sábado, 23 de julho de 2011

O Museu do Côa

Mais do que um tributo à arte rupestre e ao "vale encantado" do Côa, o novo museu começa por prestar tributo à ... arquitectura. Essa que, para muitos, será a sua principal qualificação, arrisca-se a ser o seu principal defeito. A exaltação da arquitectura determinou a escolha do local de implantação e condicionou a museografia - que parece banal, face aos compromissos arquitectónicos.
A cidade de Foz Côa pode queixar-se que a localização excêntrica do museu, a transferência dos serviços do Parque para o novo edifício, que vai dispor de cafetaria e restaurante, não se repercutiu, tanto com seria de esperar, no desenvolvimento do tecido urbano.
Resta saber se as articulações entre Administração Central e Local, para lá do estritamente indispensável, tem pautado a concepção e realização deste projecto cultural. Das duas vezes anteriores que visitei o Parque Arqueológico fiquei com dúvidas sobre essas articulações.
O conceito de "Parque Radical" tal como o defini então parece não ter sido reequacionado e, nessa medida, o actual museu confirma-o.
Este museu vira as costas á história, e isso foi o que mais me chocou. Para quem se recorda ainda bem do longo processo político que conduziu ao abandono da construção da barragem, do aturado processo científico que conduziu à validação internacional da singularidade das gravuras rupestres descobertas em 1994, e participou directamente no processo que conduziu à consagração pela Unesco desse património, não há nenhuma justificação para apagar da museografia os traços deste esforço, da controvérsia que lhe esteve associada e do envolvimento de pessoas e instituições as mais diversas.
O pequeno filme, sem legendas nem som, que é exibido a meio do percurso da visita, feito de um recorte de jornal, duas ou três aberturas de telejornal e outras tantas fotografias quase ininteligíveis, com que se alude a uma questão com a que teve na opinião pública a das gravuras do Côa, não tem - pasme-se - mais de um minuto.



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