sexta-feira, 31 de julho de 2009

Quem teve razão?

Escreve o Público de hoje:

O Tribunal Constitucional deu ontem razão às dúvidas de Cavaco Silva sobre o Estatuto Político-Administrativo dos Açores. A lei que o Presidente disse ter soluções "absurdas", por colocar em causa o equilíbrio dos poderes presidenciais e que azedou as relações com José Sócrates. Em resposta a um pedido de fiscalização sucessiva da lei pelo PSD e pelo anterior provedor de Justiça, os juízes consideraram inconstitucionais as normas que obrigavam o Presidente a ouvir os órgãos regionais em caso de dissolução do Parlamento regional e que impedia a Assembleia de rever o Estatuto a não ser por proposta dos deputados açorianos. Cavaco Silva ficou ontem em silêncio.

A pergunta que se deve fazer é: então porque não recorreu o Presidente ao Tribunal Constitucional. Porque não fez uso da sua prerrogativa de pedir a fiscalização preventiva do Estatuto?
Aparentemente, o Tribunal Constitucional, como disse o constitucionalista Jorge Reis Novais, não deu razão ao Presidente, pois este não pôs em causa a constitucionalidade das normas do Estatuto dos Açores.

Os arquivos

O trabalho de "arquivo histórico" é hoje um trabalho que entrou na rotina. É o gosto das antiguidades, a procura das raízes, o interesse pelos antepassados. Fazer a história de pequenas coisas que se passaram tem nisto o seu lugar.
Mas juntar documentos é muitas vezes um trabalho perdido, depois de longamente adiado e laboriosamente realizado. Ou porque ninguém sabe se está feito, ou porque não interessa a ninguém, além daqueles que o fizeram ou que tiveram a ideia de o mandar fazer. Resta a consolação de "um dia talvez".
"Um dia pode servir" é a razão dos arquivos, também dos que não são "históricos", de que a burocracia diariamente se encarrega, ora melhor ora pior, e que são a base dos "históricos".
O que fica escrito nas páginas que se seguem tenta contrariar a habitual inutilidade dos "arquivos mortos". Não é mais do que o resultado dum trabalho de arquivo e do que, apesar de tudo, se vai pensando enquanto se procura, se colige e se arruma. Das associações que se vão estabelecendo entre a Grande História e a pequena história, entre um passado que até aí julgávamos ignorar e o presente que julgamos conhecer.

Eduarda Dionísio, Liceu Gil Vicente. Um arranque invulgar, quando e onde. Lisboa, Escola Secundária Gil Vicente (Núcleo Museológico), 2006. p 3-4.

quinta-feira, 30 de julho de 2009

Maremma Amara

Um canto triste, de meados do século XIX, à Maremma toscana, terra ingrata e pobre. Surpresa na voz de Amália revelada hoje num programa de Rui Pego que procuro não perder ("O Esplendor de Portugal".

Na hora da despedida

À frente do Instituto Politécnico de Leiria, com cuja presidência acumulou, durante largo período, a presidência da estrutura de coordenação dos Institutos Politécnicos públicos portugueses, exercitou invulgares capacidades politicas e acumulou uma sólida experiência de gestão. Deixa um IPL mais implantado regionalmente, mais forte institucionalmente e mais prestigiado nacionalmente. Afirmou uma visão e deu protagonismo a uma estratégia de afirmação do Instituto.
Deixou agora a presidência do IPL para se candidatar à Câmara Municipal de Leiria, na lista liderada por Isabel Damasceno. Aparentemente, o Partido Socialista, de que se tornou militante ao tempo do Secretário Geral Ferro Rodrigues, não soube valorizar o capital politico do Doutor Luciano de Almeida e acomodar a sua legítima ambição. Não se percebe porquê, nem em nome de quê.

quarta-feira, 29 de julho de 2009

Open space

Varda ama as belas praias agrestes e sem sol da Bélgica. Entendo. Ela deambula num areal rigorosamente marcado, como um palco do teatro, por entre um complexo jogo de espelhos. Esconde os oitenta anos num olhar que se não deixa aprisionar e num corpo que ondula por baixo dos vestidos largos. Olha o mar de uma janela imaginária como no quadro que Dali pintou aos 23 anos. Aproxima-se de nós, os pés nus, para falar de uma vida que se entrelaça com o cinema. E depois, como num sonho exótico de criança, traz a praia até à sua própria rua e nela talha um espaço desenhado como um open space, com telefones, computadores, secretárias, gente a trabalhar. O cinema ganhou também a cidade.

terça-feira, 28 de julho de 2009

Cinema

Regresso ao cinema em sala. Para conhecer um novo complexo de salas em Alvalade (Cinema City Classic Alvalade), de que não gostei, e ver dois filmes excelentes. Uma curta metragem de Jorge Silva Melo, Felicidade, uma homenagem ao pai do novo cinema português, Fernando Lopes, e um delicioso documentário de Agnès Varda sobre si própria e o novo cinema francês: As Praias.

