quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Todos somos madeirenses

As notícias e as imagens vindas da Madeira não cessam de nos interpelar. Admito que a tarefa de reconstruir e absorver nesse processo a lição da natureza seja complexa. Lançar obras sobre a devastação não é, em si só, a solução, mas não pode deixar de fazer parte da solução. O desafio de planear melhor, de realizar melhor, de fiscalizar melhor, aí está de novo - para uma região portuguesa que a democracia arrancou ao atraso e à etnografia para a fazer subir ao patamar do desenvolvimento do primeiro nível. É talvez por isso que não nos convence particularmente o argumento de que se não alardearmos a devastação recuperamos mais depressa a imagem externa. Como se hoje, quando todo o mundo já percebeu que não há regiões ao abrigo da destruição, para a imagem de um território não constitua um valor importantíssimo a boa administração, a capacidade de resposta em situações de emergência, o funcionamento dos serviços básicos, a adopção generalizada do princípio da precaução, o sentido de entreajuda.

8 comentários:

Chantre disse...

O homem, sempre o outo homem...
Em 1755, porque pecador impenitente; no Haiti, porque neo-colonialista ou (supremo delírio!) em busca de novos artefactos bélicos; na Madeira, porque mau construtor, mau administrador, péssimo político.
Lamentavelmente, a natureza, inexorável nas suas leis (e caprichos!), está-se nas tintas para a mesquinhez das justificações humanas.

Anónimo disse...

As melhores recordações que tenho de cumplicidade com a natureza foram vividas na Ilha da Madeira, de uma semana a percorrer "levadas", algumas com alguns séculos de existência. Uma delas, que nos levou da Serra até à Ribeira Brava foi mesmo antológica, pelas emoções provocadas.
Ao ver as imagens trágicas dos efeitos das chuvas na Ilha(na natureza e nos Homens) é impossível ficar indiferente ,assim como fica difícil exprimir o nosso estado de alma, dói mesmo....
NB

Isabel X disse...

Gostava de compreender, visto ter-me na conta de pessoa reflexiva, como é que um post como este pode suscitar um comentário como o de Chantre. É que parecem-me nada terem a ver um com o outro...

Soube hoje - e tenho-me farto de reflectir sobre isto - por uma amiga comum (Teresa Mendes) - que alguém meu amigo (Nuno Valadas) disse que quando era novo se preocupava em "mudar o mundo", mas que agora reparou que só se preocupa em que o mundo não o mude a ele. Acho que vou aderir a este projecto de vida.
Afinal, reparo agora, embora não nos costumemos juntar os três. somos três amigos!
- Isabel X -

Chantre disse...

Talvez não tenha a ver (muito evidentemente) com este post, cara Isabel X, mas com a tentação, sempre presente nestas ocasiões de tragédia, de nos considerarmos donos e senhores da Natureza e de imaginar que a mesma pode ser inteiramente domada nos seus principais elementos pela ordem humana (a técnica, a planificação, a política, a administração,...). E uma ordem que, quando débil, é sempre da responsabilidade "dos outros".
Os moralistas da barricada oposta costumam apelidá-la de arrogância ou soberba; eu aceito colhê-la com o termo "desatenção".

Chantre disse...

E já agora, cara Isabel X, bem-vinda ao clube - se entender que no mesmo se revêem não os desencantados ou vencidos da vida, mas os cépticos (sempre um passo à frente de todos os outros...)

Isabel X disse...

Tem razão Chantre. Principalmente no que diz sobre a Natureza e a tendência moralista para apontar culpados.
Agradeço as boas-vindas ao clube, mas ainda não me decidi.
Quem acredita que a ordem humana não domina inteiramente a Natureza e quer preservar, nem que seja em si mesmo, aquilo que considera que vale a pena, dificilmente se pode considerar céptico.
- Isabel X -

Chantre disse...

Contudo, cara Isabel X, a cautela que agora avança, irmã gémea do "projecto de vida" a que aderiu na sua intervenção anterior, é, na verdade, a mais preciosa razão de quem se acoita numa "sensata reserva" - se "cepticismo" lhe parece termo excessivo.
Cumprimentos.

Isabel X disse...

As suas palavras, caro Chantre, que agradeço, dão-me que pensar! Nunca imaginei parecer, nem sequer através das palavras que escrevo num blogue, "reservada" ou "sensata"! E menos ainda céptica!
- Isabel X -