1
Ontem o pôr do sol não foi apenas um pôr do sol. Porque, como diria Álvaro de Campos, toda a realidade foi sentida excessivamente. E a consciência desse excesso tomou conta de nós e do horizonte, dos teus dedos e dos meus segredos.
2.
Ontem o pôr do sol não foi apenas um pôr do sol. Porque, como diria Bernardo Soares, o que imaginamos tem mais volume e verdade que as coisas reais. Enquanto o disco vermelho se enterrava no mar, as tuas mãos ganhavam o ímpeto da viagem e os teu olhos um rumo e uma cor mais definidos.
3.
Alberto Caeiro diria que não há modo de saber o que seria um pôr do sol se não fosse apenas um pôr do sol. Deixemos então que o plano anule o mistério das sombras. Já não escutamos a musica longínqua. Ainda assim, o teu sorriso abre-se pela primeira vez enquanto as ultimas pétalas de luz deslizam pelo teu rosto.
4 comentários:
Ricardo Reis, quase sempre esquecido, diria que, em cada pôr-do-sol, havemos de fruir o Pôr do- Sol de cada dia.
Porque o de ontem já não há.
O de hoje, sim, haverá que olhá-lo.
E o de amanhã - digo eu - logo se verá...
Calipso, ela mesma,
embora deusa da perfeição,
se sentiria incompleta
ao não ser
a destinatária,
a motivadora,
o motivo,
a força que moveu
deste poema pessoa(l)no.
Será impressão nossa, ou este blogue sofreu uma mutação (genética?) a partir de inícios/meados do passado mês de Agosto?
Parece-nos legível uma orientação menos institucional e mais pessoana, ou pessoal, como se queira.
A saudade é banho de luz por despedir-se.
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