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sexta-feira, 6 de março de 2009

Viva a República!

Uma página de história política contemporânea: 10 de Março de 1976, a Assembleia Constituinte delibera sobre o nome que terá na Constituição da República o Parlamento.

O Sr. Presidente: - O Sr. Deputado Mota Pinto tenha a bondade.
O Sr. Mota Pinto (INDEP.): - Sr. Presidente, Srs. Deputados: Apesar de o meu amigo e colega Jorge Miranda já ter dito que perdemos muito tempo com esta questão, eu sinto-me também no direito de emitir uma opinião a este respeito.
[...] Eu creio que poderíamos chamar à Assembleia Legislativa, pura e simplesmente, Assembleia da República. Assembleia da República, porque é o órgão colegial que exprime e traduz a República.
Há o Presidente da República, uma figura singular, que encabeça e simboliza, portanto, o Estado. E há um órgão colegial que exprime, que é o representante do povo português. Creio que esta expressão que está em paralelismo com a designação «Presidente da República», põe em relevo o carácter colegial, reabilita e dá o devido valor a uma fórmula: a palavra «República», que na história das ideias, que na história das formas de Estado, tem um conteúdo progressista, tem um conteúdo democrático, é sinónimo de democracia em todas as dimensões que a democracia pode exprimir. Por esse motivo, e sem atribuir a este problema nenhuma importância especial, eu sugeriria a fórmula «Assembleia da República».
O Sr. Presidente: - Um pedido de esclarecimento do Sr. Deputado Jorge Miranda.
O Sr. Jorge Miranda (PPD): - Sr. Presidente, Srs. Deputados: Um pedido de esclarecimento.
Por sinal, já há pouco o Sr. Deputado José Luís Nunes, tinha sugerido, em conversa informal, o termo «Assembleia da República», e por isso eu estou muito satisfeito por haver essa concordância dos bons espíritos que são o Deputado Mota Pinto e o Deputado José Luís Nunes.
[...] Mas queria perguntar se ele não se terá inspirado na expressão «Congresso da República», da Constituição de 1911. Pela minha parte, e em meu nome pessoal, seria mais uma homenagem que esta II República democrática portuguesa prestaria aos homens da I República.
O Sr. Presidente: - Sr. Deputado Mota Pinto, diga da sua inspiração.
O Sr. Mota Pinto (INDEP.): - Sr. Presidente: Eu creio que este pedido de esclarecimento é um pedido de perscrutação dos motivos subconscientes que me levaram a propor esta fórmula. [...] Acho que a palavra «República» exprime alguma coisa na história das ideias e dos sistemas de Governo, que comporta potencialidades no domínio político, no domínio social e no domínio económico correspondentes a uma sociedade democrática em todos os seus desenvolvimentos. Só por isso.
O Sr. Presidente: - Tem a palavra o Sr. Deputado José Luís Nunes.
O Sr. José Luís Nunes (PS): - Sr. Presidente, Srs. Deputados: Valha a verdade que diga que a expressão «Assembleia da República» me foi sugerida pelo meu colega e camarada Carlos Candal, depois de ter ouvido uma série de Deputados do grupo parlamentar.
[...] Dito isto, Sr. Presidente, Srs. Deputados, nós damos a nossa adesão à designação de Assembleia da República.
Mas gostava de dizer uma coisa, a finalizar. É que esta discussão, ao contrário do que se pensa, de forma nenhuma foi uma discussão estéril. Os símbolos e as designações dos órgãos têm um aspecto emocional de tal ordem importante que, em 5 de Outubro de 1910, os homens da República, embora continuando a tradição liberal dos homens do passado que fundaram a Nação, substituíram a bandeira azul e branca pela bandeira verde-vermelha. Bandeira hoje que é nossa e que orgulhosamente arvoramos. Portanto, ao fazermos, ou ao chamarmos à assembleia representativa do povo português Assembleia da República, nós, de certa maneira, reafirmamos a vinculação eterna e para sempre do nosso destino aos ideais nobres de justiça e fraternidade do 5 de Outubro de 1910 e aos homens eminentes que os incarnaram.
