Oscar Niemayer (aqui numa foto recente no seu apartamento em Copacabana, no Rio de Janeiro) fez 100 anos em Dezembro.
Conta-se que quando o primeiro astronauta russo, Yuri Gagarin, visitou Brasília, comparou essa experiência com a de desembarcar num novo planeta. Muita gente que visita a cidade de Niemeyer pela primeira vez deve ter sentido a mesma impressão. Audaz, escultural, cheia de cor e livre, como não se tinha visto antes. Poucos arquitectos da história recente foram capazes de integrar um vocabulário tão vibrante e estruturado numa linguagem tão intensamente comunicativa como sedutora e tectónica.
Há quem, por exemplo, não consiga contemplar a catedral de Brasília, em forma de coroa, sem se emocionar quer com o seu dinamismo formal quer com a sua economia estrutural. Ambas se combinam para causar, desde o interior, uma sensação quase de gravidez. Parece que o recinto se funde por completo com o vidro. Qualquer arquitecto tentará perceber como é que as estreitas colunas de betão, finas como ossos, do Palácio da Alvorada são capazes de tocar o solo de modo tão leve. Brasília não é um simples desenho, é uma coreografia: cada uma das suas peças surge composta com fluidez e mantém-se como uma bailarina imóvel em pontas num cenário de equilíbrio absoluto.
No princípio dos anos sessenta, quando eu era estudante, via o trabalho de Niemeyer como um estímulo, estudando minuciosamente os esboços de cada novo projecto seu. Quarenta anos depois, ainda mantém o poder de nos surpreender. O museu de Arte Contemporânea de Niteroi mostra-o bem. Implantado sobre uma escarpa qual planta exótica, deita por terra qualquer convencionalismo, ao fundir a arte com uma vista panorâmica sobre o porto do Rio de Janeiro. É como se - na sua imaginação - o projectista tivesse querido romper com a ideia de um museu convencional assentes numas rochas para nos desafiar a contemplar arte e natureza em pé de igualdade.
Oscar Niemeyer é uma inspiração. A sua energia e craitividade são ilimitadas; a sua arquitectura é eternamente jovem. Tenho a impressão de que ainda tem para nos dar muitas lições de arquitectura.
Norman Foster (arquitecto)
Texto publicado na edição do El Pais de 1 de Janeiro de 2009
2 comentários:
Belíssimo! Um dos grandes criadores do século XX.
MT
Não é o ângulo reto que me atrai. Nem a linha reta, dura, inflexível, criada pelo homem. O que me atrai é a curva livre e sensual. A curva que encontro nas montanhas do meu País, no curso sinuoso dos seus rios, nas ondas do mar, nas nuvens do céu, no corpo da mulher preferida. De curvas é feito todo o Universo - o Universo curvo de Einstein.
OSCAR NIEMEYER
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