domingo, 22 de agosto de 2010

Métrica pedestre

Uma semana de intensa dedicação à métrica pedestre.
A alta dos preços dos combustíveis conferiu acuidade aos problemas da mobilidade e ao planeamento das deslocações no interior da cidade. A cidade que andamos a construir nos ultimos 30 anos mostra-se agora dispensiosa e penalizadora do ambiente. O deficiente planeamento das implantações dos serviços e dos sistemas de transportes e comunicações sobe agora o valor da factura do efeito de estufa e dos custos energéticos.
Muitas cidades europeias - e portuguesas - adoptaram medidas que recuperam a prática do andar a pé. Favorecem a deslocação pedestre, elaboram planos de mobilidade pedonal. Procuram garantir que os percursos para peões sejam seguros, conviviais e atractivos. Em nome da saúde, mas também da qualidade de vida e da reanimação do espaço público.
Num texto intitulado "cidade pedestre, cidade rápida", o geógrafo Jacques Levy propõe um método de análise urbana dos modos de gestão da distância centrada no peão. Denomina essa metodologia de "métrica pedestre". Mede os percursos dos peões em espaços públicos, em espaços semi-públicos ou de acesso condicionado, e em espaços privados. A aplicação da métrica pedestre permite-lhe operar uma classificação de cidades e bairros. A verificação de bons resultados na métrica pedestre equivale a desenvolvimento urbano.
É preciso perceber que os indicadores clássicos da mobilidade urbana - velocidade média da deslocação - são hoje de pouca utilidade. Interessa medir a eficácia relativa da deslocação, que depende mais do objectivo que se pode atingir do que do número de quilómetros percorridos.
Se a qualidade urbana - a urbanidade - depende cada vez mais dessa eficácia, traduzida em modelo de gestão da distância, o que se verifica é que em certas cidades ou em certas áreas das cidades o automóvel não é eficaz.
O automóvel é um grande consumidor de superfícies, por esse facto aumentando as distâncias em vez de as diminuir. De modo que, nas áreas urbanas densas e diversificadas, a métrica pedestre é mais rápida que a métrica do transporte em automóvel particular (Vide o dossiê "Marcher" no nº 359 da Revue Urbanisme , Março/Abril de 2008).

1 comentário:

Cláudia disse...

Tudo que a urbanização e a logística, promovam em estudos para as cidades, pensando o viável, tornam-se feitos para a humanidade, como marco de civilidade. Ao exemplo de ambientes agradáveis para convivência, aplicam-se alternativas que buscam soluções para dimensões que estão atingindo as cidades. Com sua animada população evoluindo para diversidade, comprometendo a quietude e hábitos dos lugares. Por vezes, motivando tensões, transformando paisagens e criando aspectos desafiadores como característica evolutiva de novos formatos, que tem no lastro a poluição sonora e visual e um circuito de transito angustiado pela dificuldade de fluir. Jacques LevY, de maneira brilhante, surge com uma bagagem extraordinária de conceitos e aponta a solução através desta Métrica Pedestre, oferecendo a possibilidade de pensar esta realidade, que tornou-se um sintoma da pós-modernidade à nível mundial. Resta saber se a virtude de trocar passos acompanha a capacidade das pessoas reciclarem seu jarro de confortos, por goles de humildade.
Dispensariam estas, veículos, nas curtas distâncias?