O Sr. Presidente: - E até, se me permitem, vai-nos proporcionar - desculpem esta intervenção um bocadinho atrevida - que nos nossos comícios do futuro se dêem vivas à República, que é uma coisa que nunca ouvi. Não se dão vivas à República. Dá-se vivas à Revolução, vivas a Portugal - raríssimas vezes; que me recorde, nem tenho lembrança de nenhuma vez em que se tenha dado vivas à República em comícios.
Mas parece que continua em discussão.
[...] O Sr. Presidente: - Vem então a proposta?
Suponho, se estiverem de acordo, que a poderíamos votar.
Ela vai entrar na Mesa, com certeza, com as assinaturas recolhidas e eu peço licença para sugerir à Assembleia que, dada a solenidade deste acto, porque se trata de um acto eminentemente solene para a nossa vida pública, a votação será feita de pé por todos os Srs. Deputados. Os Srs. Deputados que aprovam tenham a bondade de se levantar.
Submetida à votação, a proposta foi aprovada por unanimidade.
Aplausos prolongados.
O Sr. Presidente: - Temos dez minutos. Vamos aproveitá-los. O Sr. Deputado Jorge Miranda.
O Sr. Jorge Miranda (PPD): - Sr. Presidente, Srs. Deputados: É para uma breve declaração de voto. Votando a designação «Assembleia da República» para a Assembleia representativa de todos os portugueses, o Grupo Parlamentar do Partido Popular Democrático deseja, em primeiro lugar, manifestar a sua satisfação pelo consenso que, apesar de todas as divergências reais que existem, foi possível estabelecer nesta Assembleia Constituinte. Deseja reafirmar a sua fé nos valores de liberdade, igualdade e fraternidade que estão associados ao termo «República» e deseja, por último, declarar que entende esta votação de algum modo como uma nova rectificação solene da proclamação da República em Portugal, tal como aconteceu com a Assembleia Constituinte de 1911.
O Sr. Presidente: - O Sr. Deputado José Luís Nunes.
O Sr. José Luís Nunes (PS): - Sr. Presidente, Srs. Deputados: Em primeiro lugar, quero sublinhar, tal como fez o Sr. Deputado Coelho dos Santos, que foi o Sr. Deputado Mota Pinto o primeiro a propor esta designação; em segundo lugar; congratular-me por se ter conhecido um tão amplo consenso e por ter sido o meu grupo parlamentar a levantar o problema de uma designação que foi possível enfim melhorar; em terceiro lugar recordar aqui, assim e publicamente, que a designação deste órgão como Assembleia da República é de certa maneira a reentrada nesta Sala de todos aqueles que desde o dia 28 de Maio de 1926, sob a violência e sob a força das armas, a abandonaram e nunca mais voltaram aqui a entrar.
É, de certa maneira, o regresso a esta Casa de Afonso Costa; é, de certa maneira, o regresso a esta Casa de António José de Almeida e António Sérgio; é, de certa maneira, o regresso a esta Casa do último Presidente da República Portuguesa, o último chefe do Governo, António Maria da Silva e Bernardino Machado; é, de certa maneira, o regresso a esta Casa de todos os homens da República que pelos caminhos do exílio tanto se sacrificaram e tanto sofreram e tanto lutaram pela liberdade do povo português. 
É a entrada nesta Casa novamente da sopro da liberdade e do livre pensamento a que esteve tanto tempo alheia; é, em verdade, a restituição do Palácio de S. Bento à sua verdadeira função de Assembleia dos mais altos representantes da Nação e é, também, e sé permitem a entrada aqui dentro de todo um cortejo de sombras, de todos os nossos companheiros que ao longo desta luta morreram e que não puderam aqui estar connosco.
É também a vitória e a entrada aqui dos homens da resistência de Carlos Cal Brandão e José Dias Coelho, que durante a longa noite fascista foram capazes de lutar pela liberdade.
É também a entrada nesta Casa dos revolucionários do 3 de Fevereiro e do 7 de Fevereiro e dos revoltosos da Marinha Grande.
E se permitem, correspondendo a um apelo do nosso Presidente, Srs. Deputados, meus camaradas:
Viva a República!
Vozes: - Viva!
Aplausos prolongados.
O Sr. Presidente: - Meus senhores, parece-me que depois deste acto emocional não levariam a mal ao Presidente que encerrasse a sessão, porque não vamos agora descer a meia dúzia de minúcias.
Considero comovidamente encerrada esta sessão.