segunda-feira, 27 de julho de 2009

Comentário breve

Resisto a comentar detalhadamente o estranho caso de Joana Amaral Dias, uma vez que sou dos que ainda "se não deram conta da sua rara e forte personalidade" (embora confie na rara perspicácia de José Medeiros Ferreira). Ter-me-ia parecido normal que o Secretário Geral do Partido Socialista, ou alguém por ele, a tivesse convidado para desempenhar funções políticas adequadas ao seu perfil e experiência. E não compreendo a indignação de Francisco Louçã que, suponho, não é proprietário nem prisioneiro das opções dos seus companheiros políticos.
O importante, de qualquer modo, é o que este estranho caso ilustra contrario sensu: foram muito decepcionantes os esforços do Secretário Geral do Partido Socialista, ou de alguém por ele, para renovar e abrir a representação parlamentar do PS a gente com actividade relevante e projecção adquirida na sociedade e na intervenção política. O impulso positivo da rejeição das duplas candidaturas merecia ter tido continuidade.

domingo, 26 de julho de 2009

Nomes

Maria só, é isto que eu te gosto primeiro. Nome simples eu odiava desde a hora que, na Escola Sete, os risos dos meninos me mataram no nome da mãe quando eu falei: filho de Paulo tal e tal e de Maria Estrudes e a professora me corrigiu parecia gritava na criada que no nome da minha mãe tinha:
- Gertrudes!
E o teu não, sabes? É por isso que eu, te temendo teus sôfregos beijos que me arrancavam de mim, priminha afastada de quinze anos, só por isso te amo. Simples e raro é o teu nome. Porque eu digo: Maria, só, e não marilena, mariarosa, maria da conceição, da purificação. Tu não tens outro nome que te estrague nessa lisura de pedra mármore da cara e do nome e do sisal dos teus cabelos rebeldes. É fresco o nome, é quente. Maria! - ainda digo no espelho, mas dez anos estão entre esse nome e a fotografia do outro que era eu e suas múltiplas caras no espelho. Maria!, repito. Mas teu nome é só a mancha condensada de vapor na superfície fria do espelho que vai, pouco-pouco, desaparecendo. Nunca o teu nome me lembra criadas que são as marias, como quando tinha de dizer, todos os anos e a todos os professores preenchendo as todas cadernetas da minha vergonha:
- ... mãe: Maria Gertrudes...
E dizia-lhe como se fosse três nomes, três dores: Maria, um; Ger, bem carregado e silabado, dois; e Estrudes como sempre não posso deixar de dizer e é como se dissesse: uma sua criada, como a mãe diz às freguesas deixando serviço para arranjar: chulear, ajur, prega de rendas, caçar as malhas, bainhas.

José Luandino Vieira, Nós os do Makulusu. Lisboa, Edições Cotovia, 2008. p. 36-37.

Encontro de saberes




sábado, 25 de julho de 2009

Festa da cerâmica: terceiro dia

Como não tivemos uma cerimónia formal de abertura da instalação Mercado da Fruta 2, peço licença para aqui lhe dedicar duas palavras. Trata-se de um projecto liderado pela professora Virgínia Fróis e realizado por alunos da Faculdade de Belas Artes sob a orientação dos professores Sérgio Vicente e Ana Vasconcelos. Trata-se de um projecto muito interessante, que retoma o diálogo encetado pela cerâmica das Caldas há 150 anos entre criação cerâmica e natureza, entre mercado de géneros e louça, entre linguagens plásticas, ilusão, costumes e humor.
A crise da indústria não permitiu, deste vez, o envolvimento tão intenso como há dois anos, do meio fabril neste projecto, mas o resultado que hoje vimos ganha outras valências e recupera formas e expressões antigas, transformando-as.
A parceria ajustada entre a Câmara Municipal das Caldas e a Faculdade de Belas Artes de Lisboa tem-se revelado operativa e reflectiu-se de forma muito ampla e positiva nesta edição da Festa da Cerâmica.

