terça-feira, 31 de março de 2009

Na Bordalo Pinheiro

Lembrar-se-ão alguns do que aqui escrevi no dia 6 de Fevereiro, manifestando inteira confiança no Grupo empresarial que corria ter entrado em processo negocial com os accionistas da Fábrica de Faianças Bordalo Pinheiro. De facto conheço bem o Grupo Visabeira, criado nos anos 80 do século passado, e em especial o seu líder, o Engº Fernando Nunes. 
A cerimónia de hoje à tarde nas instalações da empresa nas Caldas da Rainha teve uma expressão afectiva que muito tempo perdurará na memória dos que estiveram presentes. Penso que essa dimensão calorosa só foi possível porque tanto a nova administração da Bordalo como o representante dos trabalhadores imprimiram ao acontecimento uma forte nota humana, sem deixarem de ser claros nos objectivos que se propuseram. A presença do Primeiro Ministro, o interesse que manifestou pela história da empresa, o cuidado que colocou no gestos e nas palavras e o entusiasmo que transmitiu aos responsáveis pela solução encontrada sublinhou o forte carácter simbólico desta transmissão de poderes.
O Ministro da Economia falou em "milagre". Claro que se trata de um milagre de humanos. De Fernando Nunes e de Vera Jardim, de Castro Guerra, de Manuel Pinho e de José Sócrates, de Carlos Elias e trabalhadores da Bordalo, de Fernando Costa, de Elsa Rebelo, de Isabel Xavier (PH-Caldas), de Joana Vasconcelos, Catarina Portas e Henrique Cayatte e um sem número de outros personagens anónimos que advogaram, persuadiram, encorajaram, facilitaram o encontro de soluções.
Um milagre, sobretudo, de um dos nomes mais emblemáticos da criação portuguesa, desse génio chamado Rafael Bordalo Pinheiro.
Em todos as esquinas da história da empresa que o trouxe às Caldas em 1883/1884, foi o seu nome que salvou a unidade produtiva e lhe garantiu a continuidade. Em 1891/92, quando o primeiro grupo de accionistas desertou e ele ficou sozinho à frente da Fábrica, em 1900 quando o seu nome susteve a cobrança de dívidas por parte dos bancos, em 1908 quando seu filho recuperou na justiça os modelos que criara, em 1924 quando inspirou um grupo de investidores caldenses a adquirirem a sociedade. E em Março de 2009 quando, uma noite em Viseu, o seu sorriso largo se intrometeu num jantar do Eng.º Fernando Nunes para o convencer em definitivo que a Bordalo Pinheiro precisava da sua visão de empresário e da sua generosidade de português do mundo.
Nota
Registei fotograficamente a visita de hoje à tarde. Mas a imagem com que me apetece ilustrá-la é a de uma fotografia que o Vasco Trancoso fez na Foz do Arelho no passado Domingo e que enviou. A paisagem luminosa que reteve é exactamente aquela que serviu de moldura ao almoço onde estive hoje com o Engº Fernando Nunes e os administradores das sub-holdings da Visabeira.

Lembro-me...

De o Pedro nascer há 25 anos.

Lembro-me...