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

República

Alguém sublinhava ontem: aquela cerimónia, da investidura de Barack Obama,  foi uma celebração republicana como há muito se não via.
É certo. A República teve um dos mais expressivos momentos de consagração da sua história porque o resultado da escolha popular americana sublinha de forma eloquente uma impossibilidade do princípio monárquico do preenchimento da chefia do Estado por linha sucessória. Alguém como Obama (que, como diz Carlos Gaspar, não é branco e também não é negro), não teria podido aspirar ao que obteve, se os Estados Unidos fossem uma monarquia.
Mas, além disso, toda a cerimónia foi percorrida por um fio emotivo, uma vibração patriótica (chamemos-lhe assim), uma adesão genuina à unidade republicana (unidade na diversidade e na pluralidade) que pôs em evidência a força mobilizadora e integradora da República, particularmente relevante em tempos de crise.

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Primeira República

Pequeno mas interessado auditório na Biblioteca-Museu República e Resistência da Câmara Municipal de Lisboa para ouvir falar, ontem ao fim da tarde, do funcionamento da nossa República, entre 1910 e 1926.  O sistema baseado na supremacia parlamentar revelou, logo nos seus primeiros quatro anos de vigência, tensões, bloqueios e quebras de legitimidade, de que não podem ser responsabilizados apenas factores externos e conjunturais. O facto de a Constituinte ter procedido, depois de aprovada a Constituição, à designação dos órgãos nela previstos, sem recurso a nova eleições teve consequencias preversas. Os primeiros governos constitucionais não resultaram de um parlamento formado atravás de eleições expressamente convocadas para esse efeito. Não foram responsabilizados por uma maioria nem por um presidente em consonância com ela. O único grupo parlamentar dotado de alguma consistência e disciplina era minoritário. Os governos dispuseram de apoios parlamentares variáveis, o mesmo é dizer que se viveu desde o princípio instabilidade governativa. Os partidos que se constituiram em 1912 e partilharam pastas governativas não tinham passado pelo crivo das urnas.

domingo, 5 de outubro de 2008

No alfarrabista (II)

Ida, na passada quarta-feira, à Livraria Castro e Silva (Rua do Norte), para ver um lote de documentos manuscritos e impressos relativos à actuação do Partido Republicano em Pombal.
Entre eles, encontro referências directas e indirectas às eleições de 1911 para a Assembleia Constituinte. Num contexto em que a lei eleitoral previa expressamente que, nos círculos onde só concorresse uma lista, esta seria automaticamente considerada eleita, dispensando-se a votação, o círculo de Pombal foi palco de uma acirrada disputa eleitoral entre duas listas republicanas. Estudei o assunto em "Para a história da República nas Caldas. As origens de um conflito político: antigos e modernos, radicais e moderados", in 21 Anos, pela História. Caldas da Rainha: Estudos, Notas e Documentos, 2003, e "Elites locais e competição eleitoral em 1911", in Análise Social, nº 95, 1987.
Os dois documentos aqui reproduzidos são cartas trocadas entre a Comissão Paroquial Republicana e o Directório do Partido em Abril/Maio de 1911 e respeitam à elaboração das listas de deputados. A Comissão Paroquial protesta por não ter sido consultada para a elaboração da lista do círculo e o Directório responde que "os deputados são da nação e não das localidades". No entanto, informa que José Cupertino Ribeiro está disposto a ser candidato pelo círculo.

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Passagem, em seguida, pela Livraria Luis Burnay (Calçada do Combro), onde me encontro com um catálogo de Paula Rego e uma pequena brochura sobre Alice Jorge (ver posts seguintes)