segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

A implosão...

... do sistema financeiro da globalização continua. Fracasso da regulação? Não, os Estados há muito que dela se tinham retirado. Fracasso da auto-regulação.

Sobre o escândalo Madoff, escreve o editorialista do Le Monde, hoje:
Os franceses BNP Paribas e Natixis, o espanhol Santander, o japonês Nomura, o suiço Union bancaire privé... Em todos os continentes, os banqueiros mais reputados deixaram-se ludibriar durante anos, décadas talvez, por alguém que é já tido como um dos maiores escroques de sempre de Wall Street: Bernard Madoff, gestor de um fundo de investimento que reconheceu ter feito perder aos seus clientes a ninharia de 50 mil milhões de dólares.
Se a crise do subprime tinha evidenciado o risco dos produtos financeiros demasiado sofisticados, o caso Madoff daria vontade de rir, se não colocasse em perigo as economias de inúmeras poupanças, longe de serem todas de milionários. Assenta num mecanismo de uma simplicidade infantil: a remuneração dos investidores mais antigos não é feita através dos lucros obtidos com as suas aplicações, mas com o dinheiro entregue pelos investidores mais recentes, atraídos pela promessa de ganhos miríficos. Enquanto os investidores iniciais não tentarem recuperar os seus depósitos, tudo vai bem. Mas quando eles se retirarem do jogo, a pirâmide cai por terra.
Que um homem de negócios abuse da confiança que inspirou não é novo. Que grandes nomes da finança mundial se comportem como simples particulares colombianos, vítimas nas últimas semanas de um cenário equiparável, é nitidamente mais inquietante. Prova que colocaram dinheiro dos seus clientes sem qualquer preocupação sobre o modo como os ganhos eram obtidos.

4 comentários:

Anónimo disse...

Já nada nos espantará. Julgávamos que a D. Branca era um produto caseiro, uma xica esperta dos bairros populares do nosso país. Afinal exportámo-la para os centros financeiros mais sofisticados do mundo. Volta, mulher, estás perdoada!
MT

Margarida Araújo disse...

Há bem pouco tempo falávamos do mundo que deixariamos para os nossos filhos. Tudo se acelarou de forma tão assustadora:o ambiente, a falência do sistema finaceiro, a corrupção generalizada. Já somos público. Resta-me uma gota de esperança. Para que ainda a vida tenha algum sentido.

João Ramos Franco disse...

Mantenho a esperança no futuro. Mas cada vez mais me encontro envolto pela sociedade (que através da literatura) me levou a conhecer o mundo, a formar o meu conhecimento e a ter uma ideologia. Talvez relembrando as “Almas Mortas de Gogol”, possamos dizer que conhecemos histórias parecidas numa outra época.
João Ramos Franco

Anónimo disse...

Altura para escrever sobre a gula do capitalismo.....fala-se em pirâmide, devia falar-se de espiral (de insatisfação, de apetite voraz, de incontinência material); eis o capitalismo no seu melhor e a essência humana no seu pior....
JG