Fascinado pelo livro de Georges Perec (1936-1982), Je me Souviens. Les Choses Comunnes, publicado em 1978, Juan Bonilla  abriu uma página com o mesmo título. Qualquer pessoa pode enviar-lhe o seu Je me souviens (lembro-me), para ser publicado.
Perec escreveu um livro com 480 entradas todas elas começadas por um Je me souviens. Trata-se de uma obra deliberadamente não literária, onde cada entrada remete para uma recordação concreta, do tipo "Lembro-me que o meu Tio tinha um CV11 com a matrícula 7070RL". Os 480 registos de memórias de Perec constituem - embora nem todos sejam facilmente identificáveis pelo leitor - uma narrativa sobre o seu tempo sustentada pela experiência retida pela memória.
Bonilla colecciona edições de Perec. Sucede que o editor acrescentara umas páginas em branco, convidando o leitor a somar as suas recordações às do autor. O próprio Bonilla não resistiu a esse convite e preencheu as páginas do primeiro exemplar que adquiriu, com anotações como  "Lembro-me do Skylab", ou "Lembro-me do macaco azul que foi a primeira prenda que dei ao meu sobrinho".  Num dos livros da sua colecção, o anterior proprietário escrevera: "Lembro-me que o meu primeiro cão que tive era cego e diabético", "lembro-me do som do mar pela noite dentro".
É provavelmente nesta capacidade de recordar que reside o essencial do espírito humano, o que nos distingue do não-humano. Os distúrbios de tal faculdade prenunciam em regra a perda de outras. A psicologia debruçou-se sobre os efeitos devastadores de lesões neurológicas que afectaram os centros coordenadores da memória em seres humanos.
Miriam Jimenez escreveu a 20 de Novembro de 2008 no Je me souviens de Juan Bonilla:
"Lembro-me da primeira vez que vi nevar"
Susana Panullo escreveu a 28 de Março de 2009:
"Lembro-me da manhã fria de seis de Janeiro quando saí de casa e no meu coração se tinha instalado uma profunda tristeza.
Lembro-me que quando saí de casa triste e sombria me dirigi ao cabeleireiro que estava fechado e logo percebi que era dia de Reis.
Lembro-me de quando fechaste a porta e saí e nunca mais te vi."

segunda-feira, 30 de março de 2009

O vendedor de berbigão

Presença regular nas tardes de sextas-feiras do final do Verão, fazia-se anunciar pelo toque da corneta que precedia o ruído característico da carrocita puxada pelo burro. Vinha da Foz do Arelho, com o berbigão dentro de sacos de serapilheira, um alguidar de água salgada onde os bivalves eram mergulhados para não morrerem na longa viagem que o levava às aldeias do interior das Caldas e Bombarral.
Evoquei esta imagem da minha infância de há quase meio século numa crónica na Gazeta das Caldas, em seguida recolhida no livro Continuação. Crónicas dos anos 50/6o.
Hoje, na escola Grandela da Foz do Arelho, um dos presentes interpelou-me. 
- O Senhor é que é o escritor?
- Não, respondi eu, o escritor é aqui o Dr. Vasco Trancoso.
Mas o homem insistia.
- Não, este sei eu quem é. Não foi o Senhor que escreveu no jornal sobre um homem que vendia berbigão e tocava uma "gaitinha"?
- Sim, admiti, surpreendido, e o Senhor quem é?
- Pois olhe, eu sou o vendedor. E acrescentou: já não tenho a "gaitinha", porque a ofereci para o museu da Junta, mas o Senhor pode vê-la lá atrás.
Chama-se Salomão Quaresma, tem 87 anos. A "gaitinha" lá estava, como me disse, no Museu.

domingo, 29 de março de 2009

Grandela e a Foz do Arelho

Lançamento na Foz do Arelho da 2ª edição revista de Grandela e a Foz do Arelho, da autoria de Vasco Trancoso, com uma interessante participação da população.
Passaram mais de 14 anos sobre a 1ª edição (que foi lembrada aqui), tal como esta patrocinada pela Junta de Freguesia da Foz, mas a obra, remoçada nos conteúdos e no grafismo, continua a desempenhar a função que a fez surgir: recordar a história de um visionário empreendedor que marcou a história do século XX na localidade, tanto nos projectos urbanísticos como na acção educativa.
Verifiquei, na cuidada intervenção do actual Presidente da Junta, que o conhecimento do papel da Grandela entre as novas gerações só foi possível graças ao esforço do Vasco Trancoso que coligiu paciente e generosamente os dados relativos à presença de Grandela na Foz, elaborando com eles uma clara e acessível narrativa, e da associação Património Histórico que com ele trabalhou na respectiva edição.
Parabéns ao Vasco Trancoso por mais este contributo para a história das Caldas da Rainha. Parabéns também à Isabel Xavier, presidente da associação PH, que se empenhou particularmente nesta 2ª edição, e apresentou a obra com referências pertinentes ao quadro ideológico e político do republicanismo em que Grandela se inspirou na sua obra em prol da instrução popular.

