segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Só por ser humano

Condição


Ergo os braços ao céu, desesperado,
Lama rasteira, nem ao menos posso
Ter a nobreza altiva dos penedos!
Em vez de lanças de granito, dedos
De carne e osso
Num leque de impotência!...).


Com a corda ao pescoço,
peço clemência
a quem, a que tirano?
a nenhum Deus que veja
Ou anteveja...
Peço clemência, só por ser humano.

Miguel Torga, Diário IX.

1 comentário:

Isabel X disse...

Paradoxalmente (ou talvez não), quanta força num poema em que o poeta, humano, declara a sua impotência e pede clemência. É nesta condição proclamada deste modo intenso que reside a ferocidade de alguém que dizendo o que diz o seu contrário: quanto mais valem e mais se pode fazer com dedos de carne e osso do que com lanças de granito!...
- Isabel X -