João Martins Pereira, que faleceu em Novembro passado, foi um dos intelectuais portugueses que mais influenciou as correntes críticas da esquerda depois de 1969. A sua obra Pensar Portugal Hoje, publicada em 1971, foi um marco. Ali se recolhiam artigos escritos para a revista O Tempo e o Modo, a cuja 2ª série esteve associado. Num deles procedia João Martins Pereira à identificação das condições em que o capitalismo português fazia o caminho da aproximação europeia, apontando as contradições e impasses a que estava sujeito. Havia um rigor que não sacrificava inquietação, uma capacidade de análise invulgar que não se enquadrava nas ortodoxias dominantes e se afastava das vulgatas marxistas.
Conheci-o pessoalmente mais tarde, na Gazeta da Semana e na Gazeta do Mês, duas publicações que se singularizaram não apenas pela competência dos jornalistas que nelas colaboraram (Jorge Almeida Fernandes, Adelino Gomes, Joaquim Furtado, por exemplo), como pela inovação do design e da ilustração (João Botelho, Zé D'Almeida). Na Gazeta da Semana (1976) tive uma colaboração regular, com Eduarda Dionísio, abordando temas de política de ensino e de política sindical. Na Gazeta do Mês (1980) publiquei um ensaio sobre "Política e a História", em conjunto com José Manuel Sobral.
Entre os diversos livros de João Martins Pereira destaco principalmente O Dito e o Feito. Cadernos, 1984-1987, Lisboa, Salamandra, 1989, um texto de rara finura que se tece da reflexão diarística sobre a vida, as ideias, as pessoas e as cidades.
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