Hora do Planeta

3.929 cidades de 88 países aderiram à iniciativa de sensibilização relativa às alterações climáticas proposta pela organização ecologista WWF, de apagar as luzes durante uma hora.
Imagem do edifício da Opera de Sidney (Austrália), antes e depois do apagão.

Requiem por Pablo

sábado, 28 de março de 2009

Sinais

Reportagem do NYT sobre os acampamentos ilegais de homeless em cidades americanas, a lembrar as favelas surgidas durante a Grande Depressão de 1929. Aqui, um grupo de tendas ao longo do American River, junto à baixa de Sacramento.

À janela de Duchamp

Marcel Duchamp
Fresh Widow, 1920/1964

Duchamp criou o original em 1920 em Nova Iorque. Em 1964, foi produzida esta réplica pela Galeria Schwarz de Milan, com supervisão de Duchamp. Esta terceira versão pertence ao Centre Pompidou e foi adquirida em 1986.

À janela de Duchamp

Marcel Duchamp
Moulin à café, 1911

- Na altura em que terminou o Nu descendant un escalier, realizou o Moulin à café, que antecipa os seus desenhos mecânicos.
- É muito mais importante para mim. As origens são simples. O meu irmão tinha uma cozinha na sua pequena casa de Puteaux e teve a ideia de decorá-la com quadros dos amigos. Pediu a Gleizes, Metzinger, La Fresnaye e também, suponho, a Léger, que fizessem pequenas pinturas, da mesma dimensão. como uma espécie de friso. Pediu-me também e executei um moinho de café que fiz explodir; o pó cai ao lado, as engrenagens estão em cima e a manivela é vista simultaneamente em diversos pontos do seu circuito, com uma seta para indicar o movimento. Sem saber, tinha aberto uma janela para alguma outra coisa.
Esta seta foi uma inovação que me agradou muito; o aspecto diagramático era interessante do ponto de vista estético.
- Ela não tinha uma significação simbólica?
- Nenhuma. A não ser a de introduzir na pintura meios um pouco diferentes. Era uma espécie de escape. Sempre senti essa necessidade de escapar...

Marcel Duchamp, Engenheiro do Tempo Perdido. Entrevistas com Pierre Cabanne. Lisboa, Assírio & Alvim, 2002. p. 47-48.

Nota:
Em resposta a um "Submarino Amarelo".

sexta-feira, 27 de março de 2009

Fenetres ouvertes simultanément


Robert Delaunay
Fenêtres simultanées [2e motif, 1re partie]), 1912

Fenêtres ouvertes simultanément (1ère partie 3ème motif)

quinta-feira, 26 de março de 2009

Ventura Terra

Excelente exposição sobre a obra de Ventura Terra (1866-1919) organizada pela Assembleia da República para assinalar a inauguração das obras da sala das sessões.
Arquitecto do ecletismo, deixou trabalhos em Lisboa, Funchal, Esposende, Caminha, Porto, Gaia, Salvaterra de Magos, Coimbra. Cascais, Viana do Castelo.
Em 1895, um fogo destruiu parcialmente o edifício do parlamento, atingindo em especial a sala das sessões. Ventura Terra ganhou o concurso público da reconstrução. Esta obra ficou concluída em Janeiro de 1903.
Ventura Terra não escondia as suas preferências pela República. Do espólio do arquitecto, patente na actual exposição, figura uma carta datada de 21 de Agosto de 1910, na qual o arquitecto se dirige ao irmão, no Brasil, nos seguintes termos:

