sexta-feira, 9 de março de 2012

Exposição O Fotógrafo Martins Sarmento. Registo

É para mim um privilégio em nome do Conselho de Administração da Fundação Cidade de Guimarães dirigir-vos umas palavras sobre Martins Sarmento e a exposição que hoje inauguramos.
Gostaria, em primeiro lugar, de agradecer as parcerias e colaborações sem as quais não teria sido possível abrir ontem na Capital Europeia da Cultura um ciclo evocativo da personalidade e da obra de Francisco Martins Sarmento.
Nesse agradecimento envolvo a Sociedade Martins Sarmento e a sua Direcção, o Dr. António Amaro das Neves, que soma a representação institucional à qualificação como investigador emérito da história de Guimarães e de Martins Sarmento, o Dr. Eduardo Brito, curador desta exposição de fotografia. E estendo-o, porque ontem não foi possível fazê-lo, ao realizador Jorge Campos e à equipa técnica que o apoiou na realização do filme sobre Martins Sarmento, à ESMAE / Politécnico do Porto, e, naturalmente, ao João Lopes e toda a equipa de programação do cinema e audio-visual da Capital Europeia da Cultura.
Recordo que a evocação de um conjunto assinalável de figuras da cultura vimaranense integrou o primeiro plano estratégico de Guimarães 2012, formulado pelo então administrador com o pelouro da programação. Foram então identificadas as figuras de Francisco Martins Sarmento, Alberto Sampaio, Abel Salazar, Raul Brandão, Joaquim Novais Teixeira e Fernando Távora.
Todas elas foram objecto de atenção por diversas áreas programáticas da Capital Europeia da Cultura. Mas foram as do cinema e audiovisual e do pensamento que mais directamente se ocuparam de produzir novos instrumentos de conhecimento sobre a acção daquelas personalidades.
Todas elas acrescentaram à dimensão mais ou menos localizada das suas preocupações científicas ou artísticas uma dimensão universal e sobretudo europeia. Todos participaram, como pioneiros, em movimentos de renovação disciplinar, de abertura a novas questões, de lançamento de novas metodologias e novos horizontes de conhecimento. Todos eles foram fundadores da contemporaneidade. Por isso, lhe chamámos novos Fundadores.
Francisco Martins Sarmento ilustra bem esta plêiade singular. Interessou-se pela cultura material de um vasto território e fê-lo no quadro da curiosidade científica pelos vestígios civilizacionais das sociedades muito antigas e, no seu caso, dispersas pelo mundo rural. O património que o atraiu, nas citânias que adquiriu e escavou, não era urbano nem medieval, ou seja encerrado nos limites da perspetciva dos patrimonialistas que o antecederam.
A modernidade de Francisco Martins Sarmento exemplifica não reside apenas no exercício de uma disciplina – a arqueologia – que adquiria um estatuto relevantíssimo na cultura europeia do segundo quartel do século XIX. Aí ele está com grandes vultos da sua época, nomeadamente ingleses, franceses, alemães.
A arqueologia tornava-se então uma espécie de constituinte de um olhar novo sobre o território, por onde se dispersavam, mais ou menos ocultos e cifrados, os sinais de outras civilizações que nos antecederam. O território podia ser lido, interpretado, devia ser preservado e valorizado em função da descoberta desses sinais, dessas marcas.
Martins Sarmento, como muitos dos arqueólogos do seu tempo, era um espírito inquieto, com a grandeza e a visão dessa mesma inquietude. É provavelmente aí que reside o impulso criador e a avidez de conhecimento, e, sobretudo essa tão moderna preocupação com o outro, de que a arqueologia e a etnografia se alimentam.
Parece-me importante frisar que este evento ocorre num momento de charneira entre dois ciclos de programação de Guimarães 2012 Capital Europeia da Cultura. O 1º que, como bem saberão, teve por mote “TEMPO PARA ENCONTRAR”, em que partilhamos quem somos, ao que vimos, quem desejamos ser e aonde queremos ir. O 2º “TEMPO PARA CRIAR”, que dentro de dias iniciaremos e em que se verificará uma explosão criativa em Guimarães, abrindo a presença a criadores e autores, e criando palcos propícios á partilha de novas ideias e experiências.
Martins Sarmento usou com maestria a fotografia e elevou-a a instrumento científico muito antes desta se ter popularizado e se ter tornado um produto de consumo, a partir da última década do século XIX. Esta exposição dá testemunho desse outro lado de Martins Sarmento. 
A exposição é acompanhada de um livro-catálogo que inclui a publicação, pela primeira vez, dos Cadernos de Fotografia escritos por Martins Sarmento entre os 35 e 43 anos de idade.
Para concluir prevaleço da oportunidade para agradecer ao Dr. Eduardo Brito o cuidado posto na preparação da exposição e catálogo e felicitá-lo pelo resultado alcançado.

Paulo Cruz
João Serra

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