domingo, 4 de janeiro de 2009

Obsessões

A última edição da Gazeta das Caldas (2 de Janeiro) refere-se por três vezes à designação de membros não pertencentes à instituição para o Conselho Geral do Instituto Politécnico de Leiria. Em todas elas destaca o facto de o Presidente da Câmara das Caldas, Fernando Costa, ter sido uma das dez personalidades cooptadas. O forte destaque não é dado apenas pelo facto de o acontecimento obter três referências na mesma edição, mas sobretudo pela forma como as notícias foram paginadas: em duas delas o acontecimento figura no título e na terceira é objecto de uma valorização positiva (numa secção de Notas Favoráveis e Desfavoráveis); duas delas surgem nas páginas nobres do jornal, a primeira e a última.
O jornal fez uma escolha noticiosa, certamente justificada, mas não informou os seus leitores sobre o sucedido. Vejamos.
Em primeiro lugar, esqueceu-se de datar e identificar o acontecimento. De facto, a cooptação ocorreu a 4 de Dezembro (há um mês, portanto) na primeira reunião do Conselho Geral do Instituto. O Conselho Geral é formado por vinte e três membros eleitos e um por inerência (o Presidente do IPL), vinte e dois dos quais com direito a voto. A 4 de Dezembro, reuniram-se para cooptar, por voto secreto, outros dez membros, de entre personalidades não pertencentes à Instituição. Nada disto foi explicado nas notícias. Dispenso-me de enfatizar de que forma a ausência destas explicações compromete a legibilidade do que a Gazeta noticiou.
Na reunião de 4 de Dezembro foram propostos dezanove nomes. Houve pois nove nomes que ficaram de fora, no final da votação. A notícia aponta alguns deles. Mas não explica que o método estatutário de votação obrigava a que os nomes a cooptar obtivessem uma maioria qualificada dos votos.
À Gazeta importou sobretudo, como vimos, noticiar que o Presidente da Câmara das Caldas tinha sido incluído no lote das dez personalidades cooptadas para o Conselho. Transformou esse facto no objecto principal da notícia e valorizou-o de forma especial. Trata-se, porém, de um facto singular? O próprio jornal responde: não. E não foi porque todos os Presidentes das Câmaras dos concelhos onde o IPL tem escolas foram cooptados: o Presidente das Caldas, o Presidente de Peniche e a Presidente de Leiria.
Analisemos agora as restantes sete personalidades cooptadas: o Bastonário da Ordem dos Engenheiros, o presidente do Nucleo Empresarial da Região de Leiria, o Presidente da Associação para o Desenvolvimento de Leiria, o Governador Civil de Leiria, um diplomado pela Escola de Tecnologia e Gestão de Leiria, um professor jubilado da Universidade de Aveiro. Personalidades todas elas com curriculum e actividade de âmbito nacional ou em directa relação com Leiria. Mas há uma que diz alguma coisa a Caldas da Rainha: foi director do Museu de José Malhoa, foi o presidente da Comissão Instaladora do Museu do Hopsital e das Caldas, foi o Comissário da primeira edição da Festa da Cerâmica, é autor de diversos estudos sobre aspectos da vida artística e cultural das Caldas da Rainha. Trata-se do Dr. Paulo Henriques, actualmente director do Museu de Arte Antiga.
Em nenhuma das três referências que a Gazeta incluiu na sua edição de 2 de Janeiro ao resultado da reunião do Conselho Geral do IPL de 4 de Dezembro, houve o mais pequeno sublinhado sobre a eleição de Paulo Henriques.
E, no entanto, como é evidente, penso eu, essa é que seria a notícia. No Conselho Geral do IPL, pela primeira vez na história do Conselho, Caldas da Rainha estará triplamente representada: por um representante dos professores, pelo Presidente da Câmara actual e por uma personalidade da mundo artístico e cultural com o qual as formações da Escola Superior de Artes e Design das Caldas da Rainha se articulam.
Foi este facto que a Gazeta deixou na sombra. Preferiu destacar o óbvio, o institucional, em vez do novo, do resultado de uma dimensão não institucional.
E o reconhecimento deste facto - o que a Gazeta não destacou - seria tanto mais relevante quanto, numa eleição muito exigente como foi a de 4 de Dezembro, o Dr. Paulo Henriques foi o único nome a obter a totalidade dos votos possíveis: vinte e dois em vinte e dois.
*
Um curriculum vitae do Dr. Paulo Henriques fica disponível aqui (clique na imagem para a tornar legível).







4 comentários:

João Ramos Franco disse...

Como escrvi no meu comentario à cerca do Museu Joaquim Alves...
Não mencionou o periódico caldense (de onde retirei a data e li a noticia da inauguração) o nome do fundador do Museu. Esquecimento?!...
João Ramos Franco

Anónimo disse...

O que eu perdi, desde que emigrei para outras latitudes: 21 posts! Ou andou muito "por aí", ou está em riscos de ir parar ao clube dos "postadores" compulsivos.
Homem, tenha calma! A vida não é só blogues.
Mas quanto a este caso, tem razão. Aliás, se o jornalismo em Portugal é mau e o jornalismo local é péssimo. Sem formação, sem deontologia, sem critérios os que o fazem. Andam por aí à solta dos mais graves contributos para a desinformação geral. A Gazeta das Caldas, pelo que vejo, não é excepção.
MT

Anónimo disse...

Tem MT muita razão no que diz respeito ao jornalismo! A mim, até pelo tipo de actividade de que agora me ocupo, preocupa-me a utilização da imprensa como fonte histórica. Se não cruzarmos as "notícias" obtidas por esse meio com outras que as avalizem, corremos o risco de penetrar numa "floresta de enganos".
- Isabel X -

J J disse...

Foi muito criticada Manuela Ferreira Leite por, há pouco tempo, ter questionado a imposição da agenda e das prioridades dos Media ao País. Mesmo admitindo que não o fez da melhor maneira (como é hábito...), temos que admitir que há um fundo de verdade no que diz. O Manelinho que bateu na avó ou qualquer assalto a uma bomba de gasolina relegam para segundo plano crises internacionais, conflitos com implicações globais ou opções para o futuro de todos. E isso é intolerável (claro que pôr os políticos a "mandar" nos meios de comunicação também é).
O Sr. Presidente da Câmara ocupa um cargo por inerência e tem 3 notícias no jornal local,um homem de valor que se destaca pela sua capacidade e obra é eleito com ele e nem é citado? É a nossa imprensa e os seus "critérios".