Quero em segundo lugar agradecer a Eduardo Constantino a ideia e a respectiva concretização de incluir nesta Festa da Cerâmica uma exposição representativa de cerâmica de autor francesa actual. Estamos pois perante uma mostra preparada exclusivamente para esta Festa. Nela podemos observar os trabalhos de 3 autores reconhecidos, Michel Le Gentil, Armel Hédé, Bruce & Catherine Gould, onde a especificidade do processo cerâmico é combinada com a pesquisa formal, estética e contextual das artes actuais.
Peço licença, por fim, para uma terceira nota. Tendo-me sido ontem lançado o repto de continuar a pensar neste projecto – o de uma realização bienal dedicada à cerâmica nas Caldas da Rainha – gostaria de indicar em que sentido me parece se deveria caminhar.
Em primeiro lugar, no sentido do reforço e ampliação das parcerias já consolidadas: Faculdade de Belas Artes de Lisboa, Centro de Formação Profissional para a Indústria Cerâmica, Escola Superior de Artes e Design das Caldas da Rainha, Escola Rafael Bordalo Pinheiro, Museu de Cerâmica e de José Malhoa, Colectivo 3C, e das colaborações obtidas de diversas associações: associação comercial, industrial do Oeste, dos amigos do Museu de Cerâmica. Algumas deste parcerias talvez possam ser consolidadas através da contratualização de serviços a prestar.
Em segundo lugar, no sentido do reforço significativo da relação com a indústria cerâmica. Neste sentido será lançado um repto às associações do sector e aos empresários para que nos apresentam propostas e velem pela sua execução. Ideias temos algumas, certamente os nossos interlocutores terão mais e melhores. Espero que nos ajudem também a concretizá-las.
Em terceiro lugar, no sentido do reforço da componente de animação desta Festa. A Festa da Cerâmica não é um evento, é uma peça da afirmação e radicação das indústrias criativas e é nesse sentido que a participação dos criadores, o incentivo à experimentação e à inovação, ao empreendedorismo, aos novos conceitos de valorização do espaço público urbano devem ser a marca forte desta Festa. A Festa da Cerâmica deverá ter uma programação cultural própria, adequada aos seus fins e estratégia comunicacional.
Isto implica que alguns aspectos organizativos e financeiros da Festa sejam revistos, de forma a que a sua estrutura adquira mais solidez. Mas esse ponto estaremos certamente a discuti-lo no tempo próprio, de acordo com o calendário institucional que a todos condiciona.
Quero agradecer a todos os que colaboraram desinteressadamente nesta realização. Quero agradecer aos representantes da Comunicação Social que deram a esta Feira um alto relevo.
Quero agradecer à Câmara Municipal, na pessoa da Senhora Vereadora, Senhora D. Maria da Conceição Jardim Pereira, a confiança que em mim depositou. Também quero testemunhar a honra que tenho em ter sucedido nesta missão ao Dr. Paulo Henriques. E quero evocar a memória de um ilustre mestre e amigo que está na origem desta Festa – o Dr. Rafael Salinas Calado – a quem a cerâmica portuguesa tanto deve. Empenhar-me-ei em que próxima edição desta Festa faça do seu papel uma justa evocação.
Quero por fim, lembrar que esta Festa tem como artista convidado mestre Ferreira da Silva e que no dia 26 de Setembro aqui marcamos encontro para homenagear este grande nome das artes portuguesas contemporâneas e nos congratularmos com as suas criações mais antigas ou recentes.

Correspondência de Istambul

Meu Caro Professor João Serra:

Fiquei muito satisfeito de saber que o Senhor Ministro da Cultura, a Convite do Eng. Fernando Nunes, do Eng. Álvaro Tavares e do Dr. José de Arimateia, esteve presente numa Reunião de Trabalho na Fábrica de Cerâmica Bordalo Pinheiro... É importante ir apadrinhando esses Homens, lutadores, perspicazes, com elevado sentido de oportunidade, e sobretudo Gente que põe uma Enorme Seriedade em tudo o que mete em ombros... Homens Bons!
Mas isso o Professor João Serra sabe melhor que ninguém....

Estou de partida de Istambul, com as fotos prometidas.... e levo já saudades desta Cidade. Estou fascinado... tenho que cá voltar...

Um abraço,
PSimões

sexta-feira, 24 de julho de 2009

Festa da cerâmica: segundo dia

Apresentação de um excelente projecto de turismo cultural em torno da cerâmica liderado pelo Professor António José Xavier (Escola Rafael Bordalo Pinheiro), com a colaboração de vários técnicos do Cencal, à cabeça dos quais a Dr.ª Vera Fortes. Abertura da feira de cerâmica de autor na praça do Centro Cultural e de Congressos.
Extra-programa, mas com significado e incidência na cerâmica caldense: visita do Ministro da Cultura à Faianças Artísticas Bordalo Pinheiro, a convite da Administração da Visabeira. Questões empresariais e patrimoniais em análise.
Mestre Velhinho veio de S. Pedro do Corval para passar o testemunho a um jovem aprendiz na olaria montada na praça do CCC.

quinta-feira, 23 de julho de 2009

Festa da cerâmica: primeiro dia

Cabo Verde foi a cultura convidada neste primeiro dia da Festa da Cerâmica das Caldas da Rainha. O batuque, entrecortado por discursos vibrantes e bem humorados da porta voz feminina do grupo, animou a noite do Centro de Artes das Caldas da Rainha. Antes tinha sido o momento da cachupa e do coscuz com leite dormido.

quarta-feira, 22 de julho de 2009

Uma noite inesperadamente agreste


A festa inaugural da recuperação do Jardim da Cascata do Palácio de Belém atraiu uma pequena multidão de convidados. O tempo condicionou a apresentação da ópera, mas a maioria dos convivas não esmoreceu. O Presidente enfrentou galhardamente o contratempo. Registei as suas palavras de simpatia para com o inquilino que o precedeu e respectivos colaboradores.

