sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

Niemeyer, figura do século

Oscar Niemayer (aqui numa foto recente no seu apartamento em Copacabana, no Rio de Janeiro) fez 100 anos em Dezembro.

Para os arquitectos formados na principal corrente do Movimento Moderno, Oscar Niemeyer era considerado como o seu melhor representante. Invertendo a conhecida fórmula "antes da forma vem a função", Niemeyer demonstrou que "quando uma forma cria beleza se converte em funcional e, portanto em essencial à arquitectura".
Conta-se que quando o primeiro astronauta russo, Yuri Gagarin, visitou Brasília, comparou essa experiência com a de desembarcar num novo planeta. Muita gente que visita a cidade de Niemeyer pela primeira vez deve ter sentido a mesma impressão. Audaz, escultural, cheia de cor e livre, como não se tinha visto antes. Poucos arquitectos da história recente foram capazes de integrar um vocabulário tão vibrante e estruturado numa linguagem tão intensamente comunicativa como sedutora e tectónica.
Há quem, por exemplo, não consiga contemplar a catedral de Brasília, em forma de coroa, sem se emocionar quer com o seu dinamismo formal quer com a sua economia estrutural. Ambas se combinam para causar, desde o interior, uma sensação quase de gravidez. Parece que o recinto se funde por completo com o vidro. Qualquer arquitecto tentará perceber como é que as estreitas colunas de betão, finas como ossos, do Palácio da Alvorada são capazes de tocar o solo de modo tão leve. Brasília não é um simples desenho, é uma coreografia: cada uma das suas peças surge composta com fluidez e mantém-se como uma bailarina imóvel em pontas num cenário de equilíbrio absoluto.
No princípio dos anos sessenta, quando eu era estudante, via o trabalho de Niemeyer como um estímulo, estudando minuciosamente os esboços de cada novo projecto seu. Quarenta anos depois, ainda mantém o poder de nos surpreender. O museu de Arte Contemporânea de Niteroi mostra-o bem. Implantado sobre uma escarpa qual planta exótica, deita por terra qualquer convencionalismo, ao fundir a arte com uma vista panorâmica sobre o porto do Rio de Janeiro. É como se - na sua imaginação - o projectista tivesse querido romper com a ideia de um museu convencional assentes numas rochas para nos desafiar a contemplar arte e natureza em pé de igualdade.
Oscar Niemeyer é uma inspiração. A sua energia e craitividade são ilimitadas; a sua arquitectura é eternamente jovem. Tenho a impressão de que ainda tem para nos dar muitas lições de arquitectura.

Norman Foster (arquitecto)

Texto publicado na edição do El Pais de 1 de Janeiro de 2009




2 comentários:

Anónimo disse...

Belíssimo! Um dos grandes criadores do século XX.
MT

Anónimo disse...

Não é o ângulo reto que me atrai. Nem a linha reta, dura, inflexível, criada pelo homem. O que me atrai é a curva livre e sensual. A curva que encontro nas montanhas do meu País, no curso sinuoso dos seus rios, nas ondas do mar, nas nuvens do céu, no corpo da mulher preferida. De curvas é feito todo o Universo - o Universo curvo de Einstein.

OSCAR NIEMEYER