domingo, 18 de janeiro de 2009

A caminho de Peniche (Agosto de 1919)

Raúl Brandão visitou Peniche e as Berlengas em Agosto de 1919.  A descrição dessa viagem foi publicada em Os Pescadores, obra editada em 1923. Consultei a edição de 1957, da Editorial Estúdios Cor, com prefácio de Manuel Mendes.

Óbidos

Óbidos visto da estrada é o cenário dum presépio, com as muralhas recortadas e moinhos de vento a trabalhar na encosta. Só lhe faltam alguns pastores, com gaitas de foles, descendo o monte... Pequena vila adormecida e quase intacta. Nunca passo por uma destas terrinhas que não me fique pena de lá não morar algum tempo, no silêncio recolhido, deixando a minha vida presa aos vivos e aos mortos. Isto tem um ar tão afastado do mundo! Não se ouve rumor. Um sino tange ao longe... Se há aqui interesses, estão submersos. A vila foi agora mesmo desenterrada com as suas igrejas, e a ruazinha principal onde não mora ninguém - tudo cercado de muralhas de pedra escura, que aproveitaram as ondulações do terreno, até se fecharem lá em baixo na porta principal com azulejos, e que parecem ter crescido tão naturalmente do morro como as árvores...

Raul Brandão, op. cit. p. 121.

2 comentários:

Anónimo disse...

Quanto se espantaria Raul Brandão se visse Óbidos agora! Cenário de constantes acontecimentos mediáticos, percorrido de turistas a qualquer hora do dia, em todos os dias da semana!
- Isabel X -

João Ramos Franco disse...

Obibos que aqui nos retrata Raúl Brandão, não está muito longe do que foi até 1955. Recordo a imagem da vila, ela parecia parada no tempo.
João Ramos Franco