terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Nota melancólica no 1º de Dezembro

Dia do orgulho pátrio, invenção republicana, já o foi. Hoje arrasta um destino incerto. O 1º de Dezembro sinaliza a viabilidade portuguesa na Ibéria. O Estado democrático lida mal com este tema e a sociedade civil ignora-o. O debate académico pequena atenção lhe presta e a identidade é problemática que não desperta o espaço mediático.
A União Democrática do Centro, um partido da direita popular suiça, colocou na agenda política o direito de construção de mesquitas com minaretes. A Confederação convocou os suiços a pronunciar-se em referendo. Apesar das sondagens - que como se sabe na Suiça são realizadas por empresas portuguesas - terem verificado um desinteresse geral e previsto uma vitória da abstenção, registou-se uma votação massiva e 57% dos votantes disseram não.
Em França, os efeitos desta interdição teme-se que sejam contaminadores. Depois da questão do uso da burca, agora é a questão dos cemitérios muçulmanos quando a segunda geração de emigrantes quer ser inhumada em solo francês. O Estado laico lida com o multiculturalismo através do referendo ou da lei? Na Europa, a segunda religião é islâmica.

5 comentários:

Xico disse...

Caro João Serra,
Só fala da falta de pão quem não tem brioches para comer.
A identidade portuguesa na Ibéria não é mediática porque houve o 1º de Dezembro.
Na Catalunha não houve e veja lá se é ou não mediática a problemática da identidade?
Só nos lembramos do que nos faz falta quando o perdemos.

Isabel X disse...

Os republicanos procuraram substituir o culto religioso pelo culto cívico, no âmbito da laicização da sociedade, que consideravam prioritária.
Neste sentido (também), apressaram-se a instituir (decreto de 22 de Novembro de 1910) o 1º de Dezembro como dia da independência pátria, e como dia da festa da bandeira, que ainda nesse ano deveria ser saudada junto do monumento dos restauradores.

Este post mostra quanto a
realidade torna actual a questão da laicização.

Todos os republicanos, penso, concordaram com a necessidade de separar as Igrejas do Estado. Mas alguns alertaram para as dificuldades inerentes à crença de que era possível acabar dfinitivamente com a religião.
Sampaio Bruno, por exemplo, mas também Basílio Teles. O primeiro chegou a ser agredido por isso, acusado de fazer o jogo do clericalismo, ele que nunca o fora. É trágico ter razão antes de tempo, principalmente quando se colocam em causa princípios revolucionários em plena revolução.

Há passagens de Sampaio Bruno que encontrei citadas em Fernando Catroga, que tenho vindo a ler, "O Republicanismo..." e que considero dignas de reflexão:

"...mesmo que o livre-pensamento conseguisse fazer desaparecer da terra a desigualdade económica, a distinção entre pobres e ricos, as angústias da miséria", só se "poderia conjecturar que desaparecesse a religião, se não ficassem na terra ainda o mal natural, as enfermidades e o sofrimento, e o mal moral, as dúvidas e os zelos, as tristezas sem remissão e os remorsos que nada mitiga. Estas seriam outras tantas janelas entreabertas à suscitação religiosa, se de todo a porta lh'a não escancarasse a Morte." (Coimbra, 1991. II vol., pág. 352)

Perante os exemplos que o João dá, urge reflectir nestes temas que, de consciência tranquila, julgamos resolvidos. Devemos apostar na tolerância, não na indiferença.
- Isabel X -

Paulo G. Trilho Prudêncio disse...

Viva.

No livro de Jacques Delors "A educação - um tesouro a descobrir" esta questão tem uma abordagem interessante e polémica.

Defende-se que o denominado fenómeno do multiculturalismo contribuiu na europa para acentuar as bolsas de ghetização com todas as consequências conhecidas. Invoca-se como negativa a preservação a todo o custo das matrizes culturais de origem por parte das comunidades que se iam "ghetizando", digamos assim.

O que se propõe é a ideia de interculturalidade, persuadindo as diversas comunidades, através da educação, para a "normalização" de costumes que assentem num valor primeiro: a liberdade entendida como impossibilidade de invasão no espaço de liberdade do outro.

Estamos numa encruzilhada?

Talvez. Mas é sempre preferível a tolerância acompanhada da ideia da não desistência.

Abraço.

Isabel X disse...

Não resisto a transcrever ainda, a propósito do referendo suiço, uma citação dum artigo que acabei de ler:
"O Público compilou as indignações e concluiu que a votação no referendo reflecte o fosso que divide a Suiça "moderna" da Suiça "tradicional". Aparentemente, a Suiça "moderna" é a que defende a abertura indiscriminada da sociedade aos valores do Islão. Engraçado. Estava convencido do inverso, ou seja, de que a modernidade implicava a separação entre o Estado e a religião, um exercício que o Ocidente tem realizado com relativo sucesso e o mundo muçulmano, como a designação sugere, nem por isso. Afinal, nada é tão simples e tudo depende da religião em causa. (...)
Se os suiços exageraram ao não distinguir os pobres minaretes da genérica opressão social associada ao Islão, a verdade é que os devotos do Islão também não distinguem. E os que arriscam distinguir não vão longe."
- in Revista Sábado, Alberto Gonçalves, Juízo final -

- Isabel X -

Anónimo disse...

PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA
Decreto do Presidente da República n.º 115/2009
de 9 de Dezembro
Nos termos dos n.os 2 e 8 do artigo 8.º do Decreto -Lei
n.º 17/2008, de 29 de Janeiro, na redacção dada pelo
Decreto -Lei n.º 43/2009, de 13 de Fevereiro, exonero, a
pedido do próprio e sob proposta do Governo, o Vogal da
Comissão Nacional para as Comemorações do Centenário
da República João José de Sousa Bonifácio Serra.
Assinado em 30 de Novembro de 2009.
Publique -se.
O Presidente da República, ANÍBAL CAVACO SILVA.

O que se passou? Foi mesmo por vontade própria? Porque não dá notícias aqui desde há oito dias?