terça-feira, 21 de julho de 2009

Uma alegoria da prudência

Tiziano, 155o-1565 
(National Gallery, Londres)

segunda-feira, 20 de julho de 2009

Mar da tranquilidade

20 de Julho de 1969:
E ali estávamos nós, os habitantes daquela casa na Avenida João XXI, olhando a televisão no quarto da senhoria, ela deitada, o cão aos pés da cama, surpreendidos, em silêncio, embaraçados perante aquele peso da história que entrava em directo nas nossas vidas. Lembro-me daqueles passos desajeitados de Armstrong, como se de um boneco se tratasse, e do misto de estranheza e rejeição perante aquele gesto de espetar uma bandeira americana no Mar da Tranquilidade. Pareceu-me um pouco ridículo e em certa medida excessivo. Sobretudo pouco generoso da parte do "imperalismo norte-americano", como denominávamos os EUA naquela altura, perante a humanidade perfilada diante dos écrans, humanidade aliás invocada nas célebres palavras do astrona
uta.

sábado, 18 de julho de 2009

Sondagens

Que aconteceu aos nossos centros de sondagens? Que aconteceu aos grupos partidários que as encomendam? Que aconteceu aos media que as divulgam?
Um dos efeitos da instalada desconfiança face às sondagens como instrumento de orientação da estratégia política, é voltarmos aos "sinais de fumo". Sondemos pois as tendências expressas na mobilização dos militantes, na adesão popular, nas correntes de simpatia ou curiosidade que perpassam pelo espaço público.
Neste sentido, António Costa parece ter invertido a tendência sombria e depressiva que rodeava há dois meses a sua candidatura. O próprio candidato ganhou confiança e elan vencedor.
E se a campanha nacional do PS fosse rebocada pela campanha lisboeta do PS e seus companheiros de estrada?

sexta-feira, 17 de julho de 2009

Presidente, maioria

Regressou a tese do reforço dos poderes do Presidente. Como sempre, os argumentos a favor ou contra a expansão da componente presidencial da nossa democracia parlamentar são conjunturais e indexáveis à personalidade política do inquilino de Belém. Assim, por exemplo, um dos "cientistas sociais" (ou "politólogos") que agora se mostra favorável ao incremento dos poderes de intervenção presidencial, defendia há 5 anos a criação de uma segunda câmara e a eleição do Presidente pelo Parlamento.
É tendo em conta determinados cenários - projectando os resultados das europeias nas próximas legislativas - que se vem tentar ressuscitar um pendor presidencialista no sistema político português. Sá Carneiro, nos tempos da AD, popularizou a fórmula "Um Governo, uma Maioria, um Presidente". Chefe de uma maioria, Sá Carneiro queria um Presidente em consonância. Tratava-se de "um presidencialismo de primeiro ministro". Mas hoje o que se quer é talvez "Um Presidente, uma Maioria, um Governo". Esta é a fórmula do Presidente - chefe da maioria. Consequentemente, não um Presidente de todos os portugueses.

quinta-feira, 16 de julho de 2009

Memórias hereditárias a recordar

O chá é uma obra de arte e precisa de uma mão mestra que faça sobressair as suas mais nobres qualidades. Temos chá bom e mau, como temos boas e más pinturas - geralmente más. Não há uma só receita para fazer o chá perfeito, tal como não há regras  para produzir um Ticiano ou um Sesson. Cada preparo das folhas tem a sua individualidade, a sua finidade especial com a água e o calor, as suas memórias hereditárias a recordar, o seu próprio método de contar uma história. O verdadeiramente belo está ali necessariamente. Quanto não sofremos com o falhanço constante da sociedade em reconhecer esta lei simples e fundamental da arte e da vida; Lichihlai, um poeta Sung, comentou tristemente que havia três coisas muitíssimo deploráveis no mundo: o estrago de jovens excelentes através de uma falsa educação, a degradação de pinturas excelentes através de uma admiração vulgar, e a completa perda de chá excelente através de uma manipulação incompetente.
Como a arte, o chá tem os seus períodos e escolas. A sua evolução pode dividir-se toscamente em três estádios principais: o chá fervido, o chá batido e o chá macerado. Nós modernos, pertencemos à última escola.
[...] Nos dias de hoje, o chá chinês é uma beberagem deliciosa, mas não um ideal. As arrastadas lamentações do seu país roubaram ao chá o deleite no significado da vida. Tornou-se moderno, o quer dizer velho e desencantado. Perdeu aquela fé sublime das ilusões, que constitui a juventude eterna e o vigor dos poetas e dos antigos. Brinca com a Natureza, mas não condescende em conquistá-la ou venerá-la. O seu chá em folha é amiúde maravilhoso com aquele seu aroma floral, mas o romance dos cerimoniais Tang e Sung não se encontra na sua chávena.

