A importância desse acervo e das memórias que lhes estão associadas foi reconhecida por diversos protagonistas da modalidade, antigos praticantes e dirigentes. A Câmara Municipal das Caldas da Rainha recebeu esse espólio, destinando-lhe um espaço nobre do seu património urbano, inicialmente destinado a acolher a colecção de cerâmica adquirida a Artur Maldonado Freitas. O espaço recebeu a designação de Museu do Ciclismo.
A actividade de Mário Lino como coleccionador não se cingiu porém ao ciclismo enquanto modalidade desportiva ou de lazer, tendo-se dirigido noutros sentidos.
Em 1996 publicou uma brochura intitulada Figuras e Factos da História do Desporto Caldense, e, no ano seguinte, uma outra dedicada às duas salas de cinema caldenses, ambas então já desparecidas, o Salão Ibéria e o Cine-Teatro Pinheiro Chagas. Em 2005 publicou outra brochura, desta vez reconstituindo o percurso vitorioso de José Tanganho na volta a Portugal a cavalo, em 1925 (José Tanganho na volta a Portugal). Em 2008 envolveu-se nas comemorações da guerra peninsular e em discutidas reconstituições históricas alusivas às invasões francesas, na Redinha (Pombal) e nas Caldas, celebrações que deram origem a dois dvds e uma brochura (Caldas da Rainha: na rota do mito napoleónico). Mas o ciclismo não foi esquecido, tendo entretanto participado, em 2006, numa homenagem ao antigo campeão nacional Alves Barbosa, com a edição de uma brochura (Uma história pintada de amarelo). Antes disso tinha organizado uma exposição dedicada à história do ciclismo militar.
No edifício do Museu do Ciclismo, está actualmente instalada uma exposição temporária intitulada "Memórias do Tempo: dos finais da Monarquia à Primeira República", onde Mário Lino apresenta três colecções de documentos, jornais e objectos diversos relativos a três temas: D. Carlos e os últimos tempos da Monarquia, o Ciclo-Clube Caldense e a Primeira República (do 5 de Outubro até à Grande Guerra). Uma pequena brochura acompanha esta mostra. Visitei-a hoje, dia 26, com prazer. Tive o próprio Mário Lino como guia, explicando-me a origem das peças e o significado que lhe atribui.
Sou um admirador do coleccionismo e não me canso de salientar o quanto deve a investigação histórica à determinação, ao esforço de coleccionadores que têm salvo do esquecimento ou da destruição patrimónios de altíssimo valor. Nos casos, como o de Mário Lino, em que o investimento cultural sobreleva o financeiro, o apreço é ainda maior.
Mas um Museu não é apenas um espaço de apresentação de colecções. Deve ter uma estratégia e uma direcção científicas e claros objectivos culturais. A Câmara, se criou formalmente o Museu do Ciclismo, descurou totalmente os outros aspectos e não se percebe o que tenciona fazer a este respeito.
3 comentários:
É notável o genuíno gosto do sr. Mário Lino em guardar testemunhos de outros tempos e o esforço com que o faz! Principalmente, como é notado no texto, por não estar em causa o mero prazer da posse, legítimo, mas menor do que este entusiasmo em partilhá-los com os outros!
Se a História suscita muitas paixões, o sr. Mário Lino é um dos seus apaixonados! Parabéns!
- Isabel Xavier -
O Sr. Mário Lino merece o nosso reconhecimento e gratidão. Já fui ver e apreciei, mas sinto que naquele espaço mora alguma indiferença. Aquele lindo edifício reside ali, como um mono, sem amparo, incapaz de apelar ao transeunte que entre. E,no entanto, é tão bonito, o edifício! E, no entanto, a exposição vale bem a pena.
Após ter tomado conhecimento, pelo que acabo de ler, das colecções de Mário Lino e da criação do Museu do Ciclismo, fico a pensar se a Câmara de Caldas da Rainha tem uma visão e objectivo cultural a dar ao contributo que exposições como a deste coleccionador podem acrescentar à história da cidade.
Na colecção de Mário Lino menciona-se José Tanganho na volta a Portugal a cavalo, e como no Almanaque Caldense (1963) há e uma entrevista a Paulino Montez, fundador do Museu Joaquim Alves, sabendo que neste Museu também havia documentação da volta a Portugal a cavalo, e tendo a Câmara só agora (16/05/2008) tornado a mostrar o espólio do mesmo, não mencionou o periódico caldense (de onde retirei a data e li a noticia da inauguração) o nome do fundador do Museu. Esquecimento?...
Como caldense, dediquei algum tempo à História da minha Cidade, mas na época em que o fiz não tinha o João Serra para me aconselhar, teria escrito mais e melhor, olhando a vertente (científica e claros objectivos culturais).
João Ramos Franco
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