Cristina Nobre é minha colega no Instituto Politécnico de Leiria, docente na Escola Superior de Educação e Ciências Sociais de Leiria, onde coordenou o Departamento de Línguas e Literaturas e a Secção de Português. Conheci-a, antes de nos encontramos no decurso de actividades pedagógicas por si coordenadas, através dos seus estudos sobre Afonso Lopes Vieira (que culminaram, em 2007, com a publicação de uma Fotobiografia daquele escritor). Sou leitor assíduo da crónica que mantém no Jornal de Leiria, uma janela sobre a vida e a educação, que elabora naquela linguagem clara e franca que frequentemente se julga ser apenas uma manifestação da natureza humana, em vez do resultado de uma aprendizagem e treino bem sucedidos.
Na sua crónica publicada a 8 de Janeiro, Cristina Nobre relata a apreensão de um telemóvel ao seu filho, aluno do ensino básico, descrevendo o entendimento e reacções que então o episódio lhe suscitou. Não resisto a transcrever aqui parte desse relato:
Fá-lo, agora, de uma forma nem sempre consensual mas partilhada, envolvendo todos os intervenientes no processo e procurando ouvi-los e responsabilizar cada um deles pelas suas atitudes. Se, porventura (nunca se sabe...) eu tivesse que vir a participar na avaliação do professor-personagem desta situação, não hesitaria em dizer que ele exerceu num ponto alto a sua autoridade, mais do que isso, levou a cabo a sua quota parte na responsabilização imensa na difícil tarefa educativa, atrevendo-se ao despeito de um encarregado de educação menos compreensivo e sujeitando-se a expor a sua própria integridade a pessoas menos bem formadas (se ainda soubermos o que isso é).
Quem tirou o telemóvel ao meu filho (não apenas por isso, mas isto é uma parábola, entenda-se) deve, na minha frágil opinião, ser considerado um bom professor. Usei as metodologias da escola moderna. Fiz o inquérito final ao meu filho: e ele também avaliava o professor como um bom professor. Feitas bem as contas, ainda sabemos identificar claramente o que é um bom professor, uma boa escola, um bom pai, um bom filho.
Há outros conceitos bem mais confusos à nossa volta...
17 comentários:
O retrato que dás, e que retiro destas palavras, poderia muito bem ser enviado a muitos Pais e Professores…
João Ramos Franco
Tão claro e tão simples.
Bonito texto.
Abraço.
Paulo Prudêncio.
Os meus parabéns a esta Mãe!
Educar para saber estar em comum, uma função da Escola, mas também dos Pais.
Quem me dera ter esta confiança na escola pública! A autora é Professora numa escola de professores e mal seria que fosse ela a dar o exemplo de descrença na instituição que ela própria ajuda a formar. Mas o que está à vista de todos, hoje, é que as questões que estão na ordem do dia, que mobilizam as energias e a criatividade dos professores, estão confinadas à gestão das suas carreiras. Durante anos e anos foram os donos e senhores das escolas e o resultado é um sistema de ensino que é dos piores da Europa. Os professores estão intrincheirados nas escolas, não a reformam nem deixam que outros a reformem do exterior.
Sei que esta perspectiva vai incomodar muita gente que lê este blogue. Mas esta é a minha opinião. Se a achar importuna, não a publique!
MT
Cara MT:
Não se diz nem escreve "intrincheirada". É a única correcção que vou fazer, já que do conteúdo nada se aproveita. Vá lá que, pelo menos, teve o bom senso de escrever isto incógnita...
Escreva dez vezes "entrincheirada".
Ao contrário do que diz MT, os professores não foram "donos e senhores" das escolas, limitaram-se a ser cobais, tal como os alunos, das reformas sucessivas dos sucessivos inquilinos da 5 de Outubro, que se contradiziam mutuamente. Os mesmos que agora colocam toda a culpa nos professores e a solução do problema na redefinição (esses sim) das carreiras dos professores. Nada disto abona a favor dos professores, do ministério, dos sindicatos, da opinião pública que tanto gosta de apontar o dedo não importa a quem desde que haja hipótese de achar um "bode expiatório" sobre o qual lançar as respectivas frustrações. Quem é que daqui sai bem? Não vejo...
~Isabel X -
A escola é o meu castelo, ou, recorrendo a uma imagem dos anos 60, o meu submarino – dizem os professores. E cantam:
"As we live a life of ease
Everyone of us has all we need
Sky of blue and sea of green
In our yellow submarine"
Transformaram os seus submarinos, as escolas, em bunkers. Recusam-se a perceber que há mudanças fulminantes a acontecer e julgavam que poderiam escapar-lhes.
Ei, acordem! A realidade (brutal) está aí, a assaltar os vossos queridos submarinos amarelinhos!
