Se há desporto que, aparentemente, atrai muitos de nós é a crítica aos "costumes" dos "portugueses". De certo modo, todos nos consideramos especialistas em "portugueses", uma categoria singular de seres originários de um pequeno território denominado Portugal. Em Portugal tudo muda - a demografia, o clima, o eco-sistema, a mobilidade, a paisagem social, a estrutura da economia e a organização política - menos os "portugueses". O atavismo é proverbial. Tanto quanto podemos recuar no tempo - lusitanos, celtas, povos que até desconheciam o nome "Portugal" - lá detectamos inalterados "defeitos" de carácter ou de comportamento, as mesmas "falhas" na vontade ou na inteligência, os mesmos "erros" de entendimento e de atitude. Não há nada a fazer quanto aos "portugueses": as continuidades abafam as rupturas, do fundo da caverna de Platão, a verdade recusa render-se à aparência. Nesta parecemos outros. Mas na realidade somos os mesmos. Sempre os mesmos.
José Manuel Fernandes, oráculo conhecido, no Público de hoje:
"Quarenta anos depois da morte de Salazar, o país que o aturou pacatamente mudou muito - mas sobretudo à superfície. Salazar já pertence à história, mas os defeitos portugueses que autorizaram o salazarismo continuam a apoquentar-nos. Todos os dias".
sexta-feira, 24 de setembro de 2010
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2 comentários:
Agradeço-lhe muito este post, João.
De Salazar e de Zé Povinho (salvas as devidas diferenças, claro...) alguns "especialistas" (de nada e de coisa nenhuma) não nos deixam livrar.
Como se fosse uma espécie de "praga recorrente" de que se munem para, arrogantemente, se colocarem a si mesmos acima do comum dos mortais portugueses, eles que são tão portugueses e mortais como os outros, sobre quem lançam tão insustentáveis sentenças.
É a tal questão de ser mais fácil colocar uma etiqueta que se lê e relê até à exaustão, do que analisar com algum critério e rigor realidade da coisa (em si) com que nos deparamos.
E assim se decalca a "opinião pública" sobre a "opinião publicada" por estas cabeças pensantes que tudo fazem excepto pensar.
A ausência de mudança de fundo sendo ela visível à superfície é pura e simplesmente uma impossibilidade.
Nada vem (de novo) à superfície que não corresponda a uma mudança de fundo.
- Isabel X -
É muito sensato e corajoso o espaço para este comentário, e respira algo necessário ao anseio dos portugueses. Interessante, ninguém ousa palavras...
Seria porque, há dificuldade ao conteúdo da gestão individual que resulta no conjunto das acções? Arrisco uma palavra, entre tantas. Apenas, comparando o Mediterrâneo ao anel de fogo do Pacífico, onde as placas tectônicas encontram-se. A pressão nesses países tem uma semelhança violentos ou não “todos batem boca a seu modo”. Talvez, milenar característica do comércio, onde cada qual queira vender seu peixe. “Discussões”, o que nem sempre gera o entendimento. E para melhor compreensão, a exemplo os países nórdicos, que amanhecem e anoitecem em cima do gelo, cuja produtividade é baixa, a instrução é muita, e resignados, entendem-se falando pouco, admirando as poucas virtudes, orgulhando de seus poucos sucessos, aparecendo pouco, e discutindo baixinho, baixinho... E admirando qualquer exercício para o bem de todos.
Mas, afinal e o costume dos portugueses? Os portugueses são como são! Cheios de mimos em sua história, então a vida fica complicada, a cobrança fica acirrada, para manter o ritmo que ilustra seu nome e que comporte a satisfação de seus dias.
Apenas uma ressalva: Enquanto Salazar estava no poder, no mundo haviam outros Salazares, era o momento dos Salazares, uns melhores, e outros piores que próprio.
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