A comitiva saiu de Alcobaça em direcção à Pederneira, Nazaré, Alfeizerão, chegando às Caldas ao anoitecer.
A descrição da vila e do seu hospital, por motivos que os leitores não precisam que sublinhe, tem merecido pouca atenção da parte dos historiadores locais.
A alguma distância vimos um castelo mouro, de grandes dimensões, que se elevava orgulhosamente num monte isolado; o seu nome também é grande: Alfeizerão. Este belo monumento, a quietude e os tons suaves do entardecer, o perfume das lupulinas, era tudo tão agradável que não podíamos deixar de lamentar a nossa chegada às Caldas ainda com luz suficiente para distinguir toda a sua fealdade: as suas casas insípidas e monótonas, com grosseiras persianas verdes e portadas que o vento poeirento fazia bater para lá e para cá; e as suas pesadas varandas, pintalgadas a ocre, e listradas aqui e ali a azul e vermelho, formando padrões dignos de Tombuctu ou Achanti.
A meu ver, toda esta famosa caldeira tinha um aspecto malsão e pouco atractivo. Quase em cada três ou quatro pessoas, encontra-se um apotecário cor de marmelo, ataviado como um cortesão a caminho da sala de audiências e transportando num pequeno saco de veludo uma série de instrumentos úteis, tão pomposo como um lorde chanceler. E em cada dez ou doze, encontra-se um doente reumático ou entrevado com os membros todos torcidos e a boca torta, levado a banhos numa cadeira. Quase não se podia dar um passo sem bater com a cabeça na volumosa peruca de um professor de medicina e sem ouvir o tremendo batuque da sua bengala de punho de ouro.
William Beckford, Op cit. p. 94.
1 comentário:
Pelo que leio, neste documento dos finais do século XVIII e o conhecimento que tenho discrições de Caldas da Rainha em meados do Século XIX, tenho uma enorme falta informação do que se passou durante 50 anos de historia da Cidade.
Onde posso encontrar a Historia destes 50 anos?
João Ramos Franco
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