Caro professor SA: aí no seu bunker os livros até já foram subtituidos por dicionários, senão por prontuários. A palavra incógnito terá para si o mesmo significado que para toda a outra gente? Como consgue que não se aplique a si próprio?
Em suma: o rei vai nu e não se vê.
MT
Eu não sou professor nem funcionério público como todos sabem,mas MT, para prestar tais fretes públicos ao Governo e à Ministra,vive seguramente de um ordenado pago pelo erário público.Aposto singelo contra dobrado!
Mas desengane-se,consta que eles são ingratos e maus pagadores...
Meus Caros Professores. O que vos vou dizer acontece em todas as profissões e isto aplica-se sempre que queiramos chamar a nós determinadas competências. Devemos pensar antes de faze-lo, a responsabilidade última, depois nos serem dadas essas competências, é nossa, e não haverá Ministério nem Sindicatos que consiga limpar nossa imagem perante a Sociedade.
João Ramos Franco
Sou professor e estou preocupado com a gestão da minha carreira num sentido contrário ao que Paul Valéry dá à política «A política é a arte de impedir as pessoas de se meterem naquilo que lhes diz respeito.» Eu sei que não era isso que se esperava: que os professores tivessem opinião sobre a sua carreira; mas é assim e a democracia só tem de nos agradecer.
Mas move-nos primeiro a defesa da escola pública. Tenho um blogue com mais de 200 textos sobre o assunto. Passe a publicidade, convido os interessados a passarem por lá: www.correntes.blogs.sapo.pt.
Leio num comentário: "as questões que estão na ordem do dia, que mobilizam as energias e a criatividade dos professores, estão confinadas à gestão das suas carreiras" - isso é de uma brutal injustiça, pode crer. Bem sei que os professores têm dedicado um tempo inesperado à defesa da escola pública - as carreiras são apenas um importante instrumento - mas como já se provou, uma grande percentagem da culpa estava do lado do governo. O governo, a exemplo da democracia, só tinham de agradecer aos professores pelo esforço que tiveram de fazer para atenuar o efeito nefasto dos disparates que se sucederam. E não foi nada fácil: o isolamento inicial era assustador.
Abraço.
Paulo Prudêncio.
Venho aqui em apoio de MT.Se algumas inexactidões ortográficas surgem nos seus textos será seguramente culpa dos seus professores e não dela!
E sugerir-lhe-ia a exploração de alguns excelentes argumentos e opiniões dos que partilham os seus pontos de vista e que,seguramente por falta de tempo,ficaram omissos:
"Os professores são os inúteis mais bem pagos deste país" (Miguel Sousa Tavares); «quando se dá uma bolacha a um rato, ele a seguir quer um copo de leite!» (Jorge Pedreira, Auditório da Estalagem do Sado, 16/11/2008); «vocês [deputados do PS] estão a dar ouvidos a esses professorzecos» (Valter Lemos, Assembleia da República, 24/01/2008); «caso haja grande número de professores a abandonar o ensino, sempre se poderiam recrutar novos no Brasil» (Jorge Pedreira, Novembro/2008); “admito que perdi os professores, mas ganhei a opinião pública” (Maria de Lurdes Rodrigues, Junho/2008);
«[os professores são] arruaceiros, covardes, são como o esparguete (depois de esticados, partem), só são valentes quando estão em grupo!» (Margarida Moreira - DREN, Viana do Castelo, 28/11/2008).
Força MT,há aqui material para a sua cruzada,que ninguém a cale!
M.L.R.(Milu para os amigos,como você)
Bom dia ilustres concidadãos do meu país.
Lamento que continuem a atacar os professores. Que mal terão feito para merecer tanto desrespeito? Porque continuam a generalizar as más práticas de alguns professores e a meter tudo no mesmo saco? Será que só há menos bons profissionais na profissão docente?
Porque é que culpabilizam os professores pelo estado da educação? São eles, por acaso, que nos governam? São eles que, constantemente, alteram as políticas da educação?
Por que é que só vêem os horários e as férias dos professores? já repararam e já contabilizaram as horas que dedicam à preparação das aulas, à elaboração de materiais pedagógicos, à realização de testes e à sua correcção assim como das fichas e dos trabalhos dos alunos? Será que eles fazem isso na Escola? Não, na Escola dão aulas, têm até 8 turmas (cada turma tem, em média, 22,23 alunos), têm todo o trabalho, burocrático..., relacionado com as direcções de turma, contactam com os Pais e Enc. de Educação, fazem dezenas de reuniões com estes e com os seus parceiros, fazem exames e provas de recuperação, fazem actividades para e com os alunos e para a comunidade escolar, desdobram-se para colocar em estágio, nas empresas e noutros locais, todos os alunos dos cursos profissionais, orientam e acompanham esses alunos, muitas das vezes fora do seu horário de trabalho, gerem as escolas, etc., etc., etc.
