terça-feira, 4 de agosto de 2009

Roteiros e guias (1)

Comecei há alguns anos a adquirir roteiros e guias de Portugal. Do pequeno conjunto de obras que consegui reunir, fazem parte as descrições gerais do país e das suas regiões que acompanharam representações nacionais em exposições internacionais, repertórios do património imóvel organizados para fins turísticos, guias com indicações sobre locais a visitar ou atracções a não perder, roteiros para viajantes, etc. O objectivo que presidiu a esta colecção foi o de tentar perceber como é que Portugal se apresentou a si próprio e ao mundo, com que conceitos se pensou como território digno de nota, que temas da paisagem e da história considerou indispensáveis para definir a sua identidade local e regional.
A colecção não abrange literatura de viagens, apesar das afinidades entre os dois tipos, que não se confunde com o dos guias e roteiros. Estes são produzidos de dentro para fora e a sua finalidade é proporcionar um conjunto de informações e indicações básicas sobre um dado território. Também não integra os trabalhos elaborados por espiões ou com fins sectoriais, como os que resultem da aplicação de inquéritos ou outro tipo de inventários locais.
Uma das primeiras peças da minha pequena colecção é uma obra intitulada Cintra Pintoresca (Sintra Pitoresca, escreveríamos hoje). Há uma extensa e variada produção do último quartel do século XIX sobre o pitoresco. Provavelmente o termo é uma adaptação do italiano pintoresco, que significa digno de ser pintado. O pitoresco abarca tudo aquilo que define e individualiza uma paisagem cultural. A revista Ilustração Portuguesa, o primeiro periódico português a publicar sistematicamente foto-reportagens, fazia do pitoresco um dos alvos preferidos dos trabalhos de fotografia. Tanto podia referir-se a um traje como a um monumento, tanto a uma casa típica como a um trecho de paisagem.
Ramalho Ortigão referiu-se às Caldas como o centro e uma região pitoresca. Ele aliás escreveu um guia de caldas, ou seja de terras de águas (termas) e foi um viajante ilustre tanto em Portugal como na Europa. Quando o Governo deliberou criar uma comissão de reforma das termas caldenses, em finais do século XIX, além de médicos de grandes hospitais, previu a inclusão de um touriste de reconhecida competência. Ainda não se tinha aportuguesado a palavra turista. O tal touriste era Ramalho.

1 comentário:

Isabel X disse...

Que engraçado! Hoje em dia, com a palavra em português, temos tendência a considerar que os verdadeiros turistas são os estrangeiros. Nos finais do século XIX, escolhia-se um português, como turista, mas designando-o com a palavra estrangeira: "touriste".
- Isabel X -