sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Pôres do sol pesso(ais)anos (I)


1
Ontem o pôr do sol não foi apenas um pôr do sol. Porque, como diria Álvaro de Campos, toda a realidade foi sentida excessivamente. E a consciência desse excesso tomou conta de nós e do horizonte, dos teus dedos e dos meus segredos.

2.
Ontem o pôr do sol não foi apenas um pôr do sol. Porque, como diria Bernardo Soares, o que imaginamos tem mais volume e verdade que as coisas reais. Enquanto o disco vermelho se enterrava no mar, as tuas mãos ganhavam o ímpeto da viagem e os teu olhos um rumo e uma cor mais definidos.

3.
Alberto Caeiro diria que não há modo de saber o que seria um pôr do sol se não fosse apenas um pôr do sol. Deixemos então que o plano anule o mistério das sombras. Já não escutamos a musica longínqua. Ainda assim, o teu sorriso abre-se pela primeira vez enquanto as ultimas pétalas de luz deslizam pelo teu rosto.

4 comentários:

São disse...

Ricardo Reis, quase sempre esquecido, diria que, em cada pôr-do-sol, havemos de fruir o Pôr do- Sol de cada dia.

Porque o de ontem já não há.
O de hoje, sim, haverá que olhá-lo.

E o de amanhã - digo eu - logo se verá...

São disse...

Calipso, ela mesma,
embora deusa da perfeição,
se sentiria incompleta
ao não ser
a destinatária,
a motivadora,
o motivo,
a força que moveu
deste poema pessoa(l)no.

S. J. disse...

Será impressão nossa, ou este blogue sofreu uma mutação (genética?) a partir de inícios/meados do passado mês de Agosto?

Parece-nos legível uma orientação menos institucional e mais pessoana, ou pessoal, como se queira.

Cláudia da Silva Tomazi disse...

A saudade é banho de luz por despedir-se.