Kakuzo Okakura, O Livro do Chá. Lisboa, Cotovia, 2007. p. 21, 29.
[1ª edição: 1989]

Como na memória persiste uma reminiscência

O chá japonês, servido invariavelmente sem leite e sem açúcar, que lhe prejudicariam o aroma, é a bebida mais suavemente agradável que possa oferecer-se ao nosso paladar (não de todos porém, mas um paladar sentimental, um tanto sonhador ... que nisto dos nossos órgãos de sentir há temperamentos, aptidões afectivas, características...). O guyokuró, por exemplo, que é o mais celebrado chá de Uji e de todo o Japão, instila tais subtilezas balsâmicas de sabor, que mais parece um perfume; poderia dizer-se que uma maravilhosa alquimia conseguiu liquefazer os aromas das flores - flores dos jardins, flores silvestres -, transferindo do olfacto ao paladar a impressão do gozo. Assim é o guyokuró; claro está que as palavras não podem traduzir senão por comparação as emoções sentidas; e esta, a do agridoce deliciosíssimo que nos fica nos lábios, persistindo, como na memória persiste uma reminiscência, uma saudade, é incomparável...
O chá japonês tem a virtude de mitigar a sede. Assim se explica o hábito dos japoneses não beberem água; mesmo na força dos calores, em pleno Agosto, a chávena de chá, saboreada a goles, lhes dá pleno consolo. Aponta-se-lhe mais outros condões: excita ligeiramente o organismo, combate o cansaço das vigílias, predispõe ao bem-estar, infiltra no cérebro não sei que subtil embriaguez, lúcida todavia, que nos torna mais afectivos às sensações de agrado e mais aptos às elaborações do pensamento.

Wenceslau de Morais, O Culto do Chá. Lisboa, Relógio d'Água, 2008. p. 28-29.
[1ª edição, Kobe, 1905]

quarta-feira, 15 de julho de 2009

Livro sobre a Primeira República

Obra colectiva, coordenada pelos meus colegas e amigos Fernando Rosas e Maria Fernanda Rollo, hoje lançada em Lisboa, na livraria Pó dos Livros. Como sublinhou José Medeiros Ferreira, na apresentação da obra, este é um primeiro contributo da investigação historiográfica para as comemorações centenárias da República.
O apresentador com a inteligência e saber temperados pela ironia habituais convocou a história da historiografia do mais mal amado dos regimes da nossa contemporaneidade, a Primeira República, para apontar o esforço dos que dos anos 70 em diante têm procurado devolver ao período instrumentos de descrição e compreensão inovadores. "A Primeira República foi um regime condenado - em vida por muitos, depois de morto por quase todos. É fácil dizer mal dos regimes que morrem. Imaginem o que se diria da Democracia actual um dia que a Europa e a Democracia desaparecessem" - cito de cór, mas foi mais ou menos assim que José Medeiros Ferreira começou o seu colóquio.

terça-feira, 14 de julho de 2009

Novo desafio

Guimarães capital europeia da cultura assenta num modelo inovador de política para as cidades. Arrancou hoje a concretização deste novo desafio.

segunda-feira, 13 de julho de 2009

No miradouro de S. Pedro de Alcântara

Com o Castelo em fundo, António Costa apresentou a sua recandidatura. Depois de dois anos difíceis, com uma pequena maioria na Câmara e uma maioria adversária na Assembleia (que, é bom recordar, não foi a votos intercalares), mais pelouros que vereadores a tempo inteiro, correr pela liderança de Lisboa é tarefa muito exigente e de resultado incerto.
A alternativa chama-se Pedro Santana Lopes. Tem o apoio do PSD e do CDS, e a conivência do Bloco de Esquerda e da CDU. 

sábado, 11 de julho de 2009

Uma vila rural









Vazios urbanos de uma vila rural (Alpiarça)

sexta-feira, 10 de julho de 2009

Não-lugar

"O instante é inabitável, como o futuro", escrevia Octavio Paz... Crise do lugar, tal como da ligação. Este "não lugar" está em vias de se transformar na questão essencial de uma Transição que sucede à inércia domiciliária das origens, com essa curiosa alteração do senso comum que faz do sedentário de hoje aquele que está em todo o lado em sua casa graças às teletecnologias do portátil e aos transportes de grande velocidade, e que faz do nómada de há pouco aquele que não está em lado nenhum em sua casa. Tudo como se a partir de agora a inversão tivesse chegado ao fim e, na ausência de uma paragem duradoura, tivéssemos tornado a circulação habitável e impróprias e funcionalmente inabitáveis as cidades, como quando o parqueamento se substitui aos nossos antigos espaços públicos.
Perante uma tal situação de facto anacrónica imposta aos políticos de todos os tipos, o problema não é tanto o de uma estandartização dos produtos e comportamentos de uma era industrial esgotada, mas sobretudo o de um sincronização de sensações susceptíveis de influenciar subitamente as nossas decisões. 

