sexta-feira, 17 de junho de 2011

Marie-Laure

Conheci Marie-Laure no Eliseu. Viu-me olhar com insistência a baixela do jantar oficial e incitou-me a virar o prato para reconhecer a marca da porcelana. Era Sèvres, evidentemente, e daí partimos para uma breve conversação sobre porcelanas. Verifiquei que o seu interesse pelos temas que implicavam Portugal era genuíno e não apenas circunstancial ou mundano. Inquiri do motivo pelo qual se interessava e aparentemente conhecia alguma coisa do nosso País. Nessa altura já tínhamos evoluído das cerâmicas para a literatura e eu percebera que vários poetas portugueses lhe eram familiares. É certo que o marido, a par da carreira diplomática e politica, era autor de livros de poesia, mas isso não explicava tudo. Confidenciou-me que Villepin estivera em posto na Índia, alguns anos atrás. Estabelecera então o casal relações de especial amizade com o embaixador de Portugal em Nova Deli, o escritor Álvaro Guerra. A este convívio se devia pois o conhecimento aprofundado da cultura portuguesa. Falámos um pouco sobre a Índia, onde Maria-Laure criara os filhos, num ambiente contrastado que a ensinara a repensar a fronteira entre o supérfluo e o indispensável. Depois a conversa centrou-se nos vinhos. Quis saber tudo o que eu sabia sobre a história e as características dos vinhos portugueses e em especial do vinho do Porto. Mostrou-se preocupada com os efeitos da globalização sobre a produção dos vinhos e o papel dos críticos na consagração das tendências do gosto. Aconselhou-me com grande entusiasmo o documentário Mondovino, de Jonathan Nossiter acabado de editar (2004).
Leio no Paris Match, que decidiu seguir um caminho próprio, depois de anos de solidão, a solidão imposta pela vida politica do marido, Dominique de Villepin. Assina agora Viébel e as suas esculturas marítimas, douradas e sensuais percorreram as galerias de Estrasburgo e Veneza.

1 comentário:

Isabel X disse...

Eis um belo caso, uma história edificante (sem ironia) que, pelo exemplo que constitui e pela dignidade que encerra, faz lembrar uma versão moderna doa antigas histórias de encantar.

Mas em sentido inverso, o que a torna muito mais interessante: isto é, não se trata da princesa que casa com o prícipe encantado e com ele vive feliz para sempre... mas da gentil antiga primeira dama que decide ter vida própria e fazer belas peças de arte que, de alguma maneira, se parecem com ela.

É bom haver um caso de vida assim. Faz crer na nossa capacidade redentora. Faz ver quão distantes da verdade estão os estereótipos com que avaliamos as pessoas. Afinal, todos somos seres humanos com medos, frustrações, anseios, esperanças e sonhos. Uns lutam pela sua realização e outros não...

- Isabel X -