Espáduas brancas palpitantes
asas no exílio de um corpo.
Os braços calhas cintilantes
para o combóio da alma.
E os olhos emigrantes
no navio da pálpebra
encalhado em renúncia ou cobardia.
Por vezes fêmea. Por vezes monja.
Conforme a noite. Conforme o dia.
Molusco. Esponja
embebida num filtro de magia.
Aranha de ouro
presa na teia dos seus ardis.
E aos pés um coração de louça
quebrado em jogos infantis.
"Poemas", 1955. In Natália Correia, Poesia Completa. O Sol nas Noites e o Luar nos Dias. Com um Prefácio da Autora. 3ª edição. Lisboa, D. Quixote, 2007. p. 72.
Biblioteca Pública e Arquivo Regional de Ponta Delgada (foto JBS)
Natalia Correia nasceu em São Miguel, em 1923. Morreu em Lisboa aos 70 anos.
5 comentários:
Conheci Natália Correia, (pessoalmente) por intermédio do Luiz Pacheco, poderia contar-vos histórias passadas comigo (não documentadas), mas as palavras que escolhi para vos vou citar são de um retrato biográfico de 1971 (5 páginas dactilografadas) que o Luiz escreveu sobre Natália Correia e ao qual deu o titulo de MENINA E MADONA E MAFIOSA. O Luiz Pacheco editou na Contraponto (sua editora) três obras de Natália Correia: Comunicação, textos do Cântico do País Emerso e Homúnculo, (pela documentação que tenho presente, estas edições foram entre 1947/50).
João Ramos Franco
Do retrato biográfico de 1971, vou deixar-vos aqui o ultimo parágrafo:
- Atarantação, é o pecado de julgar as pessoas pelas aparências. Ora isso mesmo que tentei, em curtas linhas, demonstrar-lhes: não julgues a Natália pelas aparências. Ela é outra coisa, outra loiça, De quando a conheci, claro. Ou quando recuso a reconhecê-la, na imagem clara e diáfana que conservo.
De MENINA E MADONA E MAFIOSA (5ª pagina, ultimo paragrafo) Luiz Pacheco
Viva João Serra.
Com escolhas óptimas e a um ritmo assim, este blogue é um lugar que ajuda a respirar.
Obrigado.
Abraço.
Paulo Prudêncio.
A força inquietante e reveladora do feminino que há nas metáforas de Natália Correia, muito bem acompanhadas pela pintura de Bual!
Quanto ao João Ramos Franco, desta vez é a si que pergunto: para quando as suas memórias?
-Isabel X-
Tenho de lhe agradecer a "descoberta" deste excelente Bual e a respectiva divulgação. Clicando na imagem, verifico que ela tem uma boa dimensão para poder ser melhor apreciada. Com esta imagem e as que trouxe sobre o projecto de nova frente maritima e portuária desenhada por Manuel Salgado está plenamente justificada a sua expedição a Ponta Delgada. Ainda por cima com uma bem documentada incursão pelos amores semi-clandestinos de Vitorino/Margarida... Bingo! Quanto tempo fica por aí em Ponta Delgada. Ou quando volta? Não precisa de companhia para carregar a máquina e os sacos de livros?
MT
Cara Isabel X. As minhas memórias estão sempre presentes em cada comentário que escrevo, se reparar algo delas aparece nas palavras que escrevo. Quanto a editar as “ minhas Memórias” , passará em principio por um Blog, em que as irei depositando e lendo os Vossos comentários. Vivi bastante, conheci mundo e pessoas, o conteúdo das experiências vividas questiona-nos muitas vezes, se vamos escreve-las, se não…
João Ramos Franco
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