Qual é a profissão que leva trabalho para casa? Muito poucas. É em casa, em detrimento do apoio que deviam dedicar aos filhos e à família, que planificam e preparam as suas aulas e que elaboram os materiais de apoio. É em casa que fazem e corrigem os testes, (imaginem corrigir 100 e mais testes, dependendo do nº de turmas), são horas e dias de trabalho, garanto-vos. É em casa que corrigem as fichas e os trabalhos dos alunos. Fins de semana inteiros sentados às secretárias.
Quem é que, muitas das vezes, apoia e ajuda a resolver os problemas dos alunos? Quem é que os conforta e lhes dá carinho? Porque é que a maior parte dos alunos gosta de estar na escola e dos seus professores?
Sim, é por eles que estamos na Escola. É por eles que nos dedicamos à Escola. É por eles que faz todo o sentido ser Professor! Este gosto ninguém nos tira!
Vamos reunir esforços e canalizar a nossa energia para ajudar a melhorar a nossa Escola. Vamos apoiar os seus principais protagonistas, os Alunos e os Professores.
Chega de malediscência!
Até sempre,
maria rodrigues.
A Escola autofágica.....
os professores à rasca pelo fim de uma certa escola....
a opinião pública incrédula
e a escola pública a agoniar....
apesar de tudo ela, a escola, vive....
JG
Leio: "os professores à rasca pelo fim de uma certa escola..."; francamente e muito sinceramente: que desfaçatez e que frase mais injusta. É preciso estar muito mal informado, se me permitem, para escrever uma coisa assim. No meio de 140 mil pessoas haverá profissionais menos dignos; claro que sim. Mas escrito assim, dum modo que se pode considerar generalista, não deixa de causar a mais profunda das tristezas, Pode crer. Mas já estamos habituados,
Abraço.
Paulo Prudêncio.
Paulo Prudêncio.
João Serra peço-te licença para deixar aqui umas palavras de esclarecimento, ao meu comentário que abriu este debate, que considero salutar, ao escrever para os Professores.
Existem dois princípios do qual não abdico, O Humanismo e o Conhecimento. Nas palavras que escrevi os dois estão lá. Vejamos, ” No Humanismo é imoral esperar que algo aja por nós. Temos poderes notáveis. Temos um alto grau de liberdade para escolher o que havemos de fazer. O humanismo diz-nos que não importa qual seja a nossa filosofia, a responsabilidade pelo tipo de mundo em que vivemos, em última análise, cabe a nós mesmos.”, no conhecimento, “A realidade entra no nosso quotidiano, necessariamente não é obrigatório alterar os valores do comportamento humanista, apenas actualizar o conhecimento, e ver o presente com a mente no futuro.”.
Quem está presente na Sociedade, como eu, respeitando o que acabo de citar, nunca estará contra os Professores, com eles aprendi e a eles me uno numa luta incessante pela actualização do conhecimento.
Meus caros Professores, se nas palavras “de um eterno estudante”, algo disse que fosse mal entendido, pensem que tenho presente em mim desde a luta de estudantil de 1959/61, um grito: “Livre acesso à Cultura”.
Um abraço, para o Paulo Prudêncio
João Ramos Franco
Esta amostra de polémica tem sido muito esclarecedora. Com duas excepções, os professores (?) que me combateram usaram os piores métodos da crítica: ataques pessoais, demagogia, torpezas. Os outros manipularam informação, confundindo situações presentes com o histórico da actual situação. O histórico da actual situação é claro: a contínua degradação da qualidade da escola pública, perante a apatia, a indiferença ou a conivência da maioria dos professores e dos seus sindicatos. Foi assim que chegamos aqui. Nesta luta talvez errada entre professores e Governo, se a desobedência civil daqueles vencer, nas próximas décadas não haverá reforma da escola pública. Porque a reforma das escolas ou se faz de fora para dentro ou não se faz. Objectivamente, a principal força de bloqueio à mudança do sistema de ensino reside hoje nos professores.
MT
Li o seguinte comentário do João Ramos Franco: "Meus caros Professores, se nas palavras “de um eterno estudante”, algo disse que fosse mal entendido, pensem que tenho presente em mim desde a luta de estudantil de 1959/61, um grito: “Livre acesso à Cultura”.
Um abraço, para o Paulo Prudêncio"
Meu caro João Ramos Franco (pessoa que apenas "ciberconheço" através da presença neste espaço): Não vi nas suas palavras qualquer "mal entendido", nem sequer algo que se pareça com isso. Leio sempre, e registo, nas suas palavras uma significativa elevação democrática: sei que será também assim quando tivermos de discordar. Retribuo-lhe o abraço com toda a estima e consideração.
Paulo Prudêncio
Enviar um comentário