quarta-feira, 4 de novembro de 2009

O défice

São dois os braços dos homens, costumava dizer o Carlos. Um é o braço da autoridade, a que se associa a exigência e o rigor que a legitimam. Outro é o braço da compaixão, a que se associa a afectividade e a proximidade que dela decorrem.
Há que reconhecer na acção do anterior Governo um défice de afectividade na relação com os portugueses. O Primeiro Ministro deu mais visibilidade ao braço que aponta do que ao braço que ajuda, ao braço que orienta e manda do que ao braço que compreende e estende a mão.
O êxito da acção política não se mede só pelos números e pelos resultados objectivos. Há indicadores de confiança subjectivos, que dependem das correntes invisíveis que são tecidas entre governantes e governados. Houve um nexo de adesão e de entusiasmo sentimental com o PS que se quebrou no decurso do exercício do seu governo maioritário.
É possível recuperá-lo, reatar com o eleitorado o compromisso solidário que justifica uma opção de esquerda reformista?
Esta questão é, a meu ver decisiva, neste momento. Muito mais do que a habilidade táctica para tecer compromissos com partidos opositores e com o Presidente, o que está à prova no actual Governo é a sua relação com as pessoas concretas, de carne e osso.

3 comentários:

Paulo G. Trilho Prudêncio disse...

Viva.

Espero que escutem o que o João escreveu.

Abraço.

João Ramos Franco disse...

Caro João Serra
A minha luta está a teu lado, "o que está à prova no actual Governo é a sua relação com as pessoas concretas, de carne e osso."
Um abraço
João Ramos Franco

Xico disse...

Percebo perfeitamente o que que dizer e estava capaz de subscrever, mas atenção ao discurso que me pareceu ambíguo. Esse namoro à população é um estado de graça que lhe é permitido agora.
Convém não esquecer, a bem da democracia representativa (é que afectividade e compreensão entre governantes e governados houve em muitas ditaduras), que 63,45% dos votantes, homens e mulheres de carne e osso, recusaram o PS e escolheram outros partidos.
Se extrapolarmos os números para a totalidade da população, significará que o PS só tem a certeza de ter os votos de 19,56 % da totalidade dos homens e mulheres de carne e osso deste país, o que não significa obviamente que não tenha toda a legitimidade de nos governar.
Mas pegando nas suas palavras, deste post e do anterior, a melhor compreensão que este governo poderá obter junto dos homens e mulheres de carne e osso atingir-se-á quando seriamente fizer algo para limpar a administração pública das suspeitas de compadrios e corrupção.