terça-feira, 7 de junho de 2011

Com Camilo, em Florença (3)

Escreve Méry a respeito de Florença: «Não me espanta que proscriptos e exilados, violentamente arrancados aos costumes de suas patrias, se lancem nos braços d'aquella Florença, que é mãe commum dos que padecem, e para todos se desentranha em palavras consoladoras...» E n'outro relanço das suas Noites de Italia: «Entende-se facilmente que homens e mulheres de alto porte, condemnados a exularem, pelo infortunio d'esta epocha tão atormentada, confluam a Florença de todos os pontos da Europa. O exilio aqui é menos penoso: não será paradoxo termos em conta de exilados todos os que vivem longe d'aquella cidade.» Bartholo de Briteiros, guiado pelo instincto, e não pelos viajantes—que o magistrado não lia viajantes—deu comsigo na formosa Toscana. Estanceavam por lá, em 1834, polacos proscriptos e muitos refugiados nobres da França, cujos exforços se mallograram na Vendéa. O palacio Orlandini, onde residia o principe de Monfort, irmão mais novo do imperador Napoleão, era o receptaculo de todos os proscriptos illustres, em nascimentos, artes e sciencias. Bartholo de Briteiros, tinha a illustração triplicada da fortuna. Era notorio que elle mobilara faustosamente um palacio campestre em Poggi Bonzi, e d'alli saia de passeio, em graciosa berlinda, com suas filhas, a Val d'Arno, á Poggia Imperiale, e a quantos pontos convergia a nobreza toscana. Isto lhe dera renome e accesso aos palacios Orlandini, Ricchardi, Strozzino.


Camilo Castelo Branco, Agulha em Palheiro, 2ª edição, 1865.

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