sábado, 13 de agosto de 2011

Entrevista ao Público

Texto integral da entrevista que a edição do Público de hoje subvalorizou face a outros depoimentos e amputou cirurgicamente:


P- Fazendo parte da anterior administração da FCG, não se sente responsável pelos problemas que resultaram na demissão da anterior presidente?
Já o disse por diversas vezes: sou co-responsável pelo que se fez nestes dois anos de montagem da Capital Europeia da Cultura. Além da responsabilidade colectiva, tenho uma responsabilidade individual, visto que exerci funções específicas, no domínio da programação. Creio que ambas foram objecto de escrutínio e avaliação, tanto pelos órgãos da Fundação como pelas entidades que tutelam a CEC. Aceitei o actual cargo com a missão de continuar o que de melhor se fez até aqui e corrigir o que de menos bom foi identificado pelos órgãos de fiscalização e controlo da Fundação Cidade de Guimarães e pelas entidades que a tutelam.
P - O que é que falhou com a anterior equipa da CEC?
Se me permite, gostaria de destacar os objectivos atingidos, tal como foi aliás salientado na ultima reunião do Conselho Geral, de 25 de Julho. Foi concebido um programa cultural consistente e diverso, e cuja qualidade foi reconhecida pelo Conselho Geral da Fundação e pelo Painel de Selecção da Comissão Europeia (que recomendou a atribuição do Prémio Melina Mercouri). Foi concretizado um modelo de financiamento assente numa macro-contratualização dos financiamentos nacionais e comunitários que permitiu chegar aqui sem roturas e com boas perspectivas para encarar eventuais dificuldades supervenientes. Finalmente, foi definida uma orgânica da produção do programa cultural e artístico, partilhada entre três entidades: a Fundação Cidade de Guimarães, a régie-cooperativa “A Oficina” e um Consórcio associativo vimaranense.
O que, no meu entender, merece agora uma ponderação, uma adequação de modelo de funcionamento e uma prática adequada?
Em primeiro lugar, é necessário reposicionar o programa cultural e artístico da CEC como princípio e fim últimos da Fundação Cidade de Guimarães, colocando os recursos financeiros e os instrumentos de comunicação ao seu serviço. Em segundo lugar, é preciso garantir agilidade e flexibilidade nos processos de decisão e promover um redobrado esforço de mobilização das equipas internas e externas. Em terceiro lugar é indispensável dar atenção a projectos e áreas até aqui pouco valorizados, como o voluntariado, turismo, acolhimento, espaços de criação, infra-estruturas, segurança e projectos especiais, com destaque para o reforço da dimensão europeia do evento. Finalmente, é decisivo estimular a apropriação da CEC por parte da comunidade local, tanto ao nível dos agentes culturais, como das empresas, instituições públicas e população em geral.
P - Quais serão as principais alterações que vai introduzir na gestão do evento?
A exigência fundamental que recai sobre este novo modelo de gestão é a da coordenação, uma coordenação que vele pela coerência do programa e assegure o entrosamento dos projectos e a sua tempestiva realização. A esta coordenação exige-se que seja robusta e sólida e, ao mesmo tempo, flexível e célere na tomada de decisões. Não se compadece com a organização departamental actual da Fundação Cidade de Guimarães no que ela tem de verticalidade nem no que ela tem de estanquicidade. A coordenação tem que reunir sob a sua autoridade estratégica não só o programa cultural, como a comunicação e a administração e finanças. Para isso será criada a figura do Director Executivo, com funções de superintendência sobre todo o processo de implementação da CEC. O Director Executivo será o Dr. Carlos Martins, que tem trabalhado comigo ininterruptamente desde Setembro de 2009, primeiro como Director de Projecto e depois como consultor para as questões do programa. Em linha com este objectivo, eu próprio manterei no novo Conselho de Administração o pelouro pelo qual fui responsável no passado. Procurei que o novo Conselho de Administração reflectisse igualmente as exigências do novo ciclo e respondesse com garantias de competência, solidez e entusiasmo, às expectativas criadas nesta fase, sem prejuízo da sensatez e pragmatismo que o timing do evento também impõe. Um Conselho de Administração novo nas pessoas e novo nos métodos e forma de exercício das suas competências. O Conselho terá uma função essencialmente “política” (e não puramente técnica), de controlo dos objectivos da CEC, de garante da comunicação e envolvimento dos cidadãos no projecto cultural.
P - O envolvimento da cidade e da população parece ser um dos problemas de Guimarães 2012. O que é que é possível ainda fazer para mudar esse quadro?
Estou confiante em que os problemas que refere podem ainda ser ultrapassados: vencer atitudes de alheamento ou descrença. Como terá reparado, este mês de Agosto está a mostrar uma dinâmica mais envolvente da cidade e uma comunicação mais presente e acurada. No novo Conselho um dos membros executivos terá uma especial incumbência nas relações com Guimarães, o seu tecido associativo e social e outro uma específica tarefa na relação com o tecido económico da região. Independentemente dessas funções personalizadas, o Conselho procederá a uma análise – que se pretende serena e realista – de alguns dossiês que foram contestados, avaliando a pertinência das criticas e propondo a sua revisão, se for caso disso. Estão em causa de forma particular as propostas provenientes dos agrupamentos escolares. Penso que o Conselho de Administração também me acompanhará numa proposta ao Conselho Geral da Fundação para que dê mais espaço à representação local. Não tenho dúvidas que a participação vimaranense, a energia colectiva de que a cidade tanto se orgulha são indispensáveis para fazer deste projecto um êxito afectiva e culturalmente remunerador. Ouvi contar a história de uma cidade que se ergueu para repor uma praça de touros que tinha ardido três dias antes da data da festividade. É desse exemplo que estou a falar.

1 comentário:

Vasco Tomás disse...

Está no seu direito, Professor, um pedido de rectificação ao Público da sua entrevista.
Não me parece que se possa invocar qualquer criério jornalístico para o que considera uma "amputação": viola-se a intenção do emissor da mensagem, limita-se o alcance do seu conteúdo, distorce-se o direito à informação dos leitores.