Paul Virilio, L'Université du Désastre. Paris, Editions Galilée, 2007. p. 15.

quinta-feira, 9 de julho de 2009

Os números da gripe A

Os números começaram a disparar. Se andarmos próximos da média internacional (e parece que andamos), até ao fim deste mês toda a gente perceberá finalmente que se trata mesmo de uma pandemia e talvez tenhamos os primeiros mortos. As famílias portuguesas faziam bem em adoptar já planos B para as férias de Agosto. Estatisticamente, em meados desse mês, as coisas estarão já bem complicadas. 

quarta-feira, 8 de julho de 2009

Requalificação da Casa dos Patudos (2)

Seja-me permitido, em primeiro lugar, sublinhar, em nome da Comissão Nacional para as Comemorações da República, o facto de a obra que hoje é lançada surgir também como uma homenagem à República - e a primeira -, de que agora se celebra o centenário. O programa das comemorações procura valorizar a cultura histórica, enquanto componente importantíssima da vida cultural e da projecção identitária de Portugal, e, nesse sentido, este gesto da Câmara Municipal é particularmente significativo.
Para a implantação do novo regime republicano, há um século, José Relvas foi decisivo. Pelo que fez, como principal dirigente do Partido Republicano Português eleito no Congresso de 1909, em Setúbal, e pelo prestígio nacional da sua figura de empresário e dirigente associativo de agricultores e viticultores.
As obras de requalificação da Casa dos Patudos que agora se vão iniciar vêm no momento certo e permitirão potenciar a experiência de gestão patrimonial e científica acumulada nos últimos anos.
É sobre estes últimos aspectos, que tenho podido acompanhar há uma década, desde que o Presidente Joaquim Rosa do Céu me convidou para aqui realizar uma conferencia em 1998, que gostaria de deixar três breves notas.
A primeira respeita à necessidade de abrir nesta Casa novos espaços para que o visitante possa conviver mais directamente com o seu fundador. José Relvas legou uma colecção valiosíssima para ser musealizada. Esse desejo foi cumprido. Mas hoje, 100 anos decorridos sobre outro dos seus legados, um legado político e ético, a República, é justo que aqui estejam também à disposição dos visitantes, os elementos de interpretação sobre a sua própria história. Isto implica naturalmente uma redefinição do projecto museológico e um actualização das suas estruturas de base.
Um contributo fundamental para essa redefinição vem, creio, do arquivo de José Relvas, um acervo documental muito rico que abarca a diversidade de interesses e de actividades do seu instituidor, desde o sector agrícola e comercial à intervenção politica, desde a área do coleccionador ao domínio das relações com o mundo das artes. Na salvaguarda desse espólio me empenhei, contando, a partir de 2007, com o apoio institucional e pessoal da Dr.ª Vanda Nunes, primeiro como vereadora da Cultura e depois como Presidente da Câmara Municipal de Alpiarça, e a colaboração empenhada, diligente e informada da Dr.ª Laurinda Santos Paz. Creio que estamos hoje em condições de avançar para a criação de um Centro de Documentação e Investigação José Relvas na Casa dos Patudos, o qual, aliás, acaba de receber um forte estímulo da Fundação Calouste Gulbenkian, que ontem nos comunicou ter aprovado um subsídio ao projecto que lhe apresentámos este ano. Esse projecto pretende valorizar o arquivo em tudo o que respeita ao estudo da formação de uma colecção de arte entre os anos 90 do século XIX e as primeiras 3 décadas do século XX.
A terceira nota respeita ao modelo de governação da Casa dos Patudos. Também aqui a experiência registada e a comparação com outras instituições aconselha a dar passos no sentido de conferir a esta instituição condições para um maior dinamismo e uma maior solidez. No respeito pela vontade expressa em testamento pelo fundador, a responsabilidade da Casa dos Patudos é municipal. Mas seria desejável que a essa responsabilidade inalienável se pudessem associar instituições com afinidades e interesses comuns, entidades privadas e, naturalmente, o Estado. Isso aponta para um modelo fundacional público que não só congregue um vasto número de organizações, como permita uma estrutura de financiamento menos frágil e casuística do que a actual.
Este modelo teria ainda a possibilidade de integrar a gestão da Casa dos Patudos, com o seu Centro de Documentação e de Investigação e com o seu Museu de Colecção, num conceito de gestão cultural que abarcasse outros equipamentos de acção cultural municipal, no quadro da prossecução das politicas culturais do Município. Se esta Casa tem uma dimensão que em muito ultrapassa as fronteiras do município e até do Pais, pois aqui temos testemunhos qualificados do património oriundo de vários pontos da Europa e do Mundo, ela não poderá deixar de exercer, em Alpiarça, uma justificada centralidade estratégica.
Nesta perspectiva, creio também que o novo modelo de governação não deverá descurar o plano regional. A Casa dos Patudos deverá dinamizar relações com outros museus e colecções museológicas regionais como o atelier Carlos Relvas ou a colecção Anselmo Braancamp, na Golegã e em Santarém, respectivamente, com as quais tem óbvias afinidades - que se acrescentarão ao serem aprofundadas.
Quero, a terminar, manifestar o meu mais sincero agradecimento à Senhora Presidente da Câmara de Alpiarça. Sem a Dr.ª Vanda Nunes, a sua determinação e o seu discernimento e sensibilidade, a Casa dos Patudos não teria obtido a projecção e o reconhecimento de que hoje goza, nem teria merecido a requalificação já em curso e que agora vai receber um novo impulso.
A Drª Vanda Nunes tem sido desde sempre uma intérprete autorizada e esclarecida do legado de José Relvas. Antes de ser a Presidente da Câmara de Alpiarça, e, portanto de todos os alpiarcenses, ela tem sido a Presidente e Embaixadora dos Patudos.
Intervenção na sessão de lançamento da obra de requalificação da Casa dos Patudos. Alpiarça, 7 de Julho de 2009.

segunda-feira, 6 de julho de 2009

Congresso espanhol de arquitectos

Terminou ontem, em Valência. Um dos intervenientes designou a reunião magna dos arquitectos espanhóis como um exercício de "terapia de grupo". Fez-se por ali, parece, muito acto de contrição e propósito de emenda. Eis as conclusões:
1. Fomentar a função social das construções, pondo de lado a arquitectura-espectáculo.
2. Apostar na reabilitação dos centros urbanos e dos bairros como motor da profissão.
3. Promover um modelo sustentável do ponto de vista económico, energético e do meio ambiente.
4. Esquecer o urbanismo extensivo e respeitar o solo edificável.
5. Reforçar a Investigação&Desenvolvimento como alternativa à carência de doutorados e investigadores.

sábado, 4 de julho de 2009

A propósito da pandemia da gripe

De um artigo que o secretário geral da ONU, Ban Ki-Moon e a directora geral da OMS, Margaret Chan, publicaram esta semana na imprensa mundial:

Nada é mais importante que investir em saúde materna. Nos países mais pobres, em especial, as mulheres constituem o tecido da sociedade. São, de forma desproporcionada, quem cultiva a terra, transporta a água, cria e educa as crianças e cuida dos enfermos. Mas, de todos os objectivos do milénio, o da saúde materna foi o que menos se atingiu. Em 2005 as taxas de mortalidade à escala mundial foram 400 mortes maternas por 100.000 nados vivos. A atenção à saúde materna é um barómetro que indica como o sistema funciona. Seria imperdoável não mobilizar recursos e vontade política para pôr fim a esta absurda tragédia.
Sim, o mundo enfrenta a sua primeira pandemia e gripe em mais de 40 anos. Devemos continuar vigilantes contra as mutações dos virus. E estar preparados para responder a repercussões potencialmente distintas em zonas do mundo em que se registam subnutrição, sida e outras afecções graves. Em suma, devemos permanecer vigilantes e continuar a combater activamente esta pandemia. Ao mesmo tempo, a pandemia lembra-nos que temos de pensar e actuar em todo o resto. Só assim, podemos proteger verdadeiramente as nossas populações, os nossos países, a nossa economia e a nossa sociedade mundial.

quinta-feira, 2 de julho de 2009

Missão em Espanha

José Relvas partiu para Espanha a 16 de Outubro de 1911. João Chagas, presidindo ao 1º Ministério constitucional da República, chamou, de Madrid, Augusto de Vasconcelos, a quem entregou a pasta dos Negócios Estrangeiros, nomeando em sua substituição José Relvas. O novo ministro plenipotenciário do Estado português começou a desempenhar funções 12 dias após a entrada em Portugal de uma coluna de cerca de 950 homens, comandada por Paiva Couceiro, a qual ocupou por algum tempo Vinhais.
A minha intervenção ontem na Casa Veva de Lima  centrou-se nesta missão: o lugar da Espanha na política externa republicana, as dificuldades da conjuntura, as diversas orientações sobre o modo como lidar com a Monarquia Espanhola (e em paralelo, com as forças republicanas espanholas), os condicionamentos ligados à percepção das opiniões públicas de um e outro lado da fronteira, e, enfim, a personalidade e capacidade de actuação do nosso embaixador.
Duas citações. 
De Hipólito de la Torre Gómez, professor de História Contemporânea da Universidade de Madrid: "As perseverantes diligências do ministro [plenipotenciário] de Lisboa, José Relvas, desempenharam papel essencialíssimo na decisão espanhola de afastar definitivamente os emigrados [monárquicos portugueses] da fronteira. A sua actuação prudente, realista e sempre fundada nos seus prognósticos sobre o evoluir dos acontecimentos, esteve a ponto de ruir perante a atitude do chefe do governo e do Ministro dos Estrangeiros, Augusto de Vasconcelos, simplesmente porque este estava disposto a levar a ruptura das relações com Espanha até ao limite, contando com a duvidosa suposição do apoio da Inglaterra, enquanto Relvas sabia que que este apoio não estava disposto a ser concedido" (Conspiração contra Portugal (1910-1912). As relações políticas entre Portugal e Espanha. Lisboa, Horizonte, 1978. p. 141).
De Manuel Teixeira Gomes, embaixador de Portugal em Inglaterra, em carta enviada de Londres a 21 de Janeiro de 1914 e dirigida a José Relvas, a propósito do seu afastamento da embaixada de Madrid: "A sua saída de Madrid impressionou-me imenso e constitui um caso de muita gravidade que demandaria largas considerações, se não fosse já facto consumado e irremediável. Os políticos em Portugal, no seu desconhecimento das conveniências e exigências internacionais, nem de longe lhe mediram o alcance. O José Relvas não põe ao serviço da República somente a sua inteligência, dedicação e trabalho, põe também o seu nome, o prestígio da sua origem fidalga, a experiência do trato social, a sua fortuna, e isso tudo de colaboração com uma Senhora que será sempre distinta entre as mais distintas" (João B. Serra (coord), José Relvas, o Conspirador Contemplativo. Lisboa, Assembleia da República, 2008. p. 98).

Relvas, embaixador em Madrid, retratado pelo pintor espanhol Asterio Mananoz

Sempre é o que era.

Cumpriu-se a tradição. Nenhum Ministro da Economia cumpre o tempo de um Governo de legislatura.

quarta-feira, 1 de julho de 2009

Os Relvas da Golegã e Alpiarça

Senhor Convidado / Caro Consócio,

Uma família recente, que socialmente ainda esteja a furar para ganhar o seu lugar ao sol, tem pouco que se lhe diga; uma família antiga demais já se levantou e caíu tantas vezes, já passou por tantos ciclos de oiro e de ferrugem, que começa a ser difícil saber qual das suas fases verdadeiramente a representa. No meio há aquelas famílias sólidas, nas quais toda a gente reconhece um ciclo histórico bem definido, com o qual elas nasceram e cresceram, que elas perfeitamente encarnaram - e nas quais se espelhou o melhor e o pior dessa época de que foram fruto, e que por seu turno ajudaram a moldar e a caracterizar.
Se o século XIX foi o século do liberalismo burguês capitalista, que frondosamente floresceu quando explodiu a velha e anacrónica tampa abafante do feudalismo e do absolutismo – e que com os seus progressos e misérias, glórias e contradições, afinal tão sem dar por isso preparou a sua própria derrocada e fertilizou as sementes do futuro que inevitavelmente se lhe tinha de seguir ; então, se há entre nós uma família que epitomize o turbulento mas fascinantemente remoçado século XIX português, é talvez esta dos Relvas da Golegã e Alpiarça - viçosa, vistosa e saborosa como um rubicundo e sumarento tomate ribatejano cheio de sol, daqueles que matando a fome e tirando a sede, nos alegram a vista e a alma !
Aos Relvas se aplica à letra o velho aforismo de que “a primeira geração junta, a segunda acrescenta, a terceira gasta e a quarta vende”: vindo, logo que a guerra civil entre liberais e miguelistas acabou, do seu nativo lugar de Relvas, na Sertã (Beira Baixa), para a Golegã, como feitor da Labruja, o patriarca José Relvas soube cavalgar com mestria a vaga da renovação social e económica que a nova paz desencadeou e, deitando mão aos pedaços mais suculentos que marqueses, ordens e conventos íam deixando cair, morreu rico, senhor de casa e com a respeitabilidade bem documentada em retrato formal de honorável “primeiro antepassado”. O seu filho Carlos Relvas, com a elegância e o à vontade de quem já nasceu rico, aumentou essa riqueza, e deu-lhe um brilho social espaventoso – cavaleiro tauromáquico afamado, construiu na Golegã uma praça de toiros privativa e o atelier  sumptuoso de primeiro fotógrafo amador português, recebeu a Família Real no casarão que desde então ficou palácio, e recusou galhardamente um banalizado título de visconde, dizendo que preferia continuar a ser ... “o rei dos lavradores”, e olé por quem me tomas !!!
Mais presente na memória de todos nós está o neto, o José Relvas que “saíu” da Golegã, estudou lá fora, e em Lisboa marcou lugar na política e foi amigo e protector dos maiores artistas da época – suficientemente forte para ser livre, assumiu-se como republicano activo, e no dia 5 de Outubro de 1910 foi por direito próprio o proclamador oficial da República na varanda dos Paços do Conselho! Transformou o casarão agrícola dos Patudos, em Alpiarça, no verdadeiro solar de uma nova e sólida grande família, culta, elegante e cosmopolita; soberbamente recheada com a colecção ecléctica e de gosto requintado que garbosamente foi constituindo, e na qual o melhor do seu tempo se enobrecia ao ser exibido lado a lado com inquestionáveis glórias do passado – essa casa acabou por ser o centro e a montra pública da fundação com fins filantrópicos que ele, perante a cruel derrocada da sua vida familiar, generosamente constituiu e encabeçou na “sua” vila de Alpiarça.
Para nos contar a saga desta família Forsythe à portuguesa, vamos ter connosco o Prof. João Bonifácio Serra [na próxima quarta-feira, dia 1 de Julho, às 20h30]; e convidamo-lo para no sábado ir almoçar à Golegã e Alpiarça! Marque já lugar !!!

Pela Direcção
Alfredo Magalhães Ramalho


ASSOCIAÇÃO CASA VEVA DE LIMA
Rua Silva Carvalho, 240
1250-259 Lisboa