Ao calcorrear o casco velho de Guimarães, não será necessário ouvir um paso doble em música de fundo para suscitar a impressão moral de se estar a percorrer um centro histórico espanhol. A comparação é legítima se analisarmos a semelhança dos factos e acontecimentos urbanos que se desnudam sucessivamente à medida da desmultiplicação dos percursos, com articular desempenho dos monumentos e da animação do espaço público. Um concerto de música clássica numa rua da Cidade Histórica de Santiago de Compostela (em tarde de Primavera), ou um espectáculo de música contemporânea numa rua do Centro Histórico de Guimarães (em noite de Verão) parecem exemplificar a padronização das respectivas semânticas dos lugares.
No Centro Histórico de Guimarães, à semelhança do espaço urbano representativo aqui retratado, a coexistência de várias tipologias funcionais (habitação, equipamento e comércio), concretiza no território a operacionalidade de uma gama diversificada de movimentos, comportamentos e actividades.
A habitação é sobretudo caracterizada pela manutenção da população originária. Os equipamentos encerram várias valências (educativa, sociocultural, turística e religiosa) e escalas distintas (de apoio à função habitacional local e de âmbito concelhio). O comércio de cariz tradicional é vocacionado, tanto para a população residente, como para a população exterior ao núcleo histórico. As referidas funções, embora operando no edificado, acabam por reflectir-se no espaço público, democratizando-o, tornando-o simultaneamente num forum doméstico e num espaço ágora (sem dominância de significado) e consolidando singularidades face a outras partes da cidade. Por esses e outros factos, será inteiramente justo que ao centro histórico se atribua a designação de jóia da coroa.
Ter-se-á dito que Guimarães é a cidade que tem uma sé e não tem bispo; tem uma ponte e não tem rio; tem um castelo e não tem rei (Luis Paulo Rodrigues citado por Óscar Pires em "Em busca da identidade perdida", Público, 15 de Fevereiro de 1995), mas tem um centro histórico que tem alma.
António Leite Ramalho, Urbanismo. Retratos Urbanos. Póvoa de Varzim, Câmara Municipal, 2004. p.116-117.
domingo, 12 de setembro de 2010
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1 comentário:
É interessante este texto Prof. João Serra, e que vos peço, permissão para a questão de todo gosto, reconhecendo a qual não me caiba, “mas, ao deparar com a imagem “Guimarães” Portugal nasceu aqui” tal força, rendeu um sentimento, e que não me pertence. E, na prudência do turismo português mundo a fora, como apresentação, pelo mesmo tom de prudência, surge o comentário.
Primeiro – Se existe uma “semântica” existe um padrão. E todo padrão, antecede uma busca. Guimarães tem vocação de destinar-se ao que ainda não satisfez sua necessidade.
– Ora, mas isso, todos o sabem. Diriam.
Pois, até então, quem soubera se Guimarães tivera “alma” e, se quer citado, de forma a fundamentar a questão? Certamente por viés de importância e seriedade bem poucos, embora esforços ao anseio dessa alma, os quais se façam justiça de tais votos, sensivelmente apontado pelo Sr. Antônio Leite Ramalho, que endossa através da ágora, que segundo o francês Jean Pierre Vernant “um pensamento novo procura estabelecer a ordem do mundo em relações de simetria equilíbrio e diversos elementos que compões seu espaço”.
E por, Segundo, ao que cita na “impressão moral” talvez, um peso arraste corrente, como a existência da “ponte sobre um rio sem água”. Ao que tange a reentrância da virtude cardinal para o anseio desta alma, faz sentido.
No limite de palavras que não caracterizem de vos uma ofensa, mas, detalhes.
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