quinta-feira, 13 de janeiro de 2011
Recordação
"Uma recordação é uma coisa que se tem ou uma coisa que se perdeu?" - pergunta a si própria Marion (Gena Rowlands) na derradeira cena do filme "Another Woman" de Woody Allen.
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4 comentários:
Boa pergunta! Mais interessante (claro), mas que coloca em alternativa algo do género da dúvida sobre "o copo meio cheio" ou "o copo meio vazio".
Para os optimistas "é uma coisa que se tem"; para os pessimistas "uma coisa que se perdeu".
Provavelmente, em ambas as respostas há equívoco. Só não há na formulação da questão e na reflexão por ela suscitada.
Segundo Jorge Luís Borges, o esquecimento é uma forma de memória (a mais completa?).
- Isabel X -
Vejo agora que também eu parti de um equívoco no comentário anterior: a ideia de que uma recordação é em si mesma positiva.
Na verdade, penso que a memória se faz tanto de recordações como de esquecimentos, e que o impacto destes últimos é (provavelmente) maior. Tal como, muitas vezes, as ausências são mais marcantes do que as presenças.
Citando um livro que tenho vindo a ler sobre Juan Muñoz, num texto que se refere à sua obra "The Prompter" (O Ponto), que o artista concebeu como uma "casa da memória": "Muñoz foi cativado pela ideia, colhida ao mesmo tempo em Borges e em Benjamin (e em Proust), de que o esquecimento é uma forma de memória, já que o restante é um trabalho deliberado e consciente da nossa inteligência."
- Michael Wood, "Sob o Duplo Vínculo" in Juan Muñoz Uma Retrospectiva, 2008, Porto, Fundação de Serralves (p.108/109)
- Isabel X -
Isabel X, o seu primeiro comentário é inspirador, agradeço e dedico a você pela sensatez e clareza para reflexão... Com base neste surge a "recordação do absurdo" e o "absurdo da recordação" por sua exposição da perfeição do meio...
Dos Meios
No absurdo, há um rastro que se tome
Desta porção do indizível
Se na parcela do reversível
Traga luz ao teu nome.
Ao sacrifício de tantos rumos
Que tuas pegadas, consome
Quer ser possível esta saudade
De saudade não se abandone.
Equivale ao peso da água
Quando um deserto à retome
E dos rastros que evaporam
Levam consigo teu nome.
Equivale ao poder do fogo
Qual ardência desta fome
e se restam cinzas do tempo
Levam consigo teu nome.
Então, celebras este infinito
Com arabescos em pedras pome
E revelas com o vento
Uma saudade que se dome.
São vestígios do impossível
Só visível em verdades
E se desta há saudade
É da piedade em teu nome.
Fico-lhe muito grata, Cláudia!
Um beijinho,
- Isabel X -
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