"Caríssimo mano António
Caríssimo compadre
Caríssimo amigo
Cidadão!
Saúde e República é o que do coração te desejo, em companhia de todo esse nosso povo"

quarta-feira, 25 de março de 2009

Centro Mário Dionísio

Gerir a crise

Compreende-se que gerir a crise seja a tarefa prioritária de quem tem responsabilidades. A extensão dos problemas e o seu ritmo são avassaladores. O tempo outrora reclamado pelos aspectos formais e metodológicos parece agora sempre excessivo e talvez inútil. As grandes questões, as de que depende a confiança e coesão, pedem uma atenção e uma capacidade de decisão que parecem ficar sempre aquém do desejável.
Gerir a crise não se confina porém ao horizonte mais imediato. Exige que se ouse projectar alguma coisa sobre o futuro. Os sacrifícios actuais valem também pelo que pudermos criar de novo, ultrapassando compromissos e vias que se esgotaram.

terça-feira, 24 de março de 2009

Ministério da Cultura

Vale a pena visitar o sítio do Ministério da Cultura do Brasil, agora confiado a Juca Ferreira. Particularmente interessante a informação relativa à revisão da lei Rouanet, actualmente em consulta pública. Acções contra a burocratização e contra o dirigismo cultural surgem aí a par de medidas de apoio aos consumidores/utentes, como a de atribuir aos trabalhadores mais pobres um vale de 16 euros mensais para gastos em teatro, cinema e livros.

À janela


Miguel Torga e Andrée Crabbé Rocha à janela do consultório do Dr. Adolfo Rocha, em Coimbra, 1991.

segunda-feira, 23 de março de 2009

Maitre de ballet


Marc Ghagall termina a tela para o novo tecto da Ópera de Paris (1964).

Escolhemos esse sacrifício

O acaso objectivo, tal como Breton o expõe, apresenta-se como outra explicação do enigma da atracção amorosa. Como as restantes - a bebida mágica, a influência dos astros ou as tendências infantis da psicanálise - deixa intacto o outro mistério, o fundamental: a conjunção entre destino e liberdade. Acidente ou destino, acaso ou predestinação, para que a relação se realize precisa da cumplicidade da nossa vontade. O amor, qualquer amor, implica um sacrifício; contudo, sabendo isto, escolhemos sem pestanejar esse sacrifício. Este é o mistério da liberdade, como admiravelmente o viram os trágicos gregos, os teólogos cristãos e Shakespeare. Também Dante e Cavalcanti pensavam que o amor era um acidente que, graças à nossa liberdade, se transformava numa escolha. Cavalcanti dizia: o amor não é a virtude mas, nascido da perfeição (da pessoa amada), é o que a torna possível. Devo acrescentar que a virtude, seja qual for o sentido que dermos a essa palavra, é primeiro que tudo e sobretudo um acto livre. Em suma, para dizê-lo usando uma enérgica expressão popular: o amor é a liberdade em pessoa. A liberdade encarnada num corpo e numa alma...

Octávio Paz, "O Astro da Alvorada", in A Chama Dupla. Lisboa, Assirio & Alvim, 1995. p.105-106.

domingo, 22 de março de 2009

Vem aí o bloco?

Reduzi drasticamente o peso da leitura de fim de semana. A versão digital da imprensa ocupa agora o lugar dominante, o que me torna mais selectivo. Apenas um ou outro semanário/revista exerce direitos antigos. Alguns blogues são de passagem obrigatória.
A política, assim filtrada, aparece aqui como coisa cada vez mais distante. Percebe-se o esforço concentrado no fim de semana do jornalismo para empolar um debate, afinal sem grande vivacidade. De Alegre a Manuela Ferreira Leite, de Paulo Portas a Jerónimo de Sousa e Francisco Louçã, o que resta é cansaço e aqui e ali sinais de conformismo.
Vem aí o bloco. Central, claro. Estão todos à espera dele.
Menos José Sócrates, aparentemente.

