domingo, 28 de agosto de 2011

Meti-me por Setembro fora

Meti-me por Setembro fora, a caminho do fulgor das maçãs, deixando para trás os bruscos golfos da tristeza e uma luz de neve quebrada de vidraça em vidraça.
Contemplava a cidade das pontes pela última vez, envolvida por lençóis encardidos e uma névoa que subia do rio para lhe morder o coração de pedra. Era um burgo pobre, sujo, reles até - mas gostaria tanto de lhe pôr um diadema na cabeça.

Eugénio de Andrade, "Cidade", in Eugénio de Andrade - Prosa. Porto, Modo de Ler, 2011, p. 410.

1 comentário:

Isabel X disse...

Ideias assim até fazem doer de tão belas que são. Uma dor difusa, de ausência, um pouco por todo o corpo. Mais insidiosa no estômago.
"Era um burgo pobre, sujo, reles até - mas gostaria tanto de lhe pôr um diadema na cabeça." Perfeito. Dolorosa a perfeição.
- Isabel X -