terça-feira, 9 de novembro de 2010

Fernando Piteira Santos

A sessão de hoje sobre o 5 de Outubro na Livraria Almedina (Atrium Saldanha) acabou por se fixar no conceito e evolução do Partido Republicano enquanto Partido-Frente. Como na assistência predominavam historiadores - jovens e menos jovens - o debate foi vivo, embora porventura um pouco especializado. Ainda assim, espero que o exercício de análise política, procurando descodificar as orientações, as atitudes e os comportamentos políticos, tenha sido inteligente e esclarecedora.
Ocorreu-me, sem que o tenha no entanto dito na altura, que a forma como se discutiu o tema do Partido-Frente funcionou como uma pequena homenagem a Fernando Piteira Santos, que foi quem inspirou a aplicação da noção de Partido-Frente ao P.R.P. ("Na transição do constitucionalismo monárquico para o constitucionalismo republicano: a crise do Partido Socialista e a crise do Partido Republicano", Análise Social, n.º 72-73-74, Lisboa, 1982).
Conheci-o depois do 25 de Abril. Leccionava na Faculdade de Letras de Lisboa, no mesmo horário e na sala ao lado daquela em que eu dava aulas, no princípio da década de 1980. Tornou-se habitual, encontrarmo-nos 10 minutos antes, numa das nossas salas, para trocarmos impressões sobre os mais diversos assuntos: a situação da Faculdade, temas de história e, mais frequentemente, de política. Fernando Piteira Santos era director do Diário de Lisboa e os seus editoriais, escritos com lucidez e clarividência, eram de leitura obrigatória para todos os que queriam acompanhar a situação política. Em 1984, convidei-o para integrar a Comissão Científica do Programa Comemorativo do Centenário do Nascimento de Raul Proença, missão que aceitou e exerceu com emprenho e competência.
Lembro-me do seu activismo, em 74/75, com Manuel Alegre, no que designou por "Centros Populares 25 de Abril". Diferentemente deste seu companheiro de exílio argelino, não aderiu ao Partido Socialista. Mais tarde, creio que fez parte dos fundadores da associação "Fraternidade Operária", que tinha à frente António Lopes Cardoso, outro dos que viera de Argel em 1974. Fernando Piteira Santos conhecia bem a  ambição e a prática políticas da FPLN - Frente Patriótica de Libertação Nacional - de que foi dirigente em Argel. Foi aí certamente que colheu a inspiração para definir a natureza do Partido Republicano.

Uma excelente fotografia de F. Piteira Santos, da autoria de Luiz Carvalho, pode ser vista aqui.

2 comentários:

Isabel X disse...

Fui aluna de Fernando Piteira Santos no ano lectivo de 1980/81, ano em que concluí a licenciatura em História na Faculdade de Letras de Lisboa. A disciplina era a de História de Portugal e funcionava em horário pós-laboral.

Os alunos ouviam-no com enorme respeito e atenção. Com prazer. Era um verdadeiro orador. Nunca a palavra lhe faltava, exprimia-se com estilo próprio, e uma inesgotável fluência.

Exemplo do professor da aula tradicional naquilo que ela pode ter de melhor, recordo-o com ternura e saudade. Aliás, sem malícia o digo, ele era particularmente simpático com as senhoras que muito o admiravam também. Eu era a mais nova aluna do grupo porque só no último ano tive a ideia de me inscrever no horário nocturno para poder frequentar os arquivos e as bibliotecas durante o dia, visto ter feito todo o curso residindo nas Caldas da Rainha.

Lembro-me de Piteira Santos dizer sempre, com notável sentido de humor, que as pessoas tendiam a sentir-se muito importantes e célebres quando eram conhecidas entre o Saldanha e o Marquês de Pombal.

Eu costumo citá-lo, adaptando o dito aqui às Caldas e referindo a Praça da República e o Borlão, por exemplo.

Foi bom relembrar Piteira Santos!

- Isabel X -

Clara disse...

Um grande professor de quem tive o privilégio de ser aluna!