Dei voltas à ideia uns tantos dias, sem a comentar com ninguém. Era o meu segredo. O entusiasmo foi crescendo dentro de mim. Se conseguisse levar o sol para casa, já nunca mais seria de noite nem teríamos que acender a candeia ou o candeeiro de petróleo. Melhor que isso, poderíamos pendurá-lo no cimo da torre junto do cata-vento para dar luz para toda a aldeia. Mas isso seria perigoso. Alguém poderia ir lá e roubá-lo ou soltá-lo e então voltaria a perder-se no céu como um balão quando se solta da mão. Decididamente, o melhor seria guardá-lo em casa e não o emprestar a ninguém.
Um dia, no princípio do Verão, tomei secretamente o caminho do Castelo e, ao cair da tarde, passei pelo baldio do Prado de los Rebollos e subi até à Mata. Não me foi difícil dar com a árvore onde o sol se punha. Suava e parecia que o coração me ia sair do peito. Permaneci quieto um bom bocado, acocorado debaixo da árvore, entre os excrementos das ovelhas. Ouvi cantar o cuco. Cães do Prado del Chunfa ladraram e cavalos vieram pelo caminho de Horcajo. Nem me mexi. Era fundamental que ninguém me descobrisse. O meu plano tinha sido muito pensado: treparia até à copa da árvore quando chegasse o momento esperado.
Esperei, esperei, mas o sol naquela tarde passou ao largo, muito alto, e foi pôr-se lá longe, em cima da serra do Lutero. Pensei: é muito esperto, é evidente que me descobriu. E pus-me a chorar. Começou a anoitecer e ouvi a voz angustiada da minha mãe, que me chamava de Las Eras. Até hoje não contei a ninguém por que motivo saí de casa naquela tarde e a razão pela qual regressei com lágrimas nos olhos.
Passaram muitos anos, compreendi que o sol se levanta para todos e hoje conformo-me, minha filha, com a possibilidade de apanhar sol num recanto tranquilo enquanto desfio as minhas recordações.
Abel Hernández, Historias de la Alcarama. 2ª ed. Madrid, Gadir, 2008. p. 152-153
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