domingo, 26 de abril de 2009

Desejo irreprimível de Liberdade

O alferes miliciano Jaime José Matos da Gama, licenciado em Filosofia, foi um dos actores do 25 de Abril de 1974. Ninguém hoje tem dúvidas de que é um dos políticos mais bem preparados e experientes da geração que fez a Democracia. Registo do mais interessante discurso de ontem, o do "general" no activo  Jaime Gama:

Há muitos anos, participo nesta sessão solene, penso não ter faltado a nenhuma, e aqui reencontro, sempre, nesta manhã de feriado, os mais altos responsáveis do país. Até aqui chegar, a tranquilidade serena das ruas de Lisboa permite-me por alguns momentos rever os factos do dia, desse dia, desde a véspera, o compromisso de honra, a distribuição das missões, a incerteza do resultado, a recepção das senhas, desde a noite, a acção essencial, a tomada das posições-chave, a surpresa, desde o toque de alvorada, a formatura, as primeiras movimentações exteriores, as resistências possíveis, o crescendo da manobra , a incerteza dos resultados, as intervenções decisivas, as imagens simbólicas, o início da curiosidade e do apoio, a vitória sem ódio, a fraternidade, a libertação, a paz, e a esperança.
A essa sequência de recordações vou também buscar inspiração e alento para a mensagem, essa mais formal, que depois vos transmito e ao país, com a consciência do caminho percorrido, nas suas dificuldades e insucessos, nas suas angústias e sofrimentos, mas também nos inegáveis legados, obra de todos, que fomos capazes de conseguir. E descubro, novamente, que, em cada momento verdadeiramente decisivo das nossas vidas, para além da incerteza dos resultados, que, à partida, ninguém pode ter nunca como adquiridos, desde a véspera, desde a noite, desde a alvorada, é sempre a força serena das nossas ideias, o compromisso generoso com aspirações nobres, o desejo irreprimível de liberdade e de justiça que acabam por fazer o seu caminho, triunfar e vencer, e isso mesmo me leva a concluir, que no melhor do nosso espírito devemos permanecer abertos e disponíveis para que cada dia, todos os dias, o nosso coração saiba acolher a luz, a graça, e o dom imensos de um sempre novo 25 de Abril.

3 comentários:

Anónimo disse...

...."no melhor do nosso espírito devemos permanecer abertos e disponíveis para que cada dia, todos os dias, o nosso coração saiba acolher a luz, a graça, e o dom imensos de um sempre novo 25 de Abril."

Partilho por inteiro deste voto!
MV

Isabel X disse...

Um texto cheio de ritmo, apelando à memória das experiências próprias, o que torna mais eficaz a transmissão da mensagem que é também um testemunho. O alcance de um significado maior é garantido pela serena meditação sobre o significado desse dia, em cada dia, todos os dias da vida de quem escreve.
Inesperadamente, lá está uma pérola, bem escondida, dentro de uma improvável concha!
- Isabel X -

João Ramos Franco disse...

São palavras ditas por um homem que viveu o dia em que a Liberdade voltou e seu desejo é que ela se perpetue para sempre.
João Ramos Franco