Portanto a (re)construção da identidade pessoal e social é um processo complexo e intrínseco a cada indivíduo (eu sou exclusivamente eu, embora tenha muitos outros e de outros), não é uma mera reprodução da esfera social e cultural onde ele se movimenta. Até porque mesmo os grupos sociais (a palavra encontra-se propositadamente no plural, pois os indivíduos encontram-se sucessiva ou simultaneamente ligados a diferentes grupos), como observa Lahire*, reportando-se a Halbwachs, não são homogéneos nem imutáveis, e os indivíduos que os atravessam são também o produto "matizado" desta heterogeneidade e mutabilidade**. Todas as vivências que vão marcando todo o percurso de vida, desde a infância até à idade adulta, memórias de todas aquelas pessoas e situações que, quer de uma forma positiva ou negativa, se tornaram significativas e significantes, não se vão simplesmente acumulando, nem são sintetizadas de forma simples e elementar. E sem se ir ao extremo de se falar em descontinuidade absoluta, poder-se-á considerar que os sujeitos saltam de um grupo social para outro, de uma situação para outra, até de uma sociedade para outra (p.e. rural para urbana) de um "domínio de existência para outro" sem que tenha forçosamente de haver continuidade, homogeneidade e compatibilidade entre essas experiências.* Bernard Lahire, O Homem Plural. São Paulo, Vozes, 2002
** Gilberto Velho, Individualismo e Cultura. Notas para uma Antropologia da Sociedade Contemporânea. Rio de Janeiro, Zahar Editor, 1981, p. 26-29.
Ricardo Vieira, Identidades Pessoais. Interacções, Campos de Possibilidade e Metamorfoses Culturais. Lisboa Colibri/IPL, 2009. p. 38-39
1 comentário:
Em nenhum momento podemos dizer que somos desta ou daquela maneira. Ou, igualmente, que alguém é desta ou daquela maneira. Somos um devir constante, interagindo com os outros através da acção, do pensamento, dos acontecimentos, etc.
A nossa história nunca é completa, ela está sempre na iminência de vir a ser...
- Isabel X -
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