sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Flauta (mágica)

Candidinha (Jeanne Moreau)
Tinha condão?

Chamiço (Luís Miguel Cintra)
Com a flauta. Era mais a mim! Mais a mim!

Gebo (Michael Lonsdale)
Com a flauta!

Chamiço
Sim homem, foi como conquistei a minha defunta (imitando a flauta). Piu...piu...piu. Só com a flauta. Não entendem? Eu chegava, sentava-me à beira dela, puxava do instrumento e desatava piu... piu... piu. Há lá nada que exprima o amor como a música! Era logo piu... piu. Ela ouvia-me fascinada.


Candidinha
Mas como trocavam expressões de amor?

Chamiço
Piu... piu... piu. E no fim, acabada a ária, levantava-me e dizia-lhe: - Boas noites, Serafina)
Candidinha
Nunca lhe disse mais nada?




Imagens O Gebo e a Sombra, de Manoel de Oliveira (2012)
Texto O Gebo e a Sombra, de Raúl Brandão (1923)


2 comentários:

Júlia disse...

As "palavras de amor" serão, porventura, mais necessárias do que as memórias que persistem, incólumes, do que as músicas de uma intimidade jamais repetida?

"Essa música ou água/ quando a água é álamo// essa música ou terra/ quando a terra é barco// essa música ou chama/ quando a chama é onda// essa música - eras tu/ ou um pássaro na sombra?"
Eugénio de Andrade, "Escrita da Terra"

Isabel X disse...


Gosto da cor destas imagens: outonais, castanho-douradas, de uma intensidade disfarçada, quase espectral.

Fascina-me a capacidade de Manoel de Oliveira (e dos técnicos que trabalham com ele) de criar atmosferas tão especiais, tão próprias, tão suas, nos filmes que faz.

Devemos sentir-nos felizes pelo simples facto de Manoel de Oliveira existir. Permitir-nos essa felicidade agora que há razões para isso.

Estou inquieta por ver este filme.

- Isabel X -