fazer o seu caminho. Com ou sem pandemia efectiva, os hábitos já mudaram; estou convencido que depois tudo voltará à normalidade embora algumas alterações deixem rasto, naturalmente e em todas as situações epidémicas.

Abraço.

SucoDaBarbatana disse...

Nunca tinha pensado nisso, confesso, e não senti ainda, na minha vida profissional nem privada, qualquer alteração de hábitos, mas suponho que ela seja inevitável.
A duração e a gravidade da pandemia determinarão provavelmente se haverá um simples "intervalo sanitário" nos contactos físicos ou uma suspensão mais prolongada na forma de interagirmos socialmente. Como não vamos sincronizar todos o dia e hora da mudança, surgirão certamente situações caricatas e constrangedoras.
Mas é um facto que com menos contacto físico (a curto ou a longo prazo)as relações entre as pessoas serão certamente diferentes, mais pobres e menos empáticas, e isso é socialmente empobrecedor.
Algo de semelhante, guardadas as devidas proporções, se passou com a Sida e os hábitos sexuais de grande parte da população mundial nos últimos vinte anos.

Anónimo disse...

Meu Caro Professor João Serra:

Tenho resistido à tentação de "comentar" os seus post's diários que tanto aprecio.

Entre outras razões para lhe manifestar o agravo pela não visita....

Esta agora da fisicalidade ser afectada pela pandemia....deixou-me de tampa solta....

Oh Professor João Serra, acredita mesmo nisto?
Acha mesmo que as pessoas vão guardar algum cordão sanitário?
Se relativamente à SIDA não o fizeram, acha que o vão fazer com "uma Mediática Pandemia de Gripe Suína"????

Nunca se vendeu tanto alcool-(Gel/Toalhetes/Dispensadores/Máscaras, e mais uma quantidade de artigos associados à desinfecção...
Isto é uma neurose, que como tudo, passa....

Eu acho este seu post uma provocação!
(E só pode fazer sentido..se alguma das suas fãs o repeliu de algum ósculo bem dado, porque o Senhor Professor estava constipado.....)

Um Abraço

PSimões