sexta-feira, 22 de maio de 2009

Bénard da Costa

Era dos principais animadores do Tempo e o Modo que resistiu à fase da viragem à esquerda da revista  no final da década de 60 quando me apercebi da sua existência. Alguns dos meus amigos tinham sido seus alunos no Liceu Camões e não hesitavam em lhe atribuir o qualificativo de "o melhor professor que tivemos". Há tempos estive a rever a entrevista que João Bénard da Costa fez a Manoel de Oliveira onde todo o seu extraordinário saber cinéfilo e sobretudo a sua apuradíssima sensibilidade para a estética do cinema se revelam. Os seus livros de crónicas sobre filmes e actores são obras de consulta e de releitura.
Dirigiu o jornal de campanha do candidato presidencial Jorge Sampaio em 1995. Foi nessa altura que verdadeiramente nos conhecemos. Trabalhei com ele em múltiplos 10 de Junho. João Bénard sucedeu a António Alçada Baptista em 1998 na presidência da Comissão do dia 10 de Junho durante o dois mandatos do Presidente, de quem aliás era amigo pessoal. Os discursos que proferiu nesses dias são peças de antologia de uma retórica feita de alusões literárias, de referências cinéfilas, de observações políticas elegantes, de discretas embora pertinentes invocações filosóficas. 

5 comentários:

Isabel X disse...

Bénard da Costa é um dos portugueses que melhor o soube ser. Muita falta faz a dignidade que sempre trouxe ao 10 de Junho, também pelos discursos de uma beleza singular que então proferiu (e como é referenciado neste blogue). Sinto a sua perda de um modo pessoal, como um desgosto. Para além do cinema, era por ele que sabia de muitas exposições de arte que iam por esse mundo, ou de óperas, ou de tantos outros acontecimentos culturais. Por ele soube de autores que se tornaram para mim fundamentais, como Etty Hillesum (lendo-a tornei-me diferente) e Jean Paul. Habituei-me a seguir o seu conselho tão sábio. Já vi hoje na televisão que um jornal avança na primeira página que Bénard da Costa não acreditava no fim. Eu também não.
- Isabel X -

João Ramos Franco disse...

Há uma riqueza na minha vida que agradeço ao Luiz Pacheco, o conhecimento de personagens da vida intelectual do nosso País.
Aqui estão citados dois, João Bénard da Costa e António Alçada Baptista, com quem tive o prazer de muito conversar e aprender.
Sobre Bénard da Costa, as palavras da Isabel X, dizem tudo o que eu poderia escrever como comentário.
João Ramos Franco

Anónimo disse...

In Memorium
Lembro muita humanidade na cultura erudita e na personalidade de Bénard da Costa.Lembro as suas recentes crónicas, tão densas quanto clarividentes de cruzamento da arte com a alta cultura.Algumas recortei-as e guardei-as como referências, outras registei-as como lições de arte, para sempre....até sempre.
NB

Anónimo disse...

Duro, o fim; sem dúvida.

Abraço.

Paulo Prudêncio.

Isabel X disse...

Obrigada João Ramos Franco! Já sabia da sua delicadeza de sentimentos, que tenho tido ocasião de presenciar neste blogue. Fico feliz pela sintonia que comigo sente quanto a Bénard da Costa. Mais do que possa imaginar, talvez!
- Isabel X -