sexta-feira, 20 de março de 2009

Leiria sob fogo

[Vista geral sobre o Rossio de Leiria. Versão a sépia segundo desenho de George Vivian litografado por Louis Hague para o livro Scenary of Portugal & Spain, publicado em Londres em 1839]

A aplicação da estratégia da "terra queimada" pelos exércitos franceses durante as invasões peninsulares de 1808 a 1810 teve uma particular incidência em Leiria. É da devastação geral a que a cidade foi sujeita no período que trata a excelente obra de Jorge Estrela agora publicado (Jorge Estrela, Leiria no Tempo das Invasões Francesas. Lisboa, Gradiva, 2009). 
O autor trabalhou um vasto conjunto de imagens do período permitindo-lhe reconstituir na história urbana de Leiria os impactos profundos daquele período. Fazem ainda parte das informações deste livro referências a momentos da guerra na região da Estremadura e de algumas das localidades da região (Óbidos, Pombal, Ourém, Nazaré, Alcobaça, Porto de Mós. Batalha, por exemplo).
O historiador Jorge Estrela, um especialista da história da pintura europeia, é actualmente director da Casa Museu - Centro Cultural João Soares, das Cortes. Esta obra é o resultado da investigação efectuada para uma exposição que esteve patente naquela Casa Museu no Verão de 2008.

[Óbidos. Versão a cores de um desenho de Alexandre-Jean Noel datado de 1780]

quinta-feira, 19 de março de 2009

Controlo da água

O Sindicato Central de Regantes do Aqueduto Tejo-Segura, que convocou uma manifestação para ontem em Múrcia, estima que aderiu meio milhão de pessoas.
Todos os partidos políticos da região se fizeram representar.
Em causa o controlo do transvase do Tejo por parte de Castilla-LaMancha, contestado pela Comunidade Valenciana.
Apelou-se à solidariedade regional, a um Pacto Nacional sobre a Água. 

Volta, António

As declarações de Bento XVI condenando o uso do preservativo vão ao arrepio dos esforços de inúmeras organizações humanitárias que, com o apoio da Igreja, se aplicam na contenção do HIV/SIDA no continente africano.
A 5 de Dezembro de 1992, uma caricatura de António, publicada no Expresso originou uma extensa polémica, cujos contornos podem ser recordados aqui.

quarta-feira, 18 de março de 2009

Gravar por cima

Gravar por cima é um repositório de documentos que conservei. Concentra-se num tempo anterior aos anos 80 e abrange imagens, recortes e papéis, manuscritos ou impressos.
Eduarda Maria ajudou-me a organizar parte desta documentação. Será, depois de concluída essa tarefa, incluída em Arquivo com estrutura apropriada e âmbito adequado.
José Pacheco Pereira já aceitou recebê-lo em depósito.

Pendente deste muro da Calçada da Graça

Poema da buganvília

Algum dia o poema será a buganvília
pendente deste muro da Calçada da Graça.
Produz uma semente que faz esquecer os jornais, o emprego, a família,
e além disso tudo atapeta o passeio alegrando quem passa.

Mas antes desse dia há-de secar a buganvília
e o varredor há-de levar as flores secas para o monturo.
Depois cairá o muro.
E como o tempo passa
mesmo contra vontade,
também há-de acabar a Calçada da Graça
e o resto da cidade.

Então, quando nada restar, nem o pó de um sorriso
que é o mais leve de tudo o que se pode supor,
será esse o momento de o poema ser flor,
mas já não é preciso.

António Gedeão, Poemas Escolhidos. Lisboa, Edições Sá da Costa, 1997. p. 68-69.

terça-feira, 17 de março de 2009

Direitos Humanos

Anualmente, o Conselho da Europa distingue duas personalidades que se tenham destacado pelo seu trabalho em favor dos direitos humanos.
No ano passado, esse prémio foi atribuído a Simone Weil e a Kofi Annan. Este ano a Rania Al Abdullah (Rainha da Jordânia) e a Jorge Sampaio (Enviado Especial do Secretário Geral das Nações Unidas para a Luta contra a Tuberculose e Alto Representante das Nações Unidas para a Aliança das Civilizações).
Se há constante na vida pública de Jorge Sampaio, desde os seu tempos de estudante da Faculdade de Direito de Lisboa, é a defesa dos direitos humanos.

Espírito do lugar

É talvez o sentido que tem esta procura da história e da memória: surpreender o espírito do lugar.
É talvez o sentido afinal da própria vida: a procura de um lugar onde espalhar as nossas cinzas.

segunda-feira, 16 de março de 2009

Espírito de "blogger"?

Continuamos tão diferentes como é da natureza humana, com histórias de vida ocasionalmente cruzadas e dificilmente poderíamos ser considerados um grupo homogéneo. Partilhamos no entanto um rito diário: abrir um blogue, à procura de "novidades", um episódio bem contado, uma recordação divertida, uma fotografia desenterrada do passado. Eventualmente contribuir para essa corrente de memória com um pequeno texto, um comentário uma imagem.
Há um espírito ERO (Externato Ramalho Ortigão), como existem "espíritos de lugar"? Não estou certo disso. Mas parece existir um "espírito" do blogue e foi em resposta ao seu apelo que meia centena de pessoas se encontrou no sábado.

domingo, 15 de março de 2009

V Exposição: Caldas, 1927




















Vª Exposição Agrícola, Pecuária e Industrial das Caldas da Rainha, 1927.
Fotos de Mário Novais.
Biblioteca de Arte-Fundação Calouste Gulbenkian.
Concepção da Exposição: Paulino Montês (Arquitecto)

sábado, 14 de março de 2009

FS esta Sexta na "Molde"

João
Vou-te enviar algumas fotografias desta Sexta na “Molde”. Mano a atacar nelas, nas peças, à "facada" (dito por ele, eu tinha dito intervenção cirúrgica), mas também com muitas festas pelo meio (nelas, nas peças).
O mesmo espanto, o meu, de o ver há anos a desenhar com caneta os desenhos da “Leda e do Cisne”, sem praticamente levantar o aparo, e aqui a mesma precisão de corte, sem hesitações (mas com excitações), aplicando os fragmentos excedentários como adereços femininos, todas as mulheres de olhos muitos espantados e pestanudos. São máscaras também, convidam-nos a espreitar, ou será que são elas que nos espreitam?
Aqui é como que uma pega de caras, olha-se de frente o bicho e vá de agarrá-lo pelos cornos, salvo seja.
Muito ele queria que tu lá fosses ver as novas peças, por isso liguei, não fosses tu andares por aí sem nada para fazer...
São ao todo 29 peças, com três moldes distintos por base. Hoje durante a manhã "atacou" e terminou 3, as últimas. Agora aguardam secadura para não estalarem na cozedura.
Ferreira da Silva, ao rever as fotografias de Monsaraz recordou aquele momento feliz e repetia várias vezes: o que eu gostei quando os vi chegar. Os "os" erámos nós! Apetecia-lhe voltar a trabalhar no “Velhinho”, para agora, a par da produção fabril (molde de base) haver a intervenção novamente do oleiro.
Gostei de ver o Sr. Almerindo, “ajudante de campo” do Ferreira da Silva, todo contente com a colaboração. E vendo que eu fotografava tudo o que mexia e não mexia, já no fim sugeriu-me que fotografasse os moldes abertos.
A cabeça de FS não pára. Fomos falando de arte, da cerâmica na arte, do Barceló de que ambos gostamos, da escala e de música.
Almoçámos borrego a lembrar paladares alentejanos.
Deixa-me que te diga que as condições de luz eram tão boas, uma luz coada, que por momentos pensei que estaria no Estúdio Relvas, só com a diferença do décor.
Bjs.
Margarida

sexta-feira, 13 de março de 2009

"As águas cingiam-me até à alma"

Aquilo que imediatamente nos chama atenção é a sua singularidade no conjunto dos textos proféticos. Esta obra breve, a única que foi escrita na terceira pessoa, é a mais dramática história de solidão de toda Bíblia e, no entanto, é contada como que do exterior dessa solidão - como se, ao mergulhar no negrume dessa solidão, o "eu" se tivesse perdido de si mesmo. Portanto, o "eu" só pode falar de si mesmo como um outro. Como na frase de Rimbaud: "je est un autre".
Jonas não se mostra apenas relutante em falar (como Jeremias, por exemplo). Não, Jonas recusa-se mesmo a falar. "Agora a palavra do Senhor foi dirigida a Jonas (...) Mas Jonas levantou-se e fugiu da face do Senhor".
Jonas foge. Paga a sua passagem e embarca num navio. Rebenta uma tempestade terrível, de tal forma que os marinheiros temem que o navio naufrague. Todos pedem aos seus deuses que os poupem. Jonas, pelo contrário, "tinha descido ao porão e, deitando-se ali, dormia profundamente". O sono, portanto, como retirada absoluta do mundo. Sono como uma imagem de solidão. Oblomov enroscado no seu divã, regressando pelo sonho ao útero da mãe. Jonas no ventre da baleia.
O comandante do navio encontra então Jonas e diz-lhe que reze ao seu Deus. Entretanto, os marinheiros deitam sortes para ver quem será o responsável pela tempestade: "...e a sorte caiu sobre Jonas".
"E então ele disse-lhes: 'Pegai em mim e lançai-me ao mar e o mar se acalmará porque sei que foi por minha causa que vos sobreveio esta tempestade.'
"No entanto, os homens remavam para ver se conseguiam ganhar a terra, mas em vão, pois o mar cada vez se embravecia mais contra eles" (...).
"E foi assim que pegaram em Jonas e o lançaram ao mar e a fúria do mar acalmou-se".
Não obstante a mitologia popular em torno da baleia, o grande peixe que engole Jonas não é de modo algum um agente de destruição. É o peixe que o salva de morrer afogado. "As águas cingiam-me até à alma, o abismo cerrava-se à minha volta, as algas pegavam-se à minha cabeça".

Paul Auster, Inventar a Solidão. Porto, Asa, 2004. p. 141

quinta-feira, 12 de março de 2009

João Martins Pereira

Adquiri o livro As voltas que o capitalismo (não) deu de João Martins Pereira, das Edições Combate, uma recolha de textos publicadas naquele jornal dirigido por Francisco Louçã. Datam de 1989 a 1992.
João Martins Pereira, que faleceu em Novembro passado, foi um dos intelectuais portugueses que mais influenciou as correntes críticas da esquerda depois de 1969. A sua obra Pensar Portugal Hoje, publicada em 1971, foi um marco. Ali se recolhiam artigos escritos para a revista O Tempo e o Modo, a cuja 2ª série esteve associado. Num deles procedia João Martins Pereira à identificação das condições em que o capitalismo português fazia o caminho da aproximação europeia, apontando as contradições e impasses a que estava sujeito. Havia um rigor que não sacrificava inquietação, uma capacidade de análise invulgar que não se enquadrava nas ortodoxias dominantes e se afastava das vulgatas marxistas.
Conheci-o pessoalmente mais tarde, na Gazeta da Semana e na Gazeta do Mês, duas publicações que se singularizaram não apenas pela competência dos jornalistas que nelas colaboraram (Jorge Almeida Fernandes, Adelino Gomes, Joaquim Furtado, por exemplo), como pela inovação do design e da ilustração (João Botelho, Zé D'Almeida). Na Gazeta da Semana (1976) tive uma colaboração regular, com Eduarda Dionísio, abordando temas de política de ensino e de política sindical. Na Gazeta do Mês (1980) publiquei um ensaio sobre "Política e a História", em conjunto com José Manuel Sobral.
Entre os diversos livros de João Martins Pereira destaco principalmente O Dito e o Feito. Cadernos, 1984-1987, Lisboa, Salamandra, 1989, um texto de rara finura que se tece da reflexão diarística sobre a vida, as ideias, as pessoas e as cidades.

Só...

Só o ser amado realiza em mim a totalidade do meu desejo do mundo: não só o desejo por ele próprio, ser amado, mas o do meu corpo por mil corpos, o do meu ser por mil seres, com que cada dia fugazmente me cruzo. Só a densidade da relação amorosa, só as misteriosas afinidades electivas, permitem cumprir em recíproco êxtase o que nunca passou de virtualidade, de fantasma - ou de efémera mutilação.

João Martins Pereira, O Dito e o Feito. Cadernos, 1984-1987. Lisboa, Salamandra, 1989. p. 65.

Onde não andei






Dancing House
Praga
Republica Checa

Frank Gehry 1996

The site of Gehry's Dancing House was originally occupied by a house in the Neo-renaissance style from the end of the 19th century. That house was destroyed during bombing in 1945, its remains finally removed in 1960. The neighboring house (with a small globe on the roof) was co-owned by Czech ex-president Vaclav Havel, who lived there from his childhood until the mid-1990s. He ordered the first architectural study from Vlado Milunic (who has been involved in re-building Havel's appartment in the neighboring house). Afterwards the Dutch bank ING agreed to build a house there, and asked Milunic to invite a world-renowned architect. Milunic first asked Jean Nouvel, who rejected the invitation because of the small size of the site (491 square meters); he then asked Frank Gehry, who and he accepted the challenge. Gehry had an almost unlimited budget, because ING wanted to create an icon in Prague. The construction started in 1994 and the house was finished in 1996.

Its unusual shape and technical solutions caused a big public debate. After ten years emotions are over, and the house has its place in modern Prague.

quarta-feira, 11 de março de 2009

"Arqueologia". 1969


"Arqueologia": exumação de papéis e documentos do meu arquivo pessoal.

Diário de Lisboa, 14 de Novembro de 1969. Diálogo entre João Serra e Isabel Maria Sena, na altura a viver nos Estados Unidos com os pais (Jorge e Mécia Sena) sobre a universidade e os universitários nos dois países. A iniciativa pertenceu ao escritor José Fernandes Fafe (hoje embaixador aposentado) que conhecia a família do escritor Jorge de Sena.

terça-feira, 10 de março de 2009

Uma Casa de Memórias

É o título da história da Sociedade Portuguesa de Autores editada em 2006 e que o autor teve a gentileza de me enviar. Vitor Wladimiro Ferreira, que conheci na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, quando por ali passámos como docentes nos princípios da década de 80, é um especialista de história da cultura portuguesa contemporânea. 
Conhecedor profundo da literatura e do jornalismo oitocentistas, o Vítor é um homem de múltiplos saberes, das artes plásticas à gastronomia, do teatro à enologia. Prefaciou e anotou (espero que não me fiquem a faltar muitos autores) reedições de obras de Bulhão Pato, Ceferino Carrera, Teixeira Gomes, Luis Augusto Palmeirim e o "nosso" Júlio César Machado. Escreve com camiliana graça, numa prosa enleante recheada de saborosas pistas e citações. Às vezes um pouco amargo, suaviza a crítica com ironia queirosiana ou chiste bordaliano.
Uma Casa de Memórias é um livro competente que regista, com recurso a diferentes fontes, algumas das quais particulares, a história da instituição que defende os nossos direitos enquanto autores. 
É bem certo que quase se ia "esquecendo" de o fazer no caso do livro do Vitor Wladimiro, mas o autor recorreu àquela prestimosa instituição para acautelar o seus direitos e foi bem sucedido. A SPA defendeu-o da SPA. No exemplar que me chegou às mãos, Uma Casa das Memórias tem o autor referido na sobrecapa e num autocolante aposto manualmente